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Todos Já Sabem – Suspense com acertos e erros!

Todos já sabem tem boas intenções, mas também alguns problemas

O novo filme do iraniano Asghar Farhadi (O Passado), Todos Já Sabem (Todos lo Saben, 2018), é um suspense competentemente construído, mas que acaba deslizando em alguns momentos ao estender demasiadamente a dramatização de algumas sequências, prejudicando talvez a sensibilização que determinadas cenas poderia provocar.

todos já sabem

Na trama, Laura (Penélope Cruz, de Escobar: A Traição e Assassinato no Expresso do Oriente), uma espanhola que vive na Argentina, viaja com os dois filhos para sua cidade natal na Espanha a fim de marcar presença no casamento da irmã caçula, Ana (Inma Cuesta). Perambulando pela cidade, Laura encontra um antigo amor da adolescência, Paco (Javier Bardem, de Mãe) que agora está casado com a doce professora Bea (Bárbara Lennie). À noite, durante a festa, a filha mais nova de Laura, Irene (Carla Campra), desaparece. O caos e o desespero imperam, segredos e confissões brotam na tentativa de resgatar a adolescente sequestrada.

A narrativa é conduzida por Farhadi solidamente. O suspense em torno do desaparecimento da adolescente traz elementos ao espectador que provocam questionamentos sobre possíveis participantes ou mentores do crime que estejam próximos à família. E tudo isso é bem arquitetado desde o início do filme, já que o diretor cria situações e elementos que nos fazem acreditar e questionar a veracidade dos fatos – como a aproximação de cada personagem com a família da garota sequestrada. Farhadi desenvolve um quebra-cabeça interessante, e que ajuda a suavizar o longo tempo da exposição de cenas.

Problemas de ritmo

E esse é o problema encontrado em Todos Já Sabem. A história é desenvolvida através de um ritmo deveras cansativo. E o problema é ainda maior com o epílogo que não surpreende, infelizmente, devido a condução atropelada de Farhadi para os momentos finais da revelação e resolução do crime.

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E para condenar o já condenável, a última cena parece incompleta. Não obstante, é necessário pontuar e salvaguardar pelo menos um interessante momento no epílogo, que traz incertezas a nós espectadores sobre a credibilidade ou não de uma certa revelação proferida por um dos personagens.

Salvos pelo elenco

Já o elenco é impecável, principalmente na figura de uma versão mais envelhecida e maternal da atriz Penélope Cruz. Javier Bardem também desponta como o amor da vida de Laura. Mesmo que a distância e o tempo tenham se esvaído, é perceptível o carinho que um nutre pelo outro. Já Ricardo Darín não demonstra todo o potencial como o ator que é, ou como mundialmente ficou conhecido.

Interpretando o marido de Laura, Alejandro (que havia ficado na Argentina por problemas pessoais e não viajou com a família para o casamento), Darín tem pouquíssimo tempo em tela. Talvez o suficiente ou o insuficiente. Digo isso porque o seu personagem cumpre o papel estabelecido na narrativa, mas é mal aproveitado pelo diretor, que poderia ter lhe dado um tempo maior em tela; assim como também estabelecer um leque nas relações do personagem com a família de Laura.

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Do ponto de vista técnico, a fotografia não impressiona, mas é competente no trabalho. Farhadi trabalha com bastante sombras entrecortadas e uma luz barroca elegante, com destaque para a cena da festa de casamento e, notavelmente, a sequência do corte do bolo. Ali, a disposição dos personagens está em harmonia com o todo – uma representação da felicidade e união familiar que precede o trágico destino que envolve o sequestro de Irene.

Por fim, e um importante detalhe: questões envolvendo disposições e vendas de terra trazem a tona discussões sobre reforma agrária, assim como a árdua luta e conquista do campesinato por uma moradia da qual desejam tirar o seu sustento. Na interpretação deste crítico, talvez um crime tão ruim quanto o sequestro, levantado por Farhadi neste filme, seja o sequestro (o usurpar) das terras camponesas pelos grandes latifundiários.

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