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No Coração do Mar – Os relatos que inspiraram Herman Melville!

A tragédia verídica que deu origem a Moby Dick narrada em No Coração do Mar

É um fato bem conhecido que Moby Dick, um dos grandes ícones da literatura mundial, teve inspiração em um episódio real ocorrido em 1820. Os relatos dos sobreviventes do baleeiro Essex ocuparam a imaginação de Herman Melville, por conta de um caso estranho e trágico em uma viagem comum de caça à baleia. O historiador Nathaniel Philbrick buscou mapear toda a triste saga da tripulação do Essex, em uma extensa pesquisa que deu origem ao ótimo No Coração do Mar (In the Heart of the Sea: The Tragedy of the Whaleship Essex), livro lançado originalmente em 2000, pela Viking Press.

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Publicado no Brasil pela Companhia das Letras, o livro ganhou uma indigna adaptação cinematográfica em 2015. Quem nunca o assistiu, se tem interesse pelo tema, faz um favor a si mesmo lendo a obra de Philbrick antes de conferi-lo. Chega a ser um exercício interessante comparar os dois, pois o filme inventa em cima e dilui muito da carga dramática presente em um texto que não se vale dos artifícios da dramaturgia. De qualquer forma, seja você alguém que já leu Moby Dick ou gostaria de ler em um futuro próximo, talvez esteja agora perguntando-se por quais motivos deveria investir seu tempo em algo que pode soar redundante.

A grande verdade é que não importa se você já leu ou não a obra de Herman Melville. No Coração do Mar serve não apenas como uma curiosidade ou um apêndice em relação ao clássico, pois tem vida própria graças a um texto que parece puramente fictício. É aquele tipo de obra que nos faz pensar sobre como a monótona vida real pode nos surpreender a qualquer momento, mas tão bem escrito que nos faz embarcar (sem trocadilho) em sua trama simples e imaginar tudo ali como uma narrativa de filme. Sim, ironicamente, o livro é bem mais cinematográfico do que o filme inspirado por ele.

O fato em questão foi o inusitado ataque sofrido pelo Essex – saído de Nantucket, Massachussetts – por um cachalote enfurecido, revidando contra seus caçadores ao invés de fugir como era esperado. A destruição e consequente naufrágio da embarcação, no meio do oceano Pacífico, obrigou a tripulação a amontoar-se em três botes com pouquíssimos recursos e tentar chegar à América do Sul. Se a ideia já parece assustadora, a travessia em si mostrou-se pior do que isso.

Fome, desidratação e calmaria trouxeram o inferno para esses homens, cujos sobreviventes chegaram o mais longe possível no que se refere a auto-preservação. Uma viagem que teve desdobramentos ainda mais surreais, como uma breve parada nas ilhas Galápagos que envolveu mais um desastre. Tudo isso ficou registrado para posteridade através do relato do Imediato, Owen Chase, publicado pouco depois do ocorrido. Por muito tempo, esse foi o único relato oficial sobre a tragédia.

Thomas Nickerson, apenas um adolescente quando ocupou a função de camareiro no Essex, escreveu sobre o caso já em idade avançada. Seu texto foi autenticado apenas na década de 1980, possibilitando Nathaniel Philbrick servir-se de mais uma fonte valiosa para seu trabalho.

Resenha do livro No Coração do Mar

Nathaniel Philbrick

Contextualização valiosa

Não seria conveniente trazer essa história e seus detalhes à tona sem os pormenores, pessoais e econômicos, da vida em Nantucket. Aliás, antes de tudo, é preciso entender como era o mercado baleeiro e como esses animais serviam como matéria prima essencial naquele final de século. O autor não deixa nenhum leitor perdido e fornece todas as informações pertinentes e fundamentais, mas sem cair em um didatismo entediante que poderia comprometer o conjunto.

Feita essa contextualização, acompanhar a preparação para a viagem e a partida traz um peso no coração que é difícil ignorar. Afinal, já começamos a ler sabendo que as coisas não acabarão bem, mas avançamos irresistivelmente as páginas naquele impulso quase masoquista que todo bom leitor possui. Acompanhamos todo sofrimento e aflição, às vezes torcendo por uma virada a favor destes desafortunados, pouco depois nos lembrando de que não estamos lendo uma ficção.

Evidente que a força dramática intrínseca aos fatos ajuda muito, mas poderia perder-se nas mãos de um autor menos hábil. Nathaniel Philbrick venceu o desafio de produzir uma escrita capaz de dar conta da grandeza do acontecimento, dando um tratamento ao seu texto que, guardadas as devidas proporções, lembra o que Norman Mailer fez em A Luta. Sua empreitada ganha ainda mais pontos pela dificuldade, consideravelmente maior, em escrever sobre um tempo distante.

No Coração do Mar é recomendável em todos os sentidos possíveis. A atração que fatos bizarros exercem na maioria das pessoas é apenas a ponta do iceberg, o que talvez seja o fator que atraia mais leitores. Sua relação com Moby Dick também chama bastante atenção, que é um motivo também bastante válido para lê-lo. No entanto, quem procurá-lo por motivos como esses será recompensado muito além do que esperava.  Definitivamente, a percepção de suas outras qualidades ao longo da leitura é uma sensação que não tem preço.

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