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Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e outros contos

A coletânea Rosto de Caveira traz um lado menos conhecido de Robert E. Howard

Os fãs de Robert E. Howard sabem que chega a ser uma injustiça que ele seja mais lembrado por sua criação de maior sucesso. E um sucesso póstumo, na verdade, já que Conan surgiu em 1932, apenas quatro anos antes de seu suicídio. No momento em que o bárbaro cimério nasceu, Howard já tinha uma obra vasta, incluindo aí os dois trabalhos que nomeiam nossa coletânea em questão: Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e Outros Contos.

Compre clicando na imagemResenha de Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e Outros Contos

Já em circulação há alguns anos, graças à editora Martin Claret, o livro reúne escritos do autor que misturam doses de aventura, terror, mistério e até o bom e velho clima de Espada & Feitiçaria. Rosto de Caveira (Skull Face) estreou ainda no fim da década de 1920 e é a narrativa mais longa, com capítulos que ocupam mais da metade deste volume de cerca de 300 páginas. Os apreciadores do estilo ágil da literatura pulp tem uma diversão e tanto neste segmento.

O autor mostra influências de Sax Rohmer e seu Fu Manchu na criação de seu vilão, que dá título a esta novela. O tal Rosto de Caveira é um gênio do Mal que vem de tempos imemoriais, possivelmente de uma cultura que Howard trabalhou em Kull da Atlântida. Existem os heróis da ocasião que precisarão detê-lo, é claro, o que cria um ar bem nostálgico para o leitor de hoje.

É maravilhoso analisar isso com o espírito da época em que foi escrito. Os mistérios do oriente e a cultura egípcia como sinônimo de artes arcanas e maldições ancestrais podem parecer clichês hoje, mas a contextualização é necessária. Com isso em mente, é fácil embarcar na aventura.

Além da influência de Rohmer, Edgar Allan Poe e Arthur Machen, entre outros, também são sentidos nos contos seguintes. A versatilidade de Robert E. Howard se confirma para quem ainda tinha dúvidas sobre seu valor, com textos que lidam com lobisomens, magia africana e outros tópicos mais difíceis de definir. São mais seis contos até chegarmos naquele que, na humilde opinião de quem vos escreve, é a grande estrela da edição.

Resenha de Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e Outros Contos

Ilustração da capa de uma antiga edição de Skull Face.

Os Filhos da Noite mantém seu frescor após tantas décadas

Ainda que seja referência no segmento de Fantasia denominado Espada & Feitiçaria, Howard também é um dos pilares do Horror Cósmico, junto com H. P. Lovecraft e Clark Ashton-Smith. E é ainda mais impressionante que ele consiga dar um toque aventuresco e movimentado neste conto de 1931, chamado Os Filhos da Noite (The Children Of The Night).

Fazendo uso de uma metalinguagem que ancora seu ponto de partida no mundo real, onde Lovecraft, Machen e outros são citados nominalmente, ele ainda contribuiu para os mitos de Cthulhu. Bran Mak Morn, outro de seus personagens, é citado e a narrativa consegue unir de forma magistral as características do Horror Cósmico com a violência visceral de uma aventura com guerreiros bárbaros.

É um belo registro do “barbarismo filosófico”, onde é perceptível a entrega do autor. Obviamente, existem detalhes polêmicos e que valem a reflexão à luz dos dias atuais, denotando algo de xenofóbico no texto. Os mais informados sabem que Robert E. Howard não é o único escritor do começo do século XX a sofrer deste mal (até porque, existem diversos casos mais gritantes que o dele), mas novamente é preciso ressaltar a necessidade da contextualização na hora de avaliar a obra.

Fundamental para qualquer interessado em Literatura Fantástica, a coletânea da Martin Claret é uma iniciativa respeitável. Pena que peca na revisão em alguns momentos, além de deslizes que demonstram pouco conhecimento dos editores sobre o material que tem em mãos. A mini biografia de Robert E. Howard na orelha do livro pode provocar uma síncope nos admiradores do escritor.

Mesmo assim, Rosto de Caveira, Os Filhos da Noite e Outros Contos é uma excelente adição para qualquer estante. Conhecer o lado B de qualquer autor já é bem estimulante, mas quando se trata de alguém tão diferenciado, são verdadeiros tesouros que esperam ser descobertos.

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