As produções da Marvel Studios caíram numa armadilha criada por eles mesmos. Depois de Os Vingadores, dirigido por Joss Whedon, era evidente que a expectativa do público subiria, pois a lógica é que o próximo filme seja sempre melhor e mais surpreendente que o anterior, levando em consideração a Marvel como marca, independente do personagem. Provavelmente, alguém já escreveu sobre esse raciocínio ano passado, pois Homem de Ferro 3 decepcionou muita gente, mas ali era evidente que o objetivo não era fazer um bom filme, apenas dar continuidade à franquia. Foi lucrativo, objetivo primordial da casa, mas uma hora o público se enche.
Antes que alguém chore ou queira me matar, se dei a impressão que a nova aventura do super-herói bandeiroso é ruim como o terceiro filme do cabeça-de-lata, desculpem. Não é nada disso! Capitão América 2: O Soldado Invernal está bem acima daquilo, começando pela premissa interessante. Aproveitando agora o espaço maior para explorar os conflitos de viver fora de sua época, o filme mostra Steve Rogers – nome civil do Capitão, se alguém não souber – ainda tentando se adaptar aos novos tempos, enquanto está de prontidão para as missões da agência de espionagem SHIELD. Sob a direção de Nick Fury, ele recebe a tarefa de liderar uma equipe, para salvar um navio da agência tomado por piratas, uma bela deixa para a boa primeira sequencia de ação. Com direito à participação do lutador de MMA Georges St. Pierre, interpretando um vilão dos quadrinhos, o início do filme é bastante promissor e empolga até o mais chato fã de Hq.
A partir disso, o filme insinua uma bela crítica à política norte-americana, nas discussões entre o Capitão e Nick Fury, sobre a legitimidade e a ética de ações preventivas ao redor do mundo. Dentro desses questionamentos entre fins que justificam meios, os personagens descobrirão algo muito maior dentro do coração do sistema de defesa do país, além do super-agente Soldado Invernal, cujas motivações serão reveladas ao longo da narrativa. O Capitão América precisará encarar um trauma do passado na figura deste assassino, mas se você lê os quadrinhos já sabe o que é, não?
Neste ponto, o filme remete aos melhores quadrinhos do personagem, onde o símbolo vivo dos EUA se virava contra aqueles que esperavam que ele apenas obedecesse calado. Já foi mais que provado que esse tipo de conteúdo não precisa sacrificar a diversão, mas parece que os produtores ainda não acreditam nisso. O discurso com o qual o filme acena acaba sendo diluído nas sequencias de ação, algumas muito legais, é preciso admitir, mas ficou evidente que os diretores Anthony e Joe Russo optaram – ou precisaram – focar muito mais na pirotecnia visual. Tanto que na grande sequencia final, já não há mais muita empolgação, até pela duração excessiva do filme. Foram incluídas também cenas de recapitulação do primeiro, bem-vindas apenas para quem não o assistiu.
Falando um pouco mais sobre o roteiro, sem entregar muito, a impressão que fica é a de que o universo compartilhado cinematográfico da Marvel já sofre do mesmo mal de sua versão original impressa. Aquilo que acontece com alguns personagens não chega mais a preocupar, pois graças à internet, já sabemos quem aparecerá em Os Vingadores 2, por exemplo. Parece ser uma questão de tempo até que matem super-heróis, apenas para ressuscita-los no filme seguinte.
Samuel L. Jackson, como Nick Fury, e Scarlett Johansson, como Viúva Negra, esbanjam carisma, mostrando-se muito à vontade em seus papéis. Chris Evans agora convence mais como Capitão América, comparando com o primeiro filme. As novidades ficam por conta do parceiro do Capitão, Sam Wilson – o Falcão – vivido por Anthony Mackie, e o Soldado Invernal, ambos muito bem caracterizados visualmente falando. A participação do sempre competente e carismático Robert Redford, como secretário de defesa Alexander Pierce, é um bônus e uma tentativa de tornar o filme mais respeitável.
Toda continuação é recebida com a pergunta: “É melhor que o primeiro?” Quem tiver apenas esse critério de avaliação, com certeza vai curtir bem mais o filme. No entanto, filmes de super-heróis sofrem com as comparações, às vezes injustas, com outros exemplares de adaptações de Hq. A resposta para a pergunta acima é “Sim!” mas o problema é que a afirmação vem junto com a lembrança que nem todo mundo é Joss Whedon… Ah, a cena pós-créditos foi dirigida por ele, então aguarde até o fim!