Seguindo uma linha mais moderna que traz o tema “vampiros” para um lado mais dramático e (porque não?) menos superficial, como vimos no excelente longa sueco Deixe Ela Entrar de 2008, agora é a hora de Amantes Eternos (Only Lovers Left Alive), do diretor indie americano Jim Jarmusch, procurar seu espaço e tentar inovar.
Ao dirigir em 2005 Bill Murray em Flores Partidas, uma de suas mais lembradas realizações cinematográficas, Jarmusch teve interessante alcance de público e mostrou que sua linha autoral, e um tanto melancólica, tem espaço no cinema. O filme teve rentabilidade considerável e foi inclusive um marco de seriedade para um ator conhecido por comédias escrachadas, que inclusive teve reconhecimento da crítica nesse filme ao mostrar seu lado dramático, até então pouco visto antes.
E agora, o que tem de bom em Amantes Eternos?
Em primeiro lugar, vamos a história. Tom Hiddleston (Loki do filme Thor) é Adam, um músico underground consumista de guitarras clássicas e, nas horas vagas, um vampiro depressivo e crítico da sociedade contemporânea. Sua vida, que mais parece um enorme fardo que carrega, somente se torna interessante ao lado de Eve, personagem de Tilda Swinton (Precisamos Falar Sobre Kevin). O amor entre eles só é atrapalhado pela presença da irmã de Eve, papel de Mia Wasikowska (Alice no País das Maravilhas). Além deste trio, há ainda a presença de uma espécie de guru dos vampiros, interpretado por John Hurt que terá papel importante na trama. Este quarteto terá idas e vindas enquanto procuram seus espaços no mundo dos “zumbis” (que na verdade é uma denominação dos vampiros para nós, pobres humanos…)
Curiosamente, a dupla principal, vampiros e amantes é claro, tem visões opostas e assim encaram a vida através dos séculos, cada um do seu jeito. Enquanto Adam vive uma clara depressão e crise de existência (pensando bem não deve ser fácil ser imortal e viver tanto tempo), Eve continua usufruindo do que o tempo pode trazer de melhor, o conhecimento. Diversas cenas de bom gosto exemplificam estas diferenças e cabe a você descobrir.
Jarmusch parece despreocupado em ser fiel à classe dos vampiros ou em dar foco as manias e atitudes que previamente conhecemos desta espécie comum aos filmes de horror. O medo que causam ao público, desde os primórdios da sétima arte aos dias atuais (de Nosferatu ao novo Dracula Untold), não é sentido em Amantes Eternos, como também fez Tomas Alfredson ao explorar outras possibilidades em Deixe Ela Entrar. Jarmusch critica a sociedade moderna, prioriza o drama e se aprofunda no estudo de um estilo de vida. Ao mesmo tempo em que mostra as inconveniências de atravessar os séculos, explora os proveitos que isto também pode trazer.
A direção de arte é cuidadosa e vale o seu ingresso por isso, pelo menos. O figurino retrô, a decoração antiquada, o ambiente carregado e decadente são algumas das boas sacadas e relações que o diretor faz do meio com os personagens. Como não se impressionar com o êxtase do elenco vampiresco ao tomar um cálice de sangue? E o sorvete de sangue? Jarmusch ganha o espectador nessa ambientação que, dentro da ficção, se torna verossímil e ainda traz o bônus de seu lado ousado na direção. A delirante cena inicial é de tirar o chapéu…
Enaltecendo a parte técnica do filme, é bom alertar que acompanhar Amantes Eternos requer boa dose de paciência. Com duas horas de duração, os acontecimentos ou reviravoltas não são suficientes para agradar o público em geral, está longe disso. Mesmo com a narrativa morosa há ótimas ideias a serem valorizadas. Enfim, a paciência pode ser paga com a beleza estética que o diretor indie acerta em cheio.
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