Coração de Cowboy não se sustenta, apesar de alguns bons momentos
Muitas são as histórias que abraçam os clichês sem medo e Coração de Cowboy é uma delas. O longa, com direção de Gui Pereira, é sincero em sua declaração de amor à musica sertaneja de raiz, mas seu resultado final é problemático.
Lucca (Gabriel Sater) é um cantor sertanejo que se rende ao pop e suas canções com refrão chiclete, mais preocupado com o sucesso comercial de sua carreira do que com a qualidade de seu trabalho, por influência de sua empresária, Iolanda (Françoise Forton). Quando a vida de pop star perde a graça, Lucca decide voltar para a sua cidade natal e redescobrir seu amor pela música, além de resolver alguns problemas do passado, principalmente com seu pai, Joaquim (Jackson Antunes), que o culpa pela morte de seu irmão.
Todos os arcos narrativos de Coração de Cowboy parecem saídos de um romance escrito por Nicholas Sparks. Temos o protagonista em busca de um sentido na vida, a relação conflituosa entre pai e filho e uma dose de romance para arrematar. Não há o problema nenhum em reprisar essas tramas, mas fica complicado quando todas são mal desenvolvidas. O roteiro,assinado por Pereira, tem dificuldade em criar uma atmosfera que possibilite ao espectador desenvolver empatia com os personagens.
(Confira as críticas de outras duas estreias nacionais: O Paciente: O Caso Tancredo Neves e 10 Segundos Para Vencer)
A todo momento, alguém reforça o que está acontecendo na trama de forma gratuita, o que soa artificial dentro da história. Essa necessidade de explicação se faz presente durante todo o filme, em especial nas cenas que envolvem Lucca e Joaquim. Outro problema do roteiro é a falta de sutileza. Há uma critica ao atual momento da música brasileira, em especial a sertaneja. Por mais que seja um questionamento pertinente, o modo como Pereira desenvolve seus argumentos é infantil. Tudo é muito escancarado e caricato.
Um veterano salva o elenco
Se Pereira não vai bem no roteiro, ele se sai um pouco melhor na direção. Aproveita bem as locações, enfatizando a simplicidade das cidades do interior. Uma pena que isso não salve o filme de cenas constrangedoras, como a do primeiro show de Lucca onde a escolha infeliz dos planos faz parecer que público e cantor estão em locais diferentes. Outro momento complicado envolve uma briga de bar cujas coreografias são ao estilo das apresentadas no Chapolin.
No quesito elenco, Gabriel Sater mostra que em uma presença interessante, apesar de não conseguir convencer nas cenas mais dramáticas. Já Thaila Ayala vive de caras e bocas e mudanças abruptas de comportamento. Se há um nome que carrega o longa nas costas é o do veterano Jackson Antunes. A composição de seu personagem consegue ser mais sutil que as dos colegas de cena, ao ponto de extrair mais dedicação de Sater quando ambos dividem a cena. Não é uma atuação memorável, mas que merece destaque por ser a grande estrutura emocional do longa.
Agora vamos ao problema técnico mais sério de Coração de Cowboy: o som. Todos os personagens parecem que estão falando com um copo na boca, e mesmo em locações externas os diálogos e sons ambiente soam abafados. Um problema comum nos primórdios do cinema nacional, mas que é inadmissível em um longa dos nossos tempos.
Enfim, Coração de Cowboy até que tem sinceridade no seu discurso, mas é um filme esquecível em menos de vinte minutos após o fim de sua projeção.