Mesmo não superando o primeiro, Deadpool 2 não decepciona
Seguindo a regra das continuações, Deadpool 2 (idem) chega com aquilo que todo mundo espera. Uma produção no mesmo estilo do primeiro filme, só que maior e livre da obrigação de contar uma história de origem. Isso é animador para os fãs das HQ’s do personagem* e para quem curtiu bastante o anterior. O escopo mais ambicioso e a liberdade maior, no entanto, não garantem por si só um filme melhor, ainda que esta sequência esteja longe de ser ruim.
*(Leia também a resenha de Deadpool: Caçador de Almas)
Sem entregar muita coisa da trama, Deadpool (Ryan Reynolds) tem seu caminho cruzado por Cable (Josh Brolin), um misterioso viajante do tempo determinado a assassinar um jovem mutante. Por razões muito pessoais, o mercenário com fator de cura fará de tudo para evitar que isso aconteça. Esse cenário permite mais tiradas que contemplam os leitores dos quadrinhos e o público dos filmes de super-heróis. A metralhadora de gags tem como alvo óbvio os exemplares do universo mutante da FOX, mas sobra para toda Marvel nos cinemas e até para a concorrente.
Esse caráter anárquico e descompromissado funciona bem, temperado com a quebra da quarta parede (veja nosso vídeo sobre o assunto) que caracteriza o protagonista. O humor, é claro, não poderia ficar apenas no conceitual e entrega doses generosas de violência gráfica pastelão. Como bônus, participações especialíssimas de Terry Crews e Bill Skarsgård, como integrantes do hilário grupo X-Force, garantem um dos melhores momentos do filme, com direito a várias surpresas.
Mexendo em time vencedor
Com um orçamento apertado, Tim Miller emplacou um produto rentável para a Fox em 2016. A notícia sobre sua substituição em Deadpool 2, cujos motivos seriam divergência criativas entre ele e Ryan Reynolds (agora creditado como co-roteirista), foi uma surpresa. O substituto David Leitch (diretor do insosso Atômica) não decepcionou na função, saindo-se bem naquilo que costuma ser a grande fraqueza em várias produções recentes. A decupagem e edição das cenas de ação, agora maiores, não embolam a percepção do espectador. São sequências que se mantém claras e não perdem o foco, tornando-se o grande acerto do filme.
Além disso, em um filme onde não se leva muita coisa a sério, a própria deficiência do CGI se torna motivo de piada. Já que o que vale é fazer gozação, melhor para o diretor que pode preocupar-se com outros detalhes. Mesmo assim, Leitch acaba sabotado pelo roteiro escrito por Reynolds e a dupla do original, Rhett Reese e Paul Wernick. Se a ideia geral é interessante e as piadas engraçadas, na maior parte do tempo, a progressão dos acontecimentos não soa tão natural.
No primeiro filme, a narrativa se desenvolvia de maneira orgânica. Em Deadpool 2 uma coisa não parece muito bem ligada à outra. O incidente que abre o filme acaba um tanto esquecido logo à frente, criando um ar episódico inconveniente ao conjunto. Encostando em duas horas de duração, dez minutos a mais que o antecessor, também acaba esticando certas situações mais do que deveria.
Aguenta o terceiro round?
Mesmo acertando mais do que errando e divertindo em uma boa escala, a quantidade de piadas metalinguísticas deixa dúvidas no ar: sobrou algo para uma eventual continuação? Em caso afirmativo, a fórmula do protagonista louco e desbocado em uma comédia de ação super-heroica e violenta vai manter o apelo? De qualquer forma, especulações sobre o destino da franquia e o fôlego do conceito não importam tanto agora.
Independente do futuro (não foi trocadilho…), Deadpool 2 se sai bem em um cenário geral. A falha de ritmo é evidente, mas não estraga a sessão do seu público-alvo. É bem sucedido até na reciclagem de uma ou outra piada e entrega cenas de ação decentes. Em se tratando de um filme com essa proposta, está bom demais.