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Samuel R. Delany – Entre aliens e poetas!

Samuel R. Delany, o escritor que lutou contra as diferenças e se transformou em um mestre

Mais uma vez temos a oportunidade de falar sobre uma pessoa que quebrou os paradigmas de sua época e se tornou referência em sua área de atuação. Neste texto, vamos falar um pouco sobre Samuel R. Delany, um rapaz afro-americano e homossexual do Harlem que nos anos 60 já havia ganho duas vezes o prêmio “Nebula” – um reconhecimento de prestígio concedido pela Science Fiction and Fantasy Writers of America (SFWA) para as melhores obras de ficção científica e fantasia.

samuel r. delany

Samuel R. Delany (o “R” é de “ray”. Bem sci-fi, né?)

Samuel R. Delany nasceu em 1° de Abril de 1942 no Harlem e, assim como suas tias Sadie and Bessie Delany, pioneiras do direito civil, e seu avô, Henry Beard Delany, o primeiro pastor negro da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, Delany mudou o gênero de ficção científica – nessa época, um gênero ainda desacreditado, mostrando que se tratava de um gênero literário que é versátil. Abriu discussão sobre diversos assuntos, desde gênero e sexualidade até teorias linguísticas.

Autor de ficção científica, professor, crítico literário e ensaísta, Samuel R. Delany começou a escrever ainda adolescente histórias de ficção científica, pois eram estas que ele tinha acesso. Depois de alguns anos se tornou professor na universidade Clarion, onde lecionou um workshop para escritores de Ficção Científica. Incidentalmente, lá também conheceu e se tornou amigo de longa data de Octavia Butler.

A pluralidade de um gênero e seu autores fora da caixa

No início dos anos 60, Delany se casa com sua amiga de escola e poeta Marilyn Hacker, com quem teve uma filha. O casamento durou 13 anos, e foi Hacker através de seu emprego na Ace Books, que encaminha o manuscrito do primeiro conto de Delany – que veio a ser um grande sucesso em forma de romance, o The Jewels of Aptor.

Delany publicou diversos trabalhos desde 1962 e continua escrevendo; suas últimas obras de ficção são Through the Valley of the Nest of Spiders, de 2012, e The Atheist in the Attic, de 2018, que conta ainda com dois artigos na edição. Foi sua obra Babel-17 que lhe rendeu seu primeiro Nebula em 1966, prêmio dividido por um empate com Flores Para Algernon, de Daniel Keyes, já comentado aqui no Formiga.

E assim como seu colega de empate, que utiliza a língua como meio de instigar uma mudança de preceitos, em Babel-17 Samuel R. Delany utiliza a teoria do relativismo linguístico (hipótese Sapir-Whorf, que o amigo leitor pode ter visto em A Chegadadirigido por Denis Villeneuve) sobre como a linguagem afeta as pessoas. Basicamente, a língua é uma ferramenta de formação do significado, onde aprende-se primeiro a palavra para depois entender o que ela é; e isso molda seu objetivo.

samuel r. delany

Na linguagem, conforme vista em Babel-17, vemos características bastante distintas, como a ausência de pronomes e a desconstrução da palavra “Eu”. Ela – a língua – é capaz de alterar os pensamentos e controlar os movimentos daqueles que a ouvem. Um fator muito interessante é que neste livro, no lugar de um herói forte e másculo, temos aqui uma heroína com traços orientais, que carrega consigo um drama psicológico. Trata-se de uma poeta que deve ficar a frente dos militares e liderar a batalha – friso que estamos falando aqui de um livro escrito nos anos 60.

“Eles mandaram uma poeta!” – A língua como uma arma

Seu próximo sucesso foi The Einstein Intersection, que conta sobre uma raça alienígena que coloniza a Terra após os humanos desaparecerem. Após chegarem, objetos humanos e estátuas começam a ser cultuados – imagens como as do Ringo Starr e outros artistas são veneradas, e seguimos percebendo como aqueles que são diferentes, ao escolher não seguir a maioria, acabam tendo de lutar pelo seu lugar no mundo.

Como o amigo leitor pode perceber, seus temas mais recorrentes são diferenças sociais e cultura LGBTQ+. Em 2002, Delany entrou para Hall da Fama da Ficção Científica e da Fantasia, e em 2013 foi nomeado Grand Master pelo The Science Fiction Writers of America (SFWA).

Sua influência foi grande desde o início, e marcou a forma como as pessoas começaram a ver a ficção científica. Venceu 4 vezes o Nebula, 2 vezes o Hugo Awards, e ainda hoje é diretor do departamento de escrita criativa da Temple University em Filadélfia, onde também leciona. Assim como Brian Aldiss, Douglas Adams ou Ursula K. Le Guin, de A Mão Esquerda da Escuridão, também é conhecido pela New Wave – estilo que iniciou e teve seu ápice nos anos 60 e 70.

Para aqueles que ainda não tiverem a oportunidade de ler alguma das obras de Samuel R. Delany, eu lhes digo: a editora Morro Branco irá lançar agora em 2019 uma edição de Babel-17, juntamente com a novela de Empire Star, focada na missão de um jovem mensageiro, que durante sua jornada começa a questionar os sistemas, que naturalmente sempre aceitou, fatos e o tempo em sua volta.

Samuel R. Delany é um dos autores de histórias diversificadas e originais. Sua chegada no Brasil com Babel-17 é mais que bem vinda.

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