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História do Cinema Japonês – Olhos puxados na telona!

Gosta de filme japonês? Este livro é para você!

Que os nascidos na terra do sol nascente tem um grande cinema não é nenhuma novidade. Basta dar uma escutada no último Formigacast para perceber que filme japonês é um assunto que rende horas de discussão, elogios, análises e declarações de amor. Mas por onde começar a desvendar os mistérios de uma das cinematografias mais pungentes do oriente? A resposta quem dá é uma…italiana.

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Maria Roberta Novielli é professora de cinema e literatura japoneses na Universidade Ca’Foscari, localizada em Veneza, mas foi durante a temporada em que morou em Tóquio que ela se especializou nos filmes nipônicos e, motivada pelos colegas de pesquisa, resolveu dar ao mundo um apanhado da sétima arte japonesa desde os seus primórdios até o início dos anos 90. Com o título objetivo de História do Cinema Japonês e lançado na nossa terrinha pela editora UnB, o livro de Novielli pega o leitor pela mão e o guia por uma viagem que vai além dos 24 quadros por segundo.

É óbvio que há um bom bocado de páginas dedicadas a chamada Santíssima Trindade do cinema japonês, formada pelos cineastas Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi* e Akira Kurosawa (que esta que vos escreve prefere chamar de Quarteto Fantástico e incluir na turma o maravilhoso Masaki Kobayashi**), mas a autora faz questão de mostrar que as telas japonesas são muito mais que esses nomes. Partindo do anos de 1899, quando a produção local se iniciou com jovens diretores como Shiro Asano, vamos percorrendo os vários temas, gêneros, inovações e estúdios que marcaram o cinema japonês.

Confira nossos artigos sobre *A Rua da Vergonha e **Harakiri

Cinema não é só imagem

Novielli, como boa professora, contextualiza todas as produções e traça um paralelo com os períodos político e social em que cada obra surgiu. Pois se a maior matéria-prima da arte é a vida, o povo japonês fez do cinema mais que a sua válvula de escape. Mesmo produções feitas à toque de caixa nos estúdios como Nikkatsu, Shochiku e Toho, que tinham como foco principal o lucro das bilheterias, guardam críticas ácidas em seus enquadramentos aparentemente inocentes.

Até o movimento pinku eiga, pelo início dos anos 60, guardava em suas cenas eróticas a mensagem de uma relação íntima entre sexo e política na sociedade japonesa daquela década. Os olhares mais atentos conseguem perceber, entre uma nudez e outra, diálogos e movimentos que questionam até a invasão ocidental (em especial americana) que estava começando a movimentar a juventude japonesa.

Censura, documentários, produções independentes, filmes de monstro, dramas românticos…a cada página descobrimos novas nuances do cinema japonês. E o que é melhor: Novielli nos faz ficar atentos aos detalhes e explica sem pressa as influências dos teatros Nô e Kabuki nos movimentos de câmera e na circulação dos atores diante dela, a importância da natureza dentro da fotografia e a intensidade dos sentimentos que se fazem presentes até em filmes de temática yakuza ou animações de traços coloridos e infantis. Ah, e tem estudos Ghibli, Shohei Imamura, Ishiro Ronda, Mikio Naruse, Seijun Suzuki e mais um monte de rapazes talentosos e de olhinhos puxados.

Filme Japonês - História do Cinema Japonês

Mulheres

O cinema japonês é um mundo maravilhoso, mas como todo bom roteiro, tem o seu conflito. Apesar de um número bastante significativo de protagonistas femininas, ainda são poucas as mulheres atrás das câmeras. Não é preciso mais que dez filmes para perceber que na sociedade japonesa impera o machismo e a figura da gueixa ainda é um símbolo de feminilidade, mesmo que muitos retratem com realismo as agruras vividas por estas mulheres nas casas de chá.

Setsuko Hara, o rosto do cinema de Yasujiro Ozu, imortalizou a personagem da filha devotada que abdica do casamento e do trabalho para cuidar dos pais. O olhar da atriz é um símbolo de doçura, mas não deixa de exalar uma certa dor. Seu sorriso é sempre aberto, mas sua alegria não é completa. Kenji Mizoguchi criou mulheres fortes dentro de seu universo fantástico, pois só num mundo de sonho elas poderiam comandar sem servir a um homem, seja o pai ou o marido. Suas heroínas tinham um corpo forte e sempre protetor. Mas que também sangrava. Em silêncio.

Óbvio que uma nova geração de realizadores se apresenta e mudanças devem nos aguardar no horizonte. Mas um povo que é conhecido pelo respeito às suas tradições jamais esquece seus mestres. Em cada inovação sempre haverá uma alma de clássico. Não importa se a história é sobre sete samurais, quarenta e sete ronins ou treze assassinos. Sempre haverá um sem número de sorrisos na sala de exibição.

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