Uma pequena lista – feita por um bom menino – de livros sobre Natal!
Ok, vamos começar de maneira meio polêmica: o Natal é um grande mito. Tudo o que o cerca, quando observado pelo prisma histórico, é um catadão caótico de lendas, reinterpretações e apropriações feitas através da história. Na prática, nada o justifica – mas, ainda sob esse prisma, poucas “tradições” têm realmente alguma justificativa prática no século XXI.
Para nós, graças à herança dos nossos colonizadores intelectuais europeus, nos acostumamos a ver imagens singelas de flocos de neve e pinheiros decorando nossas paisagens tupiniquins castigadas por temperaturas cáusticas em pleno verão – quando alguém duvidar do poder dos mitos, mostre qualquer imagem de bonecos de urso polar usando cachecóis adornando algum cenário brasileiro e apenas assista essa doce e sofrível contradição ganhando contornos na expressão da pessoa.
Mas, bom humor e polêmicas de lado, fato é que o Natal é uma das datas que mais povoa o imaginário fantástico ocidental. Dada sua inocência inata, é uma data que busca inspirar e trazer o melhor de nós à tona. Por esse motivo, algumas das maiores mentes criativas da história recente da literatura deram seu melhor para oferecer sua própria interpretação sobre os valores de bondade e generosidade que o Natal inspira. Você pode até ser meio cínico e ranzinza como esse colunista, mas isso não deveria impedí-lo – como não me impede – de fruir dessas singelas obras imortais de fantasia e contos de fada sobre a exegese natalina.
Nossa lista, como de hábito, não têm nenhum critério de ordem ou qualidade. São apenas grandes autores que escreveram grandes histórias que, de alguma forma, ajudaram a engrandecer o mito. Sejam boas meninas e meninos, e vamos à lista!
VOCÊ PODE COMPRAR CADA UMA DESSAS EDIÇÕES CLICANDO NA IMAGEM DA CAPA!
-
Um Conto de Natal – Charles Dickens (A Christmas Carol, 1843)
Ebenezer Scrooge é um homem avarento que abomina a época natalícia. Trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, o seu pobre, mas feliz empregado, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo frágil Pequeno Tim, que tem um problema congênito nas pernas.
Numa véspera de Natal, Scrooge recebe a visita do seu ex-sócio Jacob Marley, morto há sete anos naquele mesmo dia. Marley diz que o seu espírito não pode descansar em paz, já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma chance, e que três espíritos o visitarão.
Os três espíritos, do Natal passado, presente e futuro, mostram para Scrooge uma perspectiva do que sua vida se tornará se continuar a trilhar esse mesmo caminho. O final, todos conhecemos bem – após um futuro lúgubre e uma morte no oblívio, Scrooge decide tomar outro rumo na vida, adotando a generosidade e a caridade.
Ainda hoje, a moralidade simplista, mas impactante de Um Conto de Natal ressoa em nós, tornando-o uma história de Natal que vai muito além da sua data temática.
-
Cartas do Papai Noel – J.R.R. Tolkien (The Father Christmas Letters, 1976)
Deve ter sido incrível para John, Michael, Christopher e Priscilla serem filhos do maior escritor de fantasia de todos os tempos. Porque, além de todo o seu talento profissional, fosse em sua cátedra em Oxford ou delineando os contornos de sua Terra-Média, Tolkien também era um pai dedicado, e usava seu grande talento para oferecer aos seus filhos histórias que ficaram marcadas em suas memórias. Felizmente, dado seu imenso sucesso como escritor, seus filhos decidiram que talvez suas histórias não fossem somente boas para eles, mas talvez para todos. E como eles estavam certos…
Prova disso é Cartas do Papai Noel, compilação que reúne “cartas” escritas pelo administrador do Pólo Norte relatando as desventuras locais para o filhos de Tolkien. A primeira delas chegou em 1920, quando o primeiro filho de Tolkien, John, tinha apenas 3 anos de idade. Por mais de 20 anos, durante a infância dos três outros filhos ,elas continuaram chegando. Quando as novidades vinham cedo, era o carteiro que trazia a carta, mas sempre havia um novo envelope na véspera de Natal – e as respostas das crianças desapareciam da lareira quando não havia ninguém por perto.
A dedicação de Tolkien em engambelar deliciosamente seus era tamanha, que, quando chegamos ao final das compilações, o que eram apenas relatos do Papai Noel já haviam se tornado uma narrativa com inúmeros personagens e situações – com destaque para o atrapalhado Urso-Polar.
Tolkien faz parecer realmente fácil criar mundos de fantasia debaixo do nosso nariz…
-
O Quebra-Nozes e o Camundongo Rei – Ernest T. A. Hoffmann (Nussknacker und Mausekönig, 1816)
Marie, de sete anos, e seu irmão Fritz , filhos de Jans Stahlbaun, esperam ansiosos os presentes que irão receber no Natal, em especial os presentes de Drosselmeier, o padrinho de Marie, que, por ser inventor e relojoeiro, sempre tinha os mais diferentes e criativos brinquedos. Porém, nesta noite, Dindo, como é carinhosamente chamado pelas crianças, chega um pouco atrasado, aumentando a angústia das crianças. Ele reserva à afilhada uma dádiva especial: um quebra-nozes, que traja um uniforme de soldado, deixando a garota encantada.
Infelizmente, o boneco é quase que imediatamente danificado por seu irmão, mas Marie está decidida a recuperar o presente. Ao colocá-lo no armário, o boneco ganha vida e pisca para Marie. Ela se assusta, mas acha que tudo fora apenas imaginação. Não foi. E aquela nem seria a coisa mais estranha da noite. Camundongos começam a sair de debaixo das tábuas do assoalho, incluindo o Rei dos Camundongos de sete cabeças. Marie, assustada, escorrega e coloca o cotovelo através da porta de vidro do armário de brinquedos. Então, como que num passe de mágica, os bonecos ganham vida.
O Quebra-Nozes assume o comando e lidera os brinquedos na batalha contra os camundongos. No começo, os brinquedos conseguem uma vitória, mas, rapidamente, os camundongos começam a esmagá-los. Marie, ao ver que o Rei dos Camundongos iria tomar seu Quebra-Nozes como prisioneiro, tira seu sapato e o arremessa em direção ao camundongo. E assim começa o grande conflito entre uma menininha contra o rei dos roedores pela supremacia – ao menos, em uma noite de Natal.
O conto de Hoffmann começa como as melhores histórias – de maneira aparentemente despretensiosa. Mas a escalada garante a diversão. Quando menos esperamos, a coisa toda já virou de ponta-cabeça, e estamos envolvidos em uma trama de contornos épicos. Se parece desinteressante descrito dessa forma, lembramos ao amigo leitor que a história foi interessante o bastante para fazer Alexandre Dumas traduzir a história para o francês, cuja versão inspirou Tchaikovsky a compor sua famosa peça de balé. Crédito o bastante, não?
(Falando em crédito, a recente adaptação parece não ter muito…)
-
O Abeto – Hans Christian Andersen (The Fir-Tree, 1844)
Você pode conhecer esse conto por uma de suas traduções anteriores aqui no Brasil – “O Pinheirinho”. Francamente, mais fofo e encantador que “O Abeto”. Mas nada que prejudique a fruição desse delicioso conto do lendário escritor de fábulas dinamarquês.
Como em todos os outros contos de Andersen, O Abeto pretende uma moral, que é auto-explicativa, sim, mas que, para nós, pode carecer um pouco de contexto. Afinal, como apontamos nos primeiros parágrafos do texto, o imaginário visual eurocêntrico do Natal e seus símbolos invernais pouco condizem com a realidade veraneia do hemisfério sul no mesmo período. Isso implica em diferenças de símbolos e seus significados.
Para os europeus, o pinheiro é uma árvore que representa resignação e resistência, pois ela perdura e sobrevive ao rigoroso inverno do Velho Mundo. Para nós, é apenas uma estranha escolha – faria muito mais sentido propagarmos os coqueiros de Natal. Começo aqui essa campanha.
Mas enquanto isso não pega, tendo a noção do significado do pinheiro em mente, podemos absorver melhor a metáfora usada por Andersen em seu conto, que possui tanto a habitual qualidade quanto a habitual melancolia. No pequeno conto, um pequeno pinheiro aspira ser mais do que o que a natureza lhe permite – e os humanos, como sempre, o farão entender isso da pior maneira possível.
O Natal pode ser uma época de celebração, mas como muitos desses escritores nos lembram, é também uma época de reflexão.
-
Como o Grinch Roubou o Natal – Dr. Seuss (How Grinch Stole Christmas, 1957)
Bom, esse aqui é uma escolha meio óbvia, já que graças tanto ao desenho de 1966 do fenomenal Chuck Jones, quanto ao personagem interpretado por Jim Carrey, e também provavelmente ao novo esforço em animação lançado esse ano, o Grinch é praticamente sinônimo de Natal. Ou, pelo menos, sinônimo daqueles meio ranzinzas com a data, o que não deixa de ser uma homenagem deste colunista para ele mesmo, assim como os outros editores do Formiga que, em algum momento das suas vidas, certamente já foram comparados ao personagem de Seuss.
A história é outro clássico: o Grinch, criatura ranheta, odeia o Natal por toda a bagunça, barulho e, principalmente, pela obrigação de ter que estar feliz juntos com todos (a identificação é forte até aqui). Ele decide então roubar o Natal da vila dos Quem, um povo excessivamente obcecado com essa data e seus significados. O Grinch dedica todos os seus dias para armar um plano infalível de como azedar o “banquemte” de todos os Quem, roubando todos os presentes com uma ideia mais que ardilosa. Entretanto, no meio das suas atrapalhadas investidas, ele conhece Cindy Lou, uma menina que, aos poucos, vai derretendo o gélido coração da criatura. Ao final, o Grinch acaba tendo que reconhecer que o Natal é mais importante que presentes e comida, e aprende um pouco do significado da data.
Seja no livro original de 57 ou nas adaptações em animação e live-action, a empreitada fracassada do Grinch e suas lições aprendidas continuam divertidíssimas até hoje. Muito mais do que o próprio Natal em si. Ou talvez seja apenas o fato de que ainda não conhecemos nenhuma Cindy Lou por aqui para derreter nossos corações.
É isso aí! Gostaram da nossa lista? Não deixem de curtir, comentar e, claro, compartilhar. Afinal de contas, o Natal é exatamente sobre isso, não é mesmo?
Hohoho!