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O Invasor – Leitura para condução ou salas de espera!

O texto que deu origem ao filme O Invasor

Se você é um cinéfilo razoavelmente bem informado sobre a nossa produção, deve se lembrar de um filme do começo da década de 2000 que marcou a estreia de Paulo Miklos no cinema. O hoje ex-Titã foi até premiado pela sua performance em O Invasor, de Beto Brant, só que não são os méritos do longa que nos interessam aqui, mas o livro de Marçal Aquino, um dos roteiristas da produção.

O Invasor foi publicado pela Companhia das Letras e você pode comprar clicando na imagem!Resenha do livro O Invasor, de Marçal Aquino

Na verdade, houve um desvio durante a escrita da novela, gênero literário que compreende uma narrativa mais extensa que um conto e menor que um romance, e do roteiro adaptado. Em 1997, Aquino tinha apenas um fragmento, quando o cineasta propôs que isso fosse a base de um terceiro trabalho em parceria entre eles. Assim aconteceu. Roteiro pronto e filmagens em curso, o desenvolvimento do texto original foi retomado e as duas obras tiveram lançamento simultâneo.

Você já viu o filme? Gostou? Supondo que sim, em maior ou menor grau, mesmo já sabendo como termina, o livro pode ser um bom passatempo. Na verdade, é exatamente isso que ele é. Feitas as considerações sobre seu tamanho, são 128 páginas, é algo que talvez não ocupe seu tempo por mais de dois dias, o que o torna perfeito para aqueles trajetos chatos em transporte público ou momentos que a espera é obrigatória.

Impossível negar que a premissa traz aquela força intrínseca das histórias de crime. Isso pode ser o bastante para levar uma boa fatia de leitores até seu final. Ivan e Alaor são sócios minoritários em uma construtora. Quando um negócio escuso envolvendo licitações do governo é proposto, os dois são a favor pelo volume de dinheiro envolvido. Porém, Estevão, o sócio que realmente tem o poder de decisão, prefere evitar esse tipo de transação.

Os dois recorrem a uma solução cruelmente prática. Contratam Anísio, um assassino profissional, para tirar Estevão do caminho. Como não poderia deixar de ser nestes casos, a dupla mantém um contraste forte entre si. Ivan é cheio de dúvidas e inseguro, manipulado por Alaor, assustadoramente bem mais à vontade. Feito o serviço, quando tudo indica que as coisas estão tranquilas para os dois, percebem que Anísio não pretende sair de suas vidas.

(Curte narrativas sobre crimes? Confira as resenhas de Crimes Fantásticos e Um Martini Com O Diabo)

Velocidade de um filme e desperdício de material

Para o bem ou para o mal, O Invasor, parece mesmo um filme na cadência de seus acontecimentos e no tempo que você gasta com ele. Essa rapidez, além do tamanho do texto e a sensação de que não foi pensado para esse formato, também impede que haja um desenvolvimento apropriado para certas situações que se apresentam. A versão fílmica também tem falhas, mas, pelo menos, parece concebida realmente para a tela.

Marçal Aquino passa a impressão de esboçar algo que não chega a acontecer de fato. Existe ali a interessante leitura de uma revanche por parte de uma categoria de gente que faz o trabalho sujo da elite, mas isso acaba apenas na superfície. Poderia entregar algo um tanto mais ambicioso, mas deixou apenas  um mini thriller para consumo rápido.

Para os que moram em São Paulo, pode haver um atrativo a mais nos locais familiares por onde os personagens transitam. Mesmo assim, justamente pela correria dos acontecimentos, não há muita preocupação nas descrições. Não espere encontrar algo que só poderia ser escrito por um morador, pelo menos, algo interessado na psicogeografia de uma cidade peculiar. O uso da metrópole como personagem também é um recurso esquecido ou ignorado.

Os diálogos oscilam. Narrado em primeira pessoa por Ivan, o livro vai chamar atenção do leitor mais atento e crítico em certas observações feitas pelos personagens. Um cuidado maior na elaboração dessas falas seria muito bem vindo, aproximando o público de seu narrador. Não é algo que falhe o tempo todo, mas é um fator crítico para o nosso envolvimento.

Resenha do livro O Invasor, de Marçal Aquino

Paulo Miklos como Anísio no filme de Beto Brant.

Apesar de tudo, diverte

Tendo em mente que não se trata de um Rubem Fonseca, O Invasor cumpre bem seu papel de preencher o tempo ocioso. Sobretudo nas situações abordadas anteriormente. Fora a diversão passageira, não deixa de ser um exercício interessante comparar livro e filme, já que ambos têm seus próprios pontos fracos e fortes.

Quem viu o longa de Beto Brant percebe que a obra poderia ter uma cara completamente diferente, com personagens-chave interpretados por atores de tipos físicos bem diversos. Cada um com seu julgamento sobre qual das duas versões é melhor.

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