A Segunda Guerra Mundial nunca sai de moda no cinema. Vai ano e vem ano, produções cinematográficas de orçamentos variados aparecem com o tema, algumas aprofundam mais e outras menos. Corações de Ferro, nome original Fury, é mais um exemplo e está aí para entrar na estatística. Agora, será que conseguiu não ser apenas mais um na multidão?
A direção deste longa, de alto investimento, ficou a cargo de David Ayer que há alguns anos atrás, mais precisamente em 2001, foi o responsável pelo roteiro da boa ação Dia de Treinamento, com Denzel Washington e Ethan Hawke. Não tem ainda uma carreira segura como diretor, mas ganhou pontos em Marcados para Morrer, filme de 2012, com Jake Gylenhall (O Abutre) como protagonista. Atualmente está aparecendo mais por seu envolvimento em Esquadrão Suicida, filme em fase de desenvolvimento, mas já bastante comentado pelos fãs das HQs do Universo DC.
Na produção requintada de Corações de Ferro, Ayer conta com a ilustre presença de Brad Pitt no elenco, obviamente um ponto atrativo para o público em geral. Ele interpreta Don, um sargento americano que lidera uma equipe de soldados, dentro de um tanque chamado Fury, vivendo os momentos finais da Segunda Guerra Mundial em Abril de 1945. Ao retornar à base americana na Alemanha nazista, após mais uma difícil missão, Don e sua turma recebem um trabalho final, ainda mais perigoso, dentro do território inimigo… A sinopse básica é essa.
O ponto mais sólido neste filme é a ambientação. A bela fotografia retrata bem a Segunda Guerra e traz cenários detalhistas provando que o longa teve gente de qualidade atrás das câmeras, além do elenco hollywoodiano caro. Somando ainda cenas de ação bem montadas (às vezes um pouco exageradas), o caminho seria interessante se o roteiro não deixasse a desejar. É aí meus amigos, onde mora o perigo…
Começando pelos personagens principais, a turma do tanque Fury eleva a palavra “clichê” à proporções consideráveis. Nada mais desanimador do que acompanhar comportamentos previsíveis em uma trama qualquer, ainda mais em uma história de guerra. A sua disposição estão o sargento exigente e temido (Brad Pitt), o soldado inconsequente (John Bernthal) e o de origem latina (Michael Peña). Para balancear, temos sempre o mais intelectual (Shia LaBeouf). Brutos, mas no fundo todos tem um bom coração, é claro. Complementando o grupo de valentões, não poderia faltar a figura do calouro, interpretado por Logan Lerman (o bom menino do interessante As Vantagens de Ser Invisível). Ele é aquele que aparece na última hora e é o entretenimento dos veteranos, até provar sua bravura em algum momento.
Se não bastassem estes estereótipos manjados, os alívios cômicos não aliviam (desculpem o trocadilho…) e a inserção romântica na trama, protagonizada pelo novato, não convence. Entre brigas internas e violência, o espectador caminha para chegar ao clímax cheio de dramaticidade e muito barulho, onde o grupo irá mostrar que alí tem macho… Nazistas, somos americanos e vocês estão lascados!
OK, não vamos pegar tão pesado com o filme. Não é ruim e tem suas virtudes. Se a sua procura é por ação bem executada e cenários harmônicos com a proposta, terá um filme competente. Agora, se você está atrás de algo menos superficial e personagens para realmente se importar, melhor deixar de lado.
O tema, a fotografia cuidadosa, os papéis dramáticos e o heroísmo americano acentuado não enganaram também os votantes da Academia de Hollywood. Se era desejo do diretor ser lembrado pelo Oscar, foi ignorado. David Ayer teve melhor resultado quando foi direto, objetivo e mais genuíno, como no seu filme anterior, a ação policial Marcados para Morrer. Fica então uma pergunta: faltava muito para esta rica produção ter um roteirinho mais bem escrito?
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