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Abarat – Clive Barker para menores!

Clive Barker fora do seu ambiente natural

Qualquer consumidor de literatura fantástica associa imagens muito específicas ao nome Clive Barker. Famoso, principalmente, pelo sadomasoquismo sangrento, escatológico e sobrenatural de Hellraiser, o britânico já se aventurou no terreno infanto-juvenil com Abarat. A série de cinco livros começou em 2002, com a Companhia das Letras lançando o primeiro volume por aqui algum tempo depois. Parou por aí, o que torna improvável a continuidade da saga no Brasil pela mesma editora.

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Na verdade, capa e contra-capa da edição não informam o leitor que se trata do primeiro de uma série. Esse detalhe só aparece na orelha e tem um grande potencial de frustrar os desavisados. Admitindo que esse detalhe já desanima quem tiver alguma curiosidade pelo trabalho, é bom ter em mente também que o Livro 1 é nada mais que um prólogo da verdadeira história. E agora você pergunta: “Que história?”.

A pré-adolescente Candy Quackenbush vive em Galinhópolis, em algum lugar do meio oeste norte-americano. Absolutamente entediada com a vida pacata e sem-graça da cidade, ela também é uma completa desajustada entre as meninas de sua idade. Atormentada pelas colegas de escola e pelo próprio sistema educacional local, também tem seus problemas familiares.

Subitamente, Candy é atraída para outra dimensão, onde se localiza o arquipélago de Abarat, com cada ilha representando e assumindo características de cada hora diferente do dia. Dentro desta lógica fantástica, tempo e espaço não tem a mesma relação que existe em nosso mundo. A menina descobre uma série de criaturas fantásticas, passeando por geografias que fazem jus à conhecida imaginação de Clive Barker. Mas por qual motivo ela teria chegado até ali?

Claro que o lugar tem seu vilão associado ao horário da meia-noite. Cristóvão Carniça tem um plano diabólico em curso, enquanto nutre um misterioso interesse por Candy. A protagonista, sentindo-se à vontade demais para uma recém-chegada, suspeita que sua relação com Abarat vai além do mero acaso e, voilá, temos um chamado heroico de uma predestinada relutante.

Se os clichês citados já incomodaram, é bom pensar duas vezes antes de arriscar. Paradoxalmente, Barker arriscou-se fora de sua especialidade, mas Abarat se movimenta completamente dentro daquela zona de conforto conhecida na fantasia infanto-juvenil. Claro que é preciso reconhecer que adultos não são o público-alvo, então, a repetição estrutural pode não ser um problema, dependendo da idade do leitor.

Mas estamos falando de um livro de Clive Barker. É exatamente isso que pode atrair faixas etárias mais avançadas, nem que seja por curiosidade.

Resenha de Abarat, de Clive Barker

“Ah, mas eu amo o autor e os clichês não me incomodam!”

Supondo que você tenha pensado isso há poucos segundos, é preciso novamente salientar o agravante da ausência de continuidade da série no Brasil. O problema aumenta se você for presentear um pré-adolescente, que também vai frustrar-se. Em termos de estrutura, esse livro só se presta a apresentar vários seres e ambientes mágicos, como se ele fosse um trailer enorme. No fim, uma obra que, isoladamente, só evidencia uma qualidade: a criatividade.

É muito prazeroso descobrir as ilhas de Abarat, conhecendo seus habitantes e o funcionamento de cada local. Mariposas gigantes, criaturas aquáticas que vivem na superfície do mar, lulas vivas que servem como telescópio quando agarradas em nossos rostos e seres de tecido recheado com barro, animados magicamente.

Com o sinistro Carniça, a coisa se torna mais reconhecível aos fãs de Barker, apresentando um personagem que tem pequenos pesadelos visíveis que nadam em um respirador em volta de sua cabeça. Os capangas também exibem esse lado mais macabro.

As ilustrações do próprio autor atraem qualquer um que folhear o livro. No decorrer da leitura, elas servem como um divertido complemento do texto e estimulam os mais novos a embarcarem na aventura. Passado esse deslumbramento, esse desfile de tipos exóticos e o passeio pelas ilhas revela-se somente isso. A história não decola porque simplesmente não parece querer sair da apresentação. Acaba, inclusive, deixando pontas soltas demais.

Mostra-se tanto neste início e essa parece ser a única preocupação, indo de um lado a outro para encontrar novos personagens e novas paisagens. São 440 páginas apenas para contextualizar os leitores para o próximo volume.

Resenha de Abarat, de Clive Barker

Cristóvão Carniça e seu empregado, Vivaldo Stampa.

Lembre-se que a idade importa aqui…

O fã de Cliver Barker mais dedicado e radical acaba conferindo, é claro. Quem ainda vai fazê-lo, é bom estar preparado. No fim das contas, o escritor queria agradar a gurizada. Neste caso, são eles que decidem se ele foi bem-sucedido ou não.

Vai comprar o livro para alguém na faixa dos doze anos? Neste caso, existem grandes chances de ser um bom presente. Se você decidir arriscar nesta condição, só torça para que os próximos livros sejam publicados, ou a reclamação pode ser grande.

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