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Kamen Rider para gente grande!

Kamen Rider, o tokusatsu que fez a alegria da infância e adolescência de muita gente, também já teve sua versão para adultos

A fusão entre homem e inseto – este conceito tão kafkiano – proliferou uma gênese das mais diversas histórias na cultura pop. Dentre elas, temos uma em especial que se enquadra no gênero tokusatsu, e utiliza essa fusão de inúmeras maneiras diferentes: a franquia Kamen Rider. Criada por Shotaro Ishinomori, uma das celebridades mais influentes do universo de mangás, animes e tokusatsu – citado no nosso artigo sobre o Homem-Aranha Japonês – e considerado por muitos o Stan Lee japonês, traz um motoqueiro, na maioria das apresentações, que sofre com alguma mutação – nem sempre a simbiose com um inseto – como herói e mote das histórias.

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Shotaro Ishinomori, o Stan Lee OU o Reginaldo Rossi japonês.

Famosa no Japão desde a década de 1970, a franquia que teve um relativo hiato na segunda metade dos anos 1990, após o falecimento do seu criador – lembrando que não houve séries da franquia durante esta década, somente longas-metragens – retornando ressignificada somente nos anos 2000. Entre os títulos mais famosos no Brasil estão o Kamen Rider Black (1987), conhecido por aqui como Black Kamen Rider ou Blackman (a razão mais provável deste título seria por conta da fácil pronúncia). Sua sequência imediata também seria exibida em terras tupiniquins – Kamen Rider Black RX (1988). Ambas as séries chegaram por aqui nos anos 1990, e fizeram parte do momento áureo da extinta Rede Manchete, com as suas mais diversas produções tokusatsu.

Eis que temos um tipo de franquia – assim como franquias dos gêneros de Super Sentai ou Metal Hero – que sempre englobou o imaginário de jovens japoneses e de diversas partes do mundo. Vale destacar que, assim como qualquer tipo de entretenimento do gênero, há uma necessidade de retorno, ou seja, licenciamento, venda de produtos, sempre com um alvo principal – neste caso, o público infantojuvenil.

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Separados ao nascer da crisálida.

No entanto, algumas produções tokusatsu trouxeram um tipo de premissa mais “densa” sobre o tema. O próprio Kamen Rider Amazon (1974-1975) possuía um conceito mais violento, e o já mencionado Kamen Rider Black possuía uma história com uma carga um pouco mais dramática. Um fato curioso é que, no Brasil, o título do primeiro episódio de Kamen Rider Black chama-se “A Metamorfose”. Mas, e se eu dissesse para vocês que, em meio a esta consagrada franquia, há um filme que foi feito exclusivamente para o público adulto?

Tirem as crianças da sala!

Lançado no Japão pela Toei Company em 1992 diretamente para o mercado de vídeo, Kamen Rider Shin diferencia-se de seus antecessores e sucessores por abordar uma temática mais intensa e sombria, contendo cenas de violência e nudez durante a história. Na trama, temos o jovem motoqueiro, Shin Kazamatsuri, sendo cobaia de um experimento – compreendido inicialmente como um processo de cura de doenças consideradas incuráveis – e a equipe médica realizadora, composta pelo seu pai, o geneticista Dr. Daimon Kazamatsuri, o parceiro dele, o Dr. Yoshizaku Onizuka e namorada deste, a enfermeira Ai Asuka, no Institute of Super Science.

No entanto, percebemos tratar-se de um experimento de origem militar com o propósito de construção de soldados ciborgues, custeado por uma organização secreta por trás do Instituto, conhecida como Sindicato. Durante esses acontecimentos, observamos uma série de assassinatos brutais que ocorrem supostamente por uma criatura humanoide de aparência grotesca, similar a de um gafanhoto. Aos poucos, Shin passa a ter maior percepção do que fizeram com ele e, e em meio a lembranças, acredita ser o responsável pelos assassinatos, imaginando perder a consciência em sua forma metamórfica.

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Shin Kazamatsuri, interpretado por Katsuhisa Ishikawa!

De forma paralela, temos a investigadora da CIA, Sarah Fukamachi, observando as ações de Shin e do Sindicato, descobrindo que o responsável pelos crimes, na verdade, é o Dr. Onizuka, que, fascinado por gafanhotos, também se submeteu (por conta própria) aos experimentos de mutação. Arrependida, sua namorada, Ai, esclarece a Shin sobre o Sindicato, tornando-se vítima da organização, além de descobrir estar grávida, acontecimento favorável para a corporação, pois a criança será mais um experimento a ser estudado por eles. Enquanto é perseguido pela CIA, que o considera uma ameaça, Shin ainda enfrenta o Sidicato e combate o seu principal antagonista, Goujima, soldado ciborgue criado pela organização criminosa.

Henshin (e mais alguns spoilers)

Em uma entrevista sobre os seus Riders preferidos, Ishinomori coloca o Shin como o primeiro. Em sua essência, esta seria a verdadeira face de um Kamen Rider, um herói com um aspecto medonho, solitário e que possui em mente o risco que correm as pessoas ao seu redor. Dois fatos interessantes é que, mesmo em sua forma civil, seus poderes, como saltos e força sobre-humana, ainda prevalecem; e, após a sua transformação, ele não emite voz, apenas grunhidos. O filme teve baixa repercussão no Japão, sepultando a chance de qualquer continuação – vide que o título oficial da série é Shin Kamen Rider: Josho (Verdadeiro Kamen Rider: Prólogo) e dá a entender que se trata de uma suposta primeira parte; sem falar do final totalmente aberto para novos arcos da saga.

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“Alô, Sr. Del Toro? Precisamos conversar sobre um processo de plágio…”

Anos depois, ele reapareceