Quando O Segredo de Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, Argentina, 2009), de Juan José Campanella, venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro, nossos hermanos provaram o que muitos já sabiam: Eles sabem escrever e conduzir uma boa estória. Chancelado pela academia e contando com Ricardo Darín na linha de frente, a película realmente tinha cacife para tanta repercussão. Passou um tempo e veio o anúncio de que a obra seria refilmada pelo diretor e roteirista Billy Ray, cujo crédito de maior sucesso é o roteiro do primeiro Jogos Vorazes, lançado em 2012. Para não prejudicar a experiência ao assistir a Olhos da Justiça (Secret in Their Eyes), resolvi não reassistir o original, que havia visto em 2010. Algumas coisas ainda estavam na memória, como o famoso plano seqüência do estádio de futebol e o final impactante. Foi uma boa decisão, pois a versão americana tem bastante a acrescentar.
Não chega a ser uma novidade a grande indústria cinematográfica pegando sucessos de outros países e fazendo suas próprias versões. Às vezes acerta, como aconteceu em 2006 com Os Infiltrados (The Departed), versão de Scorsese para o sucesso Conflitos Internos (Mou Gaan Dou), feito em Hong Kong quatro anos antes, que rendeu até um Oscar para o celebrado diretor. Porém, na maioria dos casos, as coisas não dão tão certo, pois os norte-americanos “mastigam” mais a estória para entregar ao seu público, o que acaba diminuindo o impacto de certas cenas. O interessante nessas situações é como eles trazem as coisas para sua própria realidade. Nesse quesito, Olhos da Justiça foi muito bem adaptado, apesar de uma direção um pouco frouxa.
Para quem não conhece a sinopse, trata-se de um investigador (Chiwetel Ejiofor) atormentado por um crime cometido há 13 anos. Ao encontrar um suspeito desaparecido na época, ele tenta finalizar o caso e provoca uma série de emoções conforme revira o passado. Servindo-se de dramas particulares próprios dos EUA como nação, além de preservar o clima do original, o novo filme passa credibilidade. A fotografia manteve-se sombria e a elaborada cena do estádio também está lá.
Além da vantagem de algo já aprovado pelo público, o filme teve consultoria do próprio Campanella, também co roteirista do original, e ainda pôde contar com um elenco de estrelas: Julia Roberts, Nicole Kidman, Chiwetel Ejiofor, de 12 anos de Escravidão, o bom e velho Alfred Molina e dois coadjuvantes conhecidos mais pelos seus trabalhos em séries de TV: Dean Norris, de Breaking Bad, e Michael Kelly, de House of Cards. Vale observar que é um elenco de peso para o tamanho do filme, mesmo que o trio mais famoso (Roberts, Kidman e Molina) já não seja mais tão celebrado como antigamente, mas nem por isso deixa de acrescentar algo à produção.
Nicole Kidman tem lampejos dos bons tempos, mas não pareceu tão integrada. Um tanto blasé, visualmente não tem mais o mesmo vigor e passa a impressão de não querer estar ali. Já Julia Roberts, que despiu-se totalmente de vaidade para um papel tão sofrido, dá aula. Focada e bastante adaptada ao papel, ela ainda é a atriz de Erin Brockovich. O principal problema no filme é justamente a diferença dessas interpretações na comparação com Chiwetel Ejiofor, o ator principal. Infelizmente, ele não demonstrou estar no nível de seus parceiros, o que prejudica um pouco a identificação com seu protagonista. A diferença fica gritante em certas cenas, como a da lixeira, um momento onde se tem saudades de Ricardo Darín.
Para quem viu o original, o final não traz muitas novidades, mas ainda assim vale a pena pelo elenco, pela adaptação e bom nível técnico. Se você não viu, vai ser recompensado com uma boa estória e um bom final (apesar de mais óbvio e de alguns sorrisos finais de gosto duvidoso).