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O Manicômio – O terror alemão virou kitsch!

Celebridades da web encaram um local abandonado em O Manicômio

O Manicômio (Heilstätten), filme de Michael David Pate, pode parecer inovador por ter vloggers (pessoas que produzem vídeos para a internet) como protagonistas. Mas a premissa básica é a mesma da grande maioria dos filmes americanos de terror dos anos 70 e 80: adolescentes inconsequentes se colocam em perigo por motivos fúteis.

Crítica O Manicômio

No longa, um grupo de web celebridades em busca de mais fama, mais views e mais likes em suas postagens, se aventura dentro de um hospital psiquiátrico abandonado (e com fama de mal assombrado) próximo à Berlim por 24 horas. O desafio vai ser transmitido pelos canais dos vloggers e  todos carregam suas câmeras. Porém, ao cair da noite, eles começam a presenciar fenômenos que parecem ser sobrenaturais e levam a uma espiral de medo e desespero.

O Manicômio é mais uma obra que usa o conceito de found footage, onde gravações “amadoras” compõem a narrativa. Esse tipo de filme, que tem A Bruxa de Blair como seu marco inicial (apesar de não ter sido o primeiro, mas sim o que revolucionou o gênero e que já ganhou até um reboot) e grandes sucessos como Atividade Paranormal e o espanhol REC, e tem sido bastante utilizado pois sua linguagem traz o espectador para dentro do filme e também torna a produção mais barata. Apesar de ser enquadrado dentro desse subgênero, nem todas as cenas do filme são feitas por câmeras diegéticas (que estão dentro da ação). Há cenas aéreas com movimentos de câmera, algo que não se encaixam na categoria.

Diálogos e personagens problemáticos

Esse é o primeiro longa de Pate e ele foi responsável pelo roteiro, a direção e a montagem. Alguns cineastas optam por esse tipo de condução para ter o controle total da obra. O problema é quando eles não são especialistas em todas as funções, prejudicando a qualidade do trabalho. Especificamente no caso de O Manicômio, o roteiro é confuso e os diálogos são extremamente expositivos. O excesso de personagens não permite que o público compreenda a função de cada um deles, sendo impossível criar empatia. A protagonista Marnie (Sonja Gerhardt) apresenta um canal em que as pessoas deveriam encarar seus maiores medos, porém ela mesmo mente sobre qual seria o seu maior temor. Os outros vloggers fazem pegadinhas perigosas ou comentam futilidades. Entre eles, existem mágoas e ambições que são apresentadas sem muita sutileza. Todos em cena são completos estereótipos dos adolescentes da era da internet. 

Crítica O Manicômio

A estrutura narrativa é bem clara, mas apresenta algumas redundâncias. Personagens diferentes cometem os mesmo deslizes, fazem cenas parecidas e são mortos da mesma maneira. Isso faz com que o segundo ato seja arrastado, mesmo tendo diversas cenas de sustos. Na parte técnica, o melhor do filme está na montagem, que é dinâmica e sabe explorar bem os lapsos temporais, sem necessidade de uma linha cronológica rígida. Os flashbacks acrescentam pontualmente informações sobre os personagens, sem revelar os mistérios. O terceiro ato possui um plot twist até interessante, mesmo que um pouco previsível.

O Manicômio sofre com algo muito comum no cinema de gênero produzido fora de Hollywood: a imitação cinematográfica. Percebe-se que os autores tentam replicar, de forma empírica, o gênero a partir do estudo da obra finalizada, mas não estudam os elementos que criam esse gênero. O resultado são filmes de terror com excesso de clichês, mas que não tem a essência do medo, pois se apoiam simplesmente no aspecto visual e nos sustos fáceis. Sem tempo para criar a ligação com o personagem ou a tensão psicológica da cena, só nos restam imagens escuras, sons altos e cortes rápidos. O resultado são obras mais pobres e que imitam as artes originais, o que os alemães costumam chamar de kitsch.

Por conta disso tudo, único medo que o filme provoca é que resolvam fazer uma continuação.

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