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O Jovem Oficial – Filosofia em alto-mar!

Ao dar margem a muitos significados, O Jovem Oficial conquista o leitor logo nas primeiras páginas

Alguém observando a imensidão do oceano. Se há uma imagem que permite mil significados, essa é uma das mais conhecidas. Isso porque olhar o mar pode ser lugar de aconchego ou rota de fuga. Um descanso merecido ou uma solidão forçada. A vastidão de sentimentos que essa cena produz é semelhante ao que sentimos ao chegarmos a última página de O Jovem Oficial, do filósofo francês Michel Henry. Com uma carreira voltada para a fenomenologia, o autor já impressiona nesse romance de estreia, na forma e, especialmente, no conteúdo.

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Sem divisão em capítulos, O Jovem Oficial apresenta seu protagonista já embarcado em sua primeira grande viagem como marinheiro. Suas observações sobre os colegas de trabalho deixam claro que estamos diante de um homem com uma sensibilidade única, capaz de encontrar explicações em detalhes aparentemente banais. Quando o leitor já está envolvido pelo modo peculiar de enxergar a vida do narrador que surge a ordem que vai movimentar o resto da trama. O comandante, simpático e misterioso em doses semelhantes, incumbe o rapaz de dar fim a população de ratos que assola o navio. Os roedores que circulam pelos porões e outros cantos escuros da embarcação não são uma novidade. Muitos antes dele tiveram a tarefa de eliminá-los, todos sem sucesso.

Uma ordem de um superior deve ser cumprida, mas o nosso jovem oficial da Marinha não se contenta apenas em executar com maestria o que lhe foi exigido. São parágrafos e parágrafos de indagações e algumas trocas de ideias com outros tripulantes que preenchem seus dias. Se a distração do leitor for grande, pode ser apenas centenas de frases contendo ideias demais e execução de menos. Ação é o que menos importa em O Jovem Oficial. Mas se nos desprendermos do cotidiano que nos cerca e levarmos cada frase mais além, percebemos que os ratos, os venenos, o mar e as noites no convés escondem mistérios. Mistérios estes que mudam de sentido se nos demorarmos mais que alguns segundos em cada palavra.

Desejo sem nome

Não conseguir dar uma única resposta para qual é o tema central do livro é muito comum. Se não ter um assunto fixo afasta alguns leitores, também conquista os curiosos incuráveis. O Jovem Oficial é daquelas obras que devemos voltar a visitar de tempos em tempos, pois teremos diante dos olhos um novo romance, uma nova atmosfera. Nossa bagagem cultural, nossas viagens, as pessoas que passaram pela nossa vida são alguns dos ingredientes para que a leitura aconteça. Michel Henry tem o poder, talvez advindo de sua trajetória como filósofo, de permitir que cada leitor dê o seu significado para a infestação de ratos e a busca do marinheiro por sua destruição.

Resenha do livro O Jovem Oficial

Não existe certo e errado, nem uma intenção em jogo. São todas as intenções. E também nenhuma. Confuso? É preciso ler para esclarecer. No entanto, a inquietude na escrita do autor tem bem clara sua fonte. É impossível não lembrar de Moby Dick, de Herman Melville ou mesmo de algumas passagens do inesquecível Corto Maltese, de Hugo Pratt. Livros e quadrinhos que cheiram a maresia e oferecem um balanço típico dos que estão em alto mar. Um ritmo próprio, que soa como fantasia até mesmo nas descrições mais simples da rotina de um navio.

Diferente de seus colegas de escola filosófica francesa, também aventureiros na literatura, Simone de Beauvoir e Albert Camus, Michel Henry tem uma escrita escancaradamente sedutora. Não que seus parceiros citados não tenham sido bons no que faziam, longe disso. Mas Henry conduz o leitor sem esquecer de acalentá-lo, sempre fortalecendo os laços e tornando difícil a tarefa de deixar a página seguinte para outro dia. O assuntos dos ratos sempre interrompe algum pensamento mais profundo, e isso nos incomoda e também provoca. Desejamos seguir adiante, sem esquecer dos ratos. Não sabemos porquê.

E é essa eterna dúvida, esse eterno desafio de encarar os ratos em nossos porões que faz de O Jovem Oficial uma leitura obrigatória. Incômoda, mas também delirante no melhor dos sentidos. Uma agitação em diferentes intensidades a cada palavra. E assim seguimos. Afinal, mar calmo nunca fez bom marinheiro.

 

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