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A Mula – Bom roteiro para um bom retorno!

Um Clint Eastwood de boa safra é a melhor definição de A Mula

Longe da atuação desde 2012, quando atuou em Curvas da Vida, filme dirigido por Robert Lorenz, parecia certo que não teríamos novas aparições de Clint Eastwood nas telas. Muito por conta de sua idade, já que o veterano está com quase noventa anos, e quase nenhuma demanda por papeis de destaque onde se encaixaria. No entanto, a carreira de cineasta seguiu firme e a notícia de que ele voltaria à frente das câmeras – também na função de diretor, como era de costume – pegou o público de surpresa.  A boa notícia é que A Mula (The Mule) valeu o esforço e faz jus ao legado do ícone.

Crítica do filme A Mula

O roteiro, escrito por Sam Dolnick e Nick Schenck (este também roteirista em Gran Torino, de 2009, que seria a última dobradinha protagonista/diretor) é bastante simples na essência. Clint interpreta Earl Stone, dono de um negócio pelo qual é apaixonado, cultivo e venda de flores, passando um bom tempo na estrada por conta de convenções pelo país. Na via inversa, sua vida em família foi praticamente inexistente, destruindo seu casamento. Por conta deste comportamento, existe um rancor declarado da parte de sua filha, vivida por Alison Eastwood, sua herdeira na vida real.

Encontramos Earl ainda prosperando no começo da década de 2000, com um salto temporal de mais de uma década mostrando como seu modelo antiquado não sobreviveu à internet. Sem dinheiro, endividado e ansioso por ajudar sua neta, ele aceita um trabalho simples oferecido por acaso. Graças a um histórico sem multas como motorista, ele é perfeito para dirigir transportando bolsas que, a princípio, ignora o conteúdo. As coisas parecem bem com o pagamento alto que recebe, mas sempre existem consequências desagradáveis quando alguém se envolve com cartéis de droga.

Enquanto Earl fica cada vez mais preso às obrigações de transporte, o DEA se mobiliza na região para conseguir uma apreensão de porte. Os agentes Bates (Bradley Cooper, de Sniper Americano e Nasce Uma Estrela) e Trevino (Michael Peña, de Homem-Formiga) formam o outro núcleo da narrativa, aos poucos aproximando-se do protagonista. Ainda que esse detalhe dê a entender que haverá joguinhos de gato e rato e saídas mirabolantes, não há nada disso.

O texto de A Mula, inspirado por um artigo, evita esses clichês e procura mais a humanidade de seu protagonista. O personagem principal se beneficia muito do carisma de seu intérprete, compondo um tipo que esbanja simpatia e magnetismo apesar da idade, capturando atenções em qualquer ambiente. Somando isso à língua solta de alguém que já abandonou filtros sociais há tempos, gera alguns momentos mais descontraídos, inclusive no seu relacionamento com os outros “funcionários” do cartel.

O relacionamento com sua família, em contraste com sua desenvoltura social, traz mais realismo a essa composição, que também adiciona ao caldo frustrações e queixas comuns de pessoas com idade avançada. Se torna difícil pensar no filme com outro ator principal, o que é mais uma prova que foi a ocasião perfeita para que ele arriscasse mais um crédito na atuação.

Crítica do filme A Mula

Não evitou derrapagens aqui e ali

É um fato que o roteiro acerta mais do que erra, com deslizes não chegam a comprometer a verossimilhança da trama. Os problemas estão em detalhes que alongam a duração por nada. Um exemplo é a festa onde Earl é recebido pelo chefão Laton (Andy Garcia), que gera pelo menos duas situações que não agregam absolutamente nada. Uma delas, inclusive, tem envolvimento direto de Julio (Ignacio Serricchio), personagem que insinuava uma participação maior e revela-se descartável, mostrando que seu desenvolvimento até ali poderia ter caído fora no corte final.

Mantendo seu estilo clássico na condução da narrativa, a trama é levada de forma segura. Se a duração de 116 minutos acaba provando-se além do necessário quando refletimos sobre o peso de certas cenas, o conjunto não tem nada de entediante e comprova a boa forma do cineasta. As composições de cena são mais simples, comparadas a outros exemplares desta filmografia, mas nem por isso deixam de ser funcionais e denotam pobreza ou preguiça. O único detalhe onde parece faltar alguma sensibilidade é na inclusão de alívios cômicos, especialmente no final, que prejudicam a dramaticidade da cena. Ainda assim, é pouco para desabonar o conjunto.

Depois de dois filmes menores em uma carreira brilhante, Sully e 15H17: Trem Para Paris, Clint Eastwood entrega um trabalho que não destoa de todo seu prestígio, independente da dificuldade maior envolvida neste período de sua vida. A Mula é mais do que uma experiência cinematográfica agradável, pois também comprova para os admiradores desta lenda que ele ainda tem lenha para queimar.

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