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Escobar: A Traição – Notícia velha!

Redundância define o filme Escobar: A Traição

Depois do barulho em torno da série Narcos, entre outras iniciativas similares, o filme Escobar: A Traição (Loving Pablo)  traz MAIS UMA VEZ a história do rei do tráfico colombiano Pablo Escobar Gavíria (Javier Bardem, visto recentemente em Mãe!). Desta vez, pela visão de Virgínia Vallejo (Penélope Cruz, de Assassinato no Expresso do Oriente), proeminente jornalista/apresentadora colombiana dos anos 90 e que teve um caso com o traficante. Ela o acompanha em sua trajetória de crime até o momento em que participa de sua queda, envolvendo-se com o agente americano Shepard, vivido por Peter Sarsgaard (o vilão do remake de Sete Homens e Um Destino).

Crítica do filme Escobar: A Traição

Assunto manjado? Com certeza, mas uma das formas que o cinema busca para apresentar uma história já conhecida é o ponto de vista de um personagem periférico no ambiente em questão. Porém, é preciso lembrar que, para esse tipo de narrativa funcionar, um protagonista não pode ser apenas uma testemunha ou um narrador. É nisso que já começam os problemas deste filme. A figura da jornalista está ali apenas para contextualizar verbalmente o esquema do tráfico de drogas de Pablo.

O roteiro escrito pelo diretor Fernando León de Aranoa, a partir do livro da própria Virgínia, usa a personagem como “explicadora” durante grande parte da história. Apesar de acrescentar informações sobre o tráfico, a locução simplesmente não traz nada sobre ela mesma.O arco da personagem é engolido pelo do traficante. Parece que isso é até comum, pois em Narcos já havia acontecido o mesmo. A impressão é que a maior preocupação do roteiro é “limpar a barra” da repórter, mostrando que ela nunca participa realmente do reinado de terror de Escobar.

A personagem não tem qualquer papel de importância no contexto do filme. Ela é um arquétipo conhecido no cinema como “a donzela”. Uma mulher que não amadurece e que não consegue perceber o perigo à sua volta. Quase nada para alguém que deveria ter mais peso na trama. Nem mesmo o agente Shepard traz uma ação relevante ou nova ao filme.

O filme irrita um pouco pela quantidade de informações que é passada através da narração. Dá um tom documental apenas salpicado pelas cenas dramáticas. Em nenhum momento temos a chance de nos conectar com a protagonista, já que ela fica sempre à sombra e tem uma postura infantilizada e conflitos superficiais.

Virgínia não faz nada que gere conexão com o público na primeira metade do filme, sendo esquecida por quase metade do segundo ato. Sua única ação relevante no terceiro ato já é entregue pelo título escolhido para o Brasil. Aliás, o título nacional faz muito mais sentido por ressaltar que o filme fala sobre Pablo. O amor que o título original sugere, Loving Pablo, nunca é realmente apresentado.

Crítica do filme Escobar: A Traição

Tem seu valor técnico

A direção é bastante competente, mas, sem uma nova perspectiva, parece apenas que vemos outra vez as mesmas coisas que já vimos na já citada série da Netflix ou em Escobar: Paraíso Perdido, estrelado por outro ícone latino, Benício del Toro. As atuações são boas e tanto Penélope Cruz quanto Javier Bardem se entregam bastante  aos seus papéis, inclusive nos sotaques bastante próximos ao paisa colombiano. O problema definitivamente não foi esse.

Escobar: A Traição deixa a desejar pelo desperdício de um belo elenco e da produção bastante meticulosa que apresenta. No final das contas, não traz nada que realmente justifique revisitar algo tão explorado num passado tão recente. Uma pena, pois, se lançado há alguns anos antes, teríamos algo classificável como um bom filme, pelo menos. Talvez seu maior problema seja mesmo a perda do timing. Chegou tarde e com um material que todo mundo já conhece.

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