Bloodshot entretém e se esforça em ser relevante
Mark Sinclair é um bom ator. Ele criou e mantém o personagem Vin Diesel, uma estrela de cinema estereotipada de franquias de ação, como Triplo X, Velozes e Furiosos e “Riddick”. Bloodshot é a sua mais nova tentativa de início de franquia depois de O Último Caçador de Bruxas. Dessa vez, é uma história de origem de super-herói. Bloodshot é o piloto de um universo cinematográfico expandido da Valiant Comics e, se o filme fizer sucesso, teremos duas adaptações para o cinema da HQ Harbinger, uma sequência de Bloodshot, e depois Harbinger Wars que juntaria todos os personagens, em um total de cinco filmes na “fase um da VCU”.
Mark Sinclair interpreta Vin Diesel no personagem de Ray Garrison, um típico soldado que morre e volta com super poderes, na linha de Soldado Universal, Deadpool e Spawn. Quando sua esposa é sequestrada e morta na sua frente ele jura vingança, mas é morto logo em seguida. Usando nanotecnologia, substituindo o sangue de Garrison com “nanites” programáveis, Dr. Emil Harting (Guy Pearce) traz Ray de volta a vida, dando-lhe uma coleção de poderes: super força, regeneração, acesso a bancos de dados através da força do pensamento, habilidade de aprender a pilotar um avião lendo o manual (a primeira de duas referências a Matrix), resistência a tiros, quedas e facadas.
O roteiro, escrito por Jeff Wadlow (Kick-Ass 2) e Eric Heisserer (A Chegada), aproveita o cansaço do público e da crítica com relação aos filmes de histórias de origem buscando satirizar as fórmulas que vem sendo usadas. Os trinta minutos iniciais são uma orgia de clichês, arquétipos e canastrices. O espectador não sabe se leva as cenas à sério ou se estão sendo apresentadas com ironia. E, então, o filme dá uma bela virada, criando uma bem-vinda surpresa no começo do segundo ato. Não vale a pena dar spoilers, basta dizer que nem tudo é o que parece. Contudo, o cuidado em criar a “virada” acaba atrapalhando a fórmula do resto do filme e passam a faltar motivos para torcer por Ray, para simpatizar com ele e seu arco.
Diferentes tipos de ação
Felizmente, o filme tem outras personagens que seguram as pontas, como KT (Eiza González, ótima no papel) uma fuzileira mergulhadora que tem uma traqueia artificial que a permite respirar em ambientes com gases tóxicos, e Jimmy Dalton (Sam Heughan) um soldado que perdeu as pernas pisando numa mina terrestre e tem próteses robóticas. Temos também Tibbs (Alex Hernandez) que ficou cego e usa câmeras externas que alimentam seu cérebro, permitindo uma interessante perseguição sobre moto usando drones. Wilfred Wigans (Lamorne Morris) é o alívio cômico, um programador comilão que ajuda Ray na sua jornada. Guy Pearce praticamente reprisa seu papel de Homem de Ferro 3, mas o mais bizarro são algumas semelhanças do arco de um personagem com o interpretado pelo ator no filme Amnésia.
Esse é o primeiro longa do diretor David S.F. Wilson, que antes trabalhava com efeitos visuais, e se percebe uma inconstância em forma e estilo. A ação é inconstante. Em uma cena, temos uma excelente sequência em um túnel, em outra não é possível acompanhar ou entender a ação que acontece em um banheiro. Por um lado, é divertido ver Ray levantar um soldado, tirar o pino de uma granada e fazer um sanduíche nela encostando o corpo no vidro de um carro blindado, segurando o corpo como escudo para ganhar acesso ao interior. Por outro, a monótona briga final tem excesso de computação gráfica e parece não estar completamente pronta, como se o nível desejado de efeitos estivesse aquém do orçamento. Para cada coluna que é usada como saco de pancadas, tem um Vin Diesel borrachudo de computação gráfica dando socos em outro boneco digital sem vida.
Os maiores problemas de Bloodshot são a edição e os efeitos visuais, resultando em algumas cenas de ação que não envolvem, principalmente a sequência final que depende 100% de computação gráfica, ainda entregando um resultado que deixa a desejar, perdendo a já tênue importância que o espectador possa dar para a história. Vin Diesel fica em sua zona de conforto (em menos de 10 minutos, já aparece com a sua clássica camiseta regata e,para os fãs do quadrinho, Bloodshot não é uma adaptação fiel, mas é melhor que nada. Tem algumas sequências levantadas diretamente das páginas da HQ. O poder de mudança de visual não está no filme, mas tem um rápido momento de pele branca e olhos vermelhos, sem explicação ou função na história, um fan service rápido só pra não perder a ligação com o material de origem.
No final das contas, não é de se menosprezar um filme de super-herói que se arrisca e tenta fazer algo novo.