O Protetor 2 é mais equilibrado que o primeiro
Lançado em 2014, O Protetor – remake homônimo de uma série de TV dos anos 1980- reuniu o ator Denzel Washington (Um Limite Entre Nós) e o diretor Antoine Fuqua, dupla do ótimo Dia de Treinamento. Tínhamos ali um filme com todos os clichês oitentistas – que vão desde o herói misterioso e invencível até vilões 100% malvados. Porém, chocava pela brutalidade e violência, pois o protagonista era uma espécie de MacGyver mortífero e conseguia acabar com todos os seus inimigos com qualquer objeto, como um copo ou um livro. Grande sucesso de público, era óbvia uma continuação e ela chega agora: O Protetor 2 (The Equalizer 2). Apesar da proposta ser exatamente a mesma, o novo longa se mostra mais bem feito que o anterior.
Ainda seguimos o herói Robert McCall, agora trabalhando como motorista de Uber e com a mesma rotina do filme anterior: gosta de ajudar as pessoas, mas – de vez em quando – usa suas habilidades especiais de ex-agente da CIA para matar bandidos. Tudo está indo bem até o assassinato da sua amiga Susan (Melissa Leo), que aparentemente aconteceu durante um assalto em Bruxelas. Robert decide descobrir o que aconteceu com ela com a ajuda do seu antigo parceiro, Dave (Pedro Pascal, de Kingsman: O Círculo Dourado).
Bom, deu para perceber que o primeiro ponto que faz O Protetor 2 superior ao primeiro é a simplicidade da trama. Nada brilhante, já que envolver o herói de passado misterioso em um assunto pessoal é um clichê batido, mas entrega algo um pouco mais coerente do que o personagem simplesmente matar todos os membros da máfia russa, como vimos na aventura anterior. Não que o roteiro de Richard Wenk – o mesmo do primeiro – seja um primor, mas é funcional no que propõe. Principalmente na relação criada entre McCall e o jovem Miles (Ashton Sanders de Moonlight), que até lembra a dinâmica entre ele e a jovem stripper no filme de 2014. Mas essa realmente é bem desenvolvida, criando uma relação paternal convincente.
Óbvio que há problemas, como o excesso de barriga que o filme tem até a trama realmente engatar. São 40 minutos para mostrar como McCall é uma pessoa bondosa, índole inquestionável e um forte senso de justiça. A trama perde um tempo considerável em uma dessas subtramas com os clientes do herói, especialmente a de um senhor polonês que perdeu sua irmã no Holocausto. No entanto, não chega atrapalhar.
Aprendendo a decupar
Admito que tenho um problema com o diretor Antoine Fuqua, cuja preguiça me irrita demais em certos momentos. Parece que ele simplesmente escolhe a dedo as cenas que terão um cuidado especial na decupagem (a preparação da cena, com as escolhas dos planos e dos cortes). Isso poder ser visto nos seus últimos filmes como o primeiro O Protetor, o fraco Nocaute e o dispensável remake de Sete Homens e Um Destino. Mas aqui parece que o diretor realmente teve um cuidado no filme como um todo. Arrisco dizer que seja por conta da troca da direção de fotografia, antes de Mauro Fiore e agora do veterano Oliver Wood, da trilogia Bourne inicial. Vemos uma filmagem mais elegante e um cuidado maior na escolha de planos.
Outro ponto que a direção se mostra mais competente está nas sequencias de ação, agora melhor coreografadas e filmadas. Também diminuíram um pouco os “super poderes” de McCall. Antes era muito fácil ele matar os assassinos mais cruéis do mundo, agora vemos na expressão de Denzel Washington as dificuldades físicas de fazer seus movimentos e o vemos sangrar, deixando o herói mais humano. As cenas estão menos absurdas, porém mais brutais. Algumas realmente chocam pela violência gráfica. Uma sequência que merece ser mencionada é o clímax, onde vemos o protagonista usando mais a inteligência tática que os músculos para vencer os vilões, com vários planos abertos para mostrar a geografia do lugar. Isso mostra uma evolução do diretor.
O elenco do filme se se sai muito bem. Com destaque para o sempre competente Pedro Pascal, que consegue criar um personagem ambíguo com motivações claras, e o jovem Ashton Sanders mostra que realmente é um talento a ser observado, principalmente ao aguentar muito bem as cenas em que contracena com o veterano Denzel Washington. Aliás, Washington continua sendo um dos grandes pilares do filme. Além do enorme carisma, essa continuação dá material para que o ator crie um personagem mais complexo. Mesmo com momentos em que faz cara de mau para a câmera, há espaço para que ele prove que é um dos grandes atores de sua geração.
Mesmo sendo um produto saído da linha de consumo de Hollywood, O Protetor 2 é eficiente em sua proposta. Ágil, tem boas cenas de ação e um ator do calibre do Denzel Washington como protagonista. Se vier o terceiro, não vou reclamar.