... o dragão se aproxima. A lâmina brilhante de sua espada corta o ar sem efeito algum. A fera lança uma labareda de fogo contra seu escudo. De repente, saindo dos dedos do mago, um relâmpago vai de encontro à criatura, deixando-a atordoada.
Você enfrentará esse desafio ou deixará que o dragão fique com todos os tesouros?
Essa era a frase trazida pela primeira edição de D&D em português, vindo em uma caixa como um jogo de tabuleiro e foi lançado pela Grow há mais de 22 anos.
Uma breve história:
Dungeons & Dragons da Grow era a primeira versão do jogo desenvolvido originalmente por Gary Gygax e Dave Arneson, este publicado pela TSE em 1974, desde então ganhando diversas edições e tornando-se um dos RPG’s de mesa mais jogados do mundo. Entre estas edições estão:
Advanced Dungeons & Dragons (1977): O famoso AD&D, que também veio ao Brasil nas bancas de jornais como um kit iniciante – o First Quest com um CD. Lembram?
Advanced Dungeons & Dragons 2º Edição (1989): Já sem a participação de Gary Gygax, com a adição de mecânicas mais complexas.
Dungeons & Dragons 3º Edição (2000): Lançada após a aquisição da TSE pela Wizard of the Coast e maior reformulação do jogo até então. Foi amplamente aceita, iniciando milhares de jogadores no mundo épico das fantasias medievais, graças ao seu sistema e mecânicas mais simples e divertidas.
Dungeons & Dragons 3.5 (2003): Dado o grande número de regras e suplementos, foi lançada como uma versão melhorada e revisada da 3º Edição.
Dungeons & Dragons 4º Edição (2008): Após um longo período de crise no cenário RPGistico, o D&D 4º foi a tentativa da Wizards of the Coast de introduzir um novo sistema para atrair o público jovem da época. Construído com inúmeras mudanças em relação ao seu antecessor, ele se apoiava em táticas e poderes, sofrendo influência dos grandes jogos e MMO’s da época.
E finalmente:
Dungeons & Dragons 5º Edição (2014), o qual nos profundaremos!
Ufa! Parecia que não acabava mais, e realmente não acabou. São muitas versões do mesmo jogo e uma trajetória de anos e anos, e ainda assim foram excluídos desta lista as versões oficiais das edições menos conhecidas. Não pense que são poucas! Pelo menos 5 outras edições marcam e contribuem para a evolução lendária deste RPG.
Senta que lá vem a resenha…
Após celebrar 42 anos de aniversário, sendo o livro mais vendido da Amazon em seu dia de lançamento, 2 anos depois do lançamento de sua 5º Edição, em Agosto de 2014, muitos jogadores já rolaram seus dados ou abanaram seus escudos de mestre em aprovação à Wizard of the Coast. Por que isso acontece? O que está por trás da enorme aceitação desta edição para jogadores novos e antigos?
Para falarmos disso, primeiro temos que voltar um pouco no tempo e olhar o início do projeto desta 5º Edição, chamada D&D Next. Cansada, e talvez um pouco abalada, pela a pouca aceitação de jogadores antigos em sua ultima edição, a Wizard – deixando Mike Mearls como designer principal – focou seus esforços em tornar o jogo rápido, flexível e fácil de jogar. E assim nasceu o projeto D&D Next, que – com seu playtest – reuniu opiniões e críticas de 175 mil jogadores durante seus 18 meses de atuação, sofrendo várias modificações, ajudando assim a moldar a 5º edição para tornar-se o maravilhoso jogo que temos hoje. Isso tudo sem contar a ação da Wizard no D&D Adventures League, onde uma série de programas interconectados de jogos de RPG de Dungeons & Dragons rolam em uma linha de tempo de Forgotten Realms, com eventos oficiais em suas lojas onde existem diferentes formatos de sessões.
Mas como agradar a gregos e troianos?
