O Enigma de Andrômeda e a ficção científica focada na biologia
Escrito por Michael Crichton, O Enigma de Andrômeda (The Andromeda Strain) ambienta sua história nos anos 1960, iniciando-se quando uma pequena sonda americana cai em uma cidade do interior do Arizona, matando rapidamente os habitantes. Tais mortes acontecem de forma sinistra, deixando os corpos caídos nas ruas com o todo o sangue coagulado. Os únicos sobreviventes são um bêbado e um bebê.
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Quando militares e cientistas se deparam com a visão misteriosa dos dois junto aos mortos, duas questões são levantadas: como eles sobreviveram ao contato com o agente alienígena e qual a conexão entre os dois? Como o livro inicia com um evento em curso, cria-se uma tensão psicológica. A escrita é alterada da terceira pessoa para conversas via rádio conjuntamente. O uso dessas gravações, aliás, juntamente com transcrição dos relatórios durante os capítulos, transforma a leitura em uma espécie de documentário. A cada página, descobrimos mais sobre a bactéria alienígena, junto aos personagens que vivenciam suas urgências.
Acompanhamos os cientistas do chamado Programa Wildfire confinados em uma instalação biomédica de cinco níveis, onde tentam descobrir o que está matando a população, afim de encontrar uma forma de cura para os infectados. As regras rígidas de assepsia e os protocolos da pesquisa fazem o leitor entrar de cabeça na proposta de Crichton. Somos bombardeados por informações sobre proteínas, enzimas e o que mais possa ser designado como “vida”.
Os personagens que compõe o Projeto Wildfire são especialistas em várias áreas, o que evita a costumeira jornada do herói, que salva a humanidade sozinho. Em O Enigma de Andrômeda, temos uma equipe: Leavitt – especialista clínico em doenças infecciosas, Burton – patologista, Jeremy Stone – bacteriologia e Mark Hall – um cirurgião rápido e determinado.
O Enigma de Andrômeda foi adaptado ao cinema em 1971, com direção de Robert Wise
O clima tenso vai aumentando gradativamente, conforme a passagem dos dias. Sem contato com o mundo exterior, os cientistas trabalham quase 20 horas por dia. O cansaço e a pressão começam a ser sentidos e tudo piora quando a doença de um deles começa a se agravar. Por medo de perder a credibilidade, ele não avisa seus companheiros, criando uma atmosfera de agonia.
Ênfase no argumento e referências bibliográficas
O detalhamento técnico cria uma experiência profunda durante a leitura. Porém, para aqueles que procuram um livro com muita ação, deve se preparar, pois a atenção aos detalhes chega a ser exagerada em certos momentos, com páginas inteiras de descrição de relatórios. Muitas teorias reais estão presentes na trama. Uma delas é a teoria do “Um Homem Só”, uma desculpa para a presença de Mark Hall na equipe. A teoria garante que somente um cientista, homem e solteiro, pode tomar uma atitude lógica para destruir o laboratório, caso a bactéria saia do controle.
Michael Crichton (1942 – 2008)
O Enigma de Andrômeda é um thriller biológico inteligente, que não duvida da capacidade intelectual de seus leitores, mesmo apresentando momentos maçantes, que exigem paciência e bons copos de café. Quem chegar ao final da leitura, vai incluir entre suas referências um dos mais interessantes exemplares da literatura sci-fi.
Michael Crichton é um nome presente não apenas nas estantes, mas também no cinema e na tv. Seu currículo inclui trabalhos como o filme Westworld (base para a série homônima da HBO), de 1973 e o livro Jurassic Park. Seus romances focam na ciência versus humanidade e nas catástrofes com biotecnologia como resultado de falhas humanas. O Enigma de Andrômeda foi o primeiro livro lançado com seu nome verdadeiro. Em 1968, ele assinou com o pseudônimo Jeffery Hudson a obra Um caso de Necessidade.
