Um dos mais comentados candidatos ao Oscar é este novo filme do diretor David O. Russel, o mesmo do ótimo O Vencedor (The Fighter), que também foi valorizado na edição hollywoodiana de 2011. Trapaça tem estreia neste final de semana, dia 07, em grande circuito nos cinemas nacionais e já tem no currículo diversas nomeações neste evento mais popular do cinema e o aval de muitos críticos por aí fora.
Inspirado em um acontecimento real, informação que nos é passada logo no início, a história tem como base uma operação do FBI, chamada Abscam, que ocorreu no final dos anos 70. Este foi um escândalo nacional que prendeu membros do Congresso americano e diversos políticos que foram filmados recebendo dinheiro ilícito. A ação foi encabeçada pelo agente do FBI Richie DiMaso (Bradley Cooper) que, ao propor uma redução de pena para dois experts em “trapaceadas”, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e Sydney Prosser (Amy Adams), utiliza seus conhecimentos para a realização dos flagrantes.
O resultado foi um escândalo na época e a ação existiu, mas a dramatização do diretor é solta e pouco se sabe internamente o que há de verídico, além da história que se tem conhecimento.
A linha que o filme segue é o drama político com leve queda para o cômico (não muito). A produção é de primeira linha, não há o que discutir, e o filme é impecável em diversas áreas. A ambientação da época, por exemplo, e o figurino (Amy Adams sempre com um decote que choca até para os dias de hoje), refletem o que conhecemos desta década sem sobras ou exageros. Há diálogos ótimos também, como a discussão de Bale e Cooper sobre o Rembrandt falso ou verdadeiro.
Notável também é o elenco que tem, certamente, a nova safra de atores mais disputada entre os diretores de Hollywood. Além das atuais queridinhas de Hollywood, Amy Adams (Dúvida, O Vencedor, O Homem de Aço) e Jennifer Lawrence (Jogos Vorazes, X-Men e Inverno da Alma), tem Christian Bale (trilogia Batman de Christopher Nolan, entre outros…), Bradley Cooper (Se Beber não Case I, II, III e Sem Limites) e veteranos de ponta como Robert de Niro, que dispensa referência.
Christian Bale, novamente trabalhando com O. Russel após O Vencedor, faz um espetáculo a parte e é o ponto alto do elenco, mesmo considerando que quase todos tenham sido nomeados ao Oscar deste ano e complementam muito bem a força das atuações. Como em O Vencedor e mais antigamente em O Operário (filme dirigido por Brad Anderson), Bale não só tem atuação de ponta neste filme, como também repete a mudança física brusca que fez nestes dois outros anteriores. Só que ao invés de magro, o ator faz um personagem barrigudo e calvo. A sensacional primeira cena já mostra isso. Aliás, o início fez aumentar ainda mais a minha expectativa para o restante.
Ou seja, elenco estelar, trilha sonora excelente (referência ótima ao jazz de Duke Ellington), ambientação de primeira e visual impecável, mas…
O filme não convence por completo e parece mais do que é, principalmente pela “comoção” dos críticos de cinema em geral. O tom político não disfarça uma trama policial padronizada, com surpresas, mas as reviravoltas não salvam algumas ações previsíveis. Não que precisaríamos da “invenção da roda” aqui, porém, ação policial contra corrupção já é um assunto batido no cinema e sem algo inovador na história ou que chame mais a atenção, o filme pode cansar. E isso acontece.
Fiquei também um pouco incomodado com a narração em off, que de diferente tem o fato de algumas cenas serem narradas pelos 3 principais personagens, alternadamente, mas ainda assim não entendi a real razão para isso. Não muda muita coisa e a narração em si, descontando alguns filmes em que esse artifício é muito bem empregado, pode dar a sensação de explicar demais e não deixar o espectador descobrir por si mesmo. Os mais preguiçosos agradecem.
Entre prós e contras, há mais coisas boas do que ruins para se levar em consideração, mas não se espante se você se sentir um pouco enganado ou “trapaceado” (fazendo um trocadilho bem mais ou menos em relação ao título) de que assistiu a um filme excelente pelas atuações e visual, porém estará lá, após os créditos finais ou 1 dia depois, a sensação de querer mais da história, além da requintada produção. Enfim, o filme é bom, mas…