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Ad Astra: Rumo às Estrelas – Humano, demasiado humano!

A viagem espacial e a busca individual se confundem em Ad Astra: Rumo às Estrelas

Em uma indústria cada vez mais carente de material original, sobretudo em matéria de Ficção Científica, é um alento que um profissional como James Gray (Z: A Cidade Perdida) se disponha a encarar um projeto desta natureza. Não apenas um contador de histórias competente, este nova-iorquino está bem além do rótulo de operário hollywoodiano e merece ser chamado de “autor”. Com Ad Astra: Rumo às Estrelas (Ad Astra), ele se arrisca em um gênero dificílimo no mundo dos filmes de grande orçamento, contrastando a vastidão do espaço com o intimismo da jornada do protagonista.

Crítica de Ad Astra Rumo às Estrelas

Roy McBride (Brad Pitt, visto por último em Era um vez… Em Hollywood) é um destacado astronauta, vivendo em um futuro mais ou menos próximo, onde nosso sistema solar já foi desbravado em grande parte. Seu pai, Clifford (Tommy Lee Jones) é dado como morto e desapareceu há 30 anos, em uma missão denominada Projeto Lima, buscando a confirmação de vida inteligente fora de nossa galáxia.

Quando uma série de desastres é atribuída a ondas frequentes de radiação cósmica, Roy é convocado para tentar contato com seu pai. O comando revela que acredita que o condecorado Clifford McBride está vivo, em uma instalação orbitando Netuno, supondo ser ele o causador dos surtos radioativos por conta da natureza de sua pesquisa. O protagonista, então, tem a possibilidade de reencontrar o modelo de perfeição que o inspirou pela vida.

O pano de fundo da viagem espacial, com uma ciência mais próxima da realidade, já remete a Interestelar, de Christopher Nolan. A existência de um drama humano centralizado em um protagonista os aproxima ainda mais, porém, ainda existe outro detalhe a destacar neste sentido. Ambos contaram com o mesmo diretor de fotografia, o suíço Hoyte Van Hoytema, aqui também se esmerando para trazer imagens belíssimas do espaço e demais ambientes, garantindo um espetáculo visual que já valeria a sessão.

Mas, como estamos falando de um filme de James Gray, é claro que esse visual seria bem utilizado pela história. O trabalho de Hoytema serve muito bem à natureza do protagonista. A paleta de cores esmaecidas, além da textura geral da imagem, dialoga perfeitamente com a aridez emocional em que Roy se encontra quando o conhecemos. Essa sensação é potencializada pela interpretação contida de Brad Pitt, que talvez não fosse o ator mais indicado, mas, certamente, é o nome forte do elenco e garantiu que a produção acontecesse.

Cumprindo sua tarefa a contento, o ator tinha em mãos um bom texto e convenceu na composição de alguém que já se acostumou ao vazio existencial como se ele fosse regra. Bem provável que a parcela introvertida do público se envolva mais com essa história, identificando-se com esse personagem que incorpora inúmeras angústias e incômodos da nossa vida moderna, quase que quebrando a quarta parede com uma narração que, infelizmente, é um dos pontos a se questionar no conjunto.

O didatismo pesa

O roteiro de Gray e Ethan Gross tem suas previsibilidades, mas compensa isso com a solidez da trajetória do protagonista e seu apelo intrínseco.  Mesmo assim, o filme não escapou da costumeira intuição da indústria sobre a falta de capacidade de interpretação do público, um mal que escapa das mãos dos verdadeiros realizadores e quase sempre é culpa de produtores. É justamente em sua narração voice over que Ad Astra descamba para o meramente explicativo e redundante. Melhor dosado, o recurso não teria pesado e a produção teria evitado subestimar seus espectadores.

Queremos crer que o fechamento também sofreu ingerência do estúdio. A cena e as falas finais, em um segmento que vem depois de um momento que traz a sensação de fim, são miseravelmente inúteis e deixam muito pouco para nossa imaginação. Lamentável, mas não podemos deixar de observar o que mais de bom ele tem a oferecer.

Crítica de Ad Astra Rumo às Estrelas

Segurança narrativa em uma história lenta

Com uma duração de quase duas horas exatas, Ad Astra corria o risco de tornar-se tedioso nas mãos de outro cineasta, mas a dobradinha roteiro/direção faz aqui toda a diferença. James Gray, gostem ou não do que ele fez, consegue trazer vida ao conjunto, já que é claramente uma história que ele queria contar, seja lá por quais motivos. Um argumento a favor disso é que Roy McBride e seu pai carregam traços evidentes em comum com o Cel. Percy Fawcett, de Z.

Com pouquíssimos momentos mais acelerados, que agregam conteúdo conceitual e não quebram a cadência, a estrutura linear do filme dita um ritmo bastante orgânico. Contribuindo para que essa duração pareça menor, a sensação é que Gray, a partir de determinado momento, nos estimula a encontrar sentido nesta busca nós mesmos, compartilhando a sensação do protagonista. Mesmo com um final que mastiga demais, os símbolos vistos pela duração longa deixam material para muita reflexão.

Em um contexto com roteiros originais cada vez mais raros, Ad Astra: Rumo às Estrelas já mereceria atenção por isso. Somando o peso de seu diretor e o teor da obra, se torna imperdível. A Ficção Científica, em suas referências literárias, sempre trabalhou conceitos difíceis de encaixar em audiovisual pela sua natureza macro e consequentes desdobramentos, mas existe essa consciência aqui. Justificada não apenas pela opção de estabelecer protagonismo e arco dramático mais pessoal a um personagem, mas também por interiorizar distâncias cósmicas.

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