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Rohan no Louvre – Intenso ao limite!

Rohan no Louvre é um cristal puro de diversão e exagero na medida certa

JoJo´s Bizarre Adventure, do mangaká Hirohiko Araki, faz jus ao nome. E o improvável spin-off dessa série Rohan no Louvre, lançado aqui pela editora Pipoca & Nanquim, não deixa nada a desejar nesse sentido: É bizarro do começo ao fim.

Esse mangá faz parte do projeto do museu parisiense de convidar mangakás para produzir obras tendo o Louvre como cenário, apresentando as perspectivas dos autores sobre ele. O P&N lançou inicialmente Guardiões do Louvre, de Jiro Taniguchi, e dá continuidade agora com o volume de Araki.

No entanto, se a HQ de Taniguchi era mais solene e turística, Araki faz uma escolha interessante ao conectar essa aventura ao personagem do seu mangá de maior sucesso. Embora isso seja deixado claro pelo próprio glossário do volume, não é preciso ter conhecimento prévio de JoJo´s para curtir o volume. Tudo o que você precisa saber, incluindo os tipos de poderes que os personagens têm e como eles funcionam, está bem explicado no início do volume. Basta abrir a HQ e curtir a viagem.

E que viagem. O volume é dividido em duas partes principais, mostrando o personagem Rohan quando ainda era um aspirante ao ofício dos quadrinhos e posteriormente já consolidado como um dos maiores nomes da arte. Quando jovem, Rohan se isolou na casa de um parente, buscando inspiração. Essa inspiração se manifestou na forma de Nanase, uma belíssima jovem que acaba desenvolvendo um elusivo e agridoce relacionamento com o protagonista.

O relacionamento inicial entre eles é o que proporciona o fiapo de trama da HQ: Nanase conta para Rohan sobre a “pintura mais maligna do mundo”, que se encontra justamente no museu do Louvre. Reza a lenda que o artista, Nizaemon Yamamura, a criou utilizando o pigmento mais negro já visto. No entanto, para obter esse pigmento, ele precisou derrubar uma árvore milenar e, por isso, foi condenado à morte.

Nizaemon, então, lançou uma maldição sobre as pessoas que o executariam. Por fim, todas as suas obras são destruídas, com exceção desta, que acaba escondida em corredores subterrâneos obscuros do Louvre, longe dos olhos e do acesso do grande público. Diz-se que a pintura carrega consigo a praga lançada por Yamamura, tornando-a um “fantasma” da história da arte. Rohan mantém essa lembrança durante muito tempo, até que, já adulto, decide ir atrás da tal pintura. E é aí que a bizarrice começa.

Explodindo na sua cara

Porque, como vocês leram no início, isso ainda é um spin-off de JoJo´s. Ou seja, qualquer sentido e a profundidade que a trama possa ter está tão submisso à estética e ao estilo de Araki quanto um marido entediado estaria diante da sua dominatrix – uma alegoria que, em se tratando de JoJo´s, é tão aleatória quanto cabível.

Como era de se esperar do autor, tudo é bombástico e grandiloquente; um simples painel estático é carregado de elementos e traços dinâmicos que fazem com que mesmo o que está parado pareça em movimento. Um elemento meio fora da curva para um mangá, e que colabora na construção desse clima, é o fato de que o volume é colorido. Mas Araki não faz escolhas ortodoxas, e sua paleta de cores é pungente e chamativa, transitando do sépia e rosé para tons mais frios, mas não menos intensos.

Não somente isso, mas em um determinado ponto, o que é bizarramente glamouroso e chamativo descamba rapidamente para uma ação gore quase inesperada, onde o protagonista finalmente imerge no real espírito do mangá que lhe originou, e cria sequências de ação que são tão non-sense quanto divertidas. Ler Rohan no Louvre, muito como os arcos mais recentes de JoJo´s, é como ter uma bateria de fogos de artifício explodindo na sua cara: É tudo muito “barulhento”, intenso e brilhante, mas por algum motivo você não consegue tirar os olhos disso.

Apesar das brincadeiras, a HQ realmente não se propõe a grandes reflexões nem aprofundamentos, preferindo se sustentar na sua arte deslumbrante. Araki é um desenhista irrepreensível, de estilo único e distinto, com uma habilidade quase incomparável na criação de imagens e cenas que parecem sempre atingir o limite que distingue um volume de detalhes louvável com uma completa bagunça, mas sem nunca realmente ultrapassá-lo, dando aos painéis a sensação supracitada de ação e intensidade constantes.

Rohan no Louvre é diversão pura. Mas, como se diz por aí entre os otakus, cuidado: Uma vez jojofag, sempre jojofag.

Como a visita de Rohan ao Louvre, pode ser um caminho perigoso…

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