Slender Man não passa de um filme batido e imbecil
Em tempos que o terror é redescoberto, com A Bruxa, Hereditário e O Lamento, além de O Animal Cordial e As Boas Maneiras no Brasil, produtos como esse Slender Man: Pesadelo Sem Rosto (Slender Man) são um desserviço. Porque se esses filmes citados provam que o gênero pode ser revistado de maneiras diferentes, vemos aqui mais uma reciclagem genérica com adolescentes idiotas e sustos fáceis. Com o agravante de um roteiro risível e uma direção patética.
O longa acompanha um grupo de quatro jovens que, em uma noite monótona, decidem ver um vídeo que acaba conjurando o terrível Slender Man, um ser sobrenatural que enlouquece suas vítimas e as leva para algum lugar misterioso. Claro que, já que armaram o problema, precisam achar um jeito de se livrar da maldição antes que seja tarde demais.
O Slender Man surgiu como um meme da internet em 2009. O caso foi abordado no documentário da HBO, Beware The Slender Man (2016), relatando como a brincadeira afetou psicologicamente duas meninas de 12 anos. Mas o que esse longa quer é ir para o mesmo lugar comum e sem graça de qualquer filme de terror cretino: o monstro aparece para apavorar adolescentes burros e só. Não há desenvolvimento algum na figura do monstro e os conceitos por trás dela.
Aliás, seria muita boa vontade dizer que há alguma coisa nesse roteiro escrito por David Birke (surpreendentemente, o mesmo do excelente Elle). Talvez um dos piores em se tratando de terror, pois falha em tudo. A história vai para todos os lados, com protagonistas seguindo o estereótipo moderno do adolescente: burras, apáticas e escandalosas. Os diálogos são elementos que assustam mais que o próprio Slender Man, parecendo escritos por umas das garotas da trama. Uma das falas afirma que a entidade invade sua cabeça como um vírus invade um HD, dito exatamente assim.
É de se questionar a sanidade de Birke, que devia precisar muito de dinheiro naquele momento para assinar algo assim, e – principalmente – da galera do estúdio que aprovou esse texto. É um roteiro que merece ser estudado em aulas sobre como passar vergonha.
Festival da incompetência: Errando no básico
Com certeza a pior coisa do filme é a direção de Sylvain White. Apesar da experiência em séries de TV como The Americans, Hawaii Five-O e Máquina Mortífera, algo de errado aconteceu por aqui, pois ele está mais perdido que cego na guerra. Nos primeiros cinco minutos de projeção, percebe-se que o diretor não tem a menor noção do que está fazendo, sem ter ideia de como filmar uma conversa de maneira decente. Parece que simplesmente posiciona a câmera para o ângulo mais bonito, mas não consegue nem criar um plano esteticamente aceitável ou interessante. A fotografia de Luca Del Puppo não tem coerência visual, chutando para todos os lados sem acertar.
Mas White tem dois fracassos mais evidentes: criar um clima constante de suspense e terror e o seu trabalho com o elenco. O primeiro porque todos os sustos do filme são previsíveis ou erram no timing. Para ocorrer o susto, é preciso uma atmosfera para que o espectador sinta isso na hora certa. Slender Man erra pelo fato de que, em todos os ataques do monstro, há a repetição dos mesmos truques: o som da madeira quebrada indicando que ele está perto; ângulos esquisitos e uma trilha irritante (O que aconteceu, Ramin Djwadi?). Parece que o diretor não entendeu o básico. Se não funciona na primeira, não vai rolar na quinta vez.
Agora o outro ponto onde o longa erra com gosto: as atuações. Não basta as personagens serem irritantes e estúpidas, mas as atrizes conseguiram mostrar seu pior. Na verdade, todo mundo no elenco está ruim, mas o grupo de protagonistas se supera. Além de não haver química, todas são inexpressivas e irritantes. Com destaque para Julia Goldani Telles, que nos faz questionar sua opção profissional. É até cruel exigir muito de uma atriz jovem e iniciante, mas Telles não funciona de maneira alguma. Pode acontecer o pior na frente dela sem que sua expressão de sonsa e voz enjoada mudem. Ficamos na torcida para que o monstro realmente mate esse grupo.
Enfim, Slender Man: Pesadelo Sem Rosto é um dos piores – senão o pior – filmes do ano. Nada se salva e existem trabalhos de faculdade mais bem feitos que ele. Além do retrocesso no gênero, veio atrasado na onda no monstro. Um típico desserviço ao próprio Cinema.