Uma tarefa nada fácil. Por um lado, os jogadores hardcore queriam a volta dos recursos e complexidade das antigas edições, enquanto os novos ou iniciantes queriam algo simples e rápido. Hummm… O jeito de fazer isso foi uma daquelas idéias que são seguidas de um “por que diabos nunca fiz isso antes?”. Liberdade e Flexibilidade. A 5º Edição se foca apenas nas regras básicas do jogo, com uma mecânica simples e objetiva, trazendo um material sem todo aquele costumeiro recheio repleto de tabelas, as quais o veteranos lambiam os beiços e os novatos torciam a boca. Caso queira algo a mais, use o de sua edição favorita. Dada a simplicidade desta edição, qualquer adaptação se torna fácil e rápida de empreender. Por outro lado, ela também pode ser jogada apenas com seus livros básicos, não muito presa ao fatores de regras.
O que o jogo ganha com isso? Na mão dos mestres, voltando à cadeira de contadores de história, isso traz maior interpretação à mesa, coisa sempre arduamente criticada no modelo do RPG. A própria edição conta com campos “background”, “trait”, “ideals” e “flaws” na criação de personagens, que ajuda os jogadores a chegar em uma definição melhor dos personagens, incentivando a evitar a construção de moedores de carne ou bazucas de bolas de fogo.Tudo feito de uma forma interessante e fácil de entender, com suas mecânicas tornando mais básicas o sistema de vantagem e desvantagem. Não é para menos que o D&D 5º Edição recebeu em 2015 o maior prêmio de jogos de RPG, o Origin Award, tido como o Oscar do RPG. O Player’s Handbook alcançou a premiação de Melhor Jogo de RPG (Best Roleplaying Game) e o Monster Manual o de melhor suplemento.
Para o mestre, a edição se torna uma ferramenta extremamente útil, por ser muito balanceada e construída para dificultar combos e otimização de personagens. Não que isso seja impossível, mas dá uma chance justa aos jogadores que se interessam pela interpretação e não no sistema. Tudo com reflexo em um sistema de recompensa, chamado inspiração, o qual o mestre e os próprios jogadores podem distribuir pontos uns aos outros por interpretações dignas e notáveis, de acordo com o contexto de cada personagem. Isso faz ser mais fácil a definição de limites da conduta de cada personagem, tornando mais claro para o mestre a mentalidade daquela persona.
Os monstros também sofreram algumas mudanças. Como o covil de um poderoso dragão poderia ser? O livro dos monstros traz algumas informações e também dá um ar sobrenatural ao ambiente, já que ele pode até acabar lutando a favor de seu morador.
Apenas isso? Regras e regras? Claro que não! O cuidado da Wizard foi tanto que ela (me desculpem Krusk, Gimble, Jozan e outros, mas vocês não tiveram chance…) incluiu em seus livros básicos os personagens de Forgotten Realms, ilustrando suas Classes para os jogadores. Isso pode não parecer muita coisa, mas colocar personagens pesos pesados como Drizzt Do’Urden e Artemis Entreri, entre outros, em seus livros básicos, ainda mais como exemplos de personagem, é um marco e facilita muito sua identificação com o tipo de personagem que você quer ter “quando crescer”. Junto com os livros de aventuras como Hoard of the Dragon Queen, sobre Tiamat, ou Temple of Elemental Evil, e até o vampiro Stradh von Zarovich, tornam o jogo uma experiência tão épica quanto a jornada de qualquer hobbit.
A arte dos livros e suplementos são caprichadas. Não apenas de um extremo bom gosto, mas também práticas, as ilustrações ajudam você a entender melhor o contexto de cada página e, principalmente, nos suplementos ajudam o mestre a melhor descrever e lidar com as dúvidas que possam surgir enquanto jogam.
Dungeons & Dragons 5º Edição é particularmente maravilhosa por mudar conceitos e agregar novos e antigos jogadores, dando asas, garras, espadas e masmorras à imaginação de milhares de pessoas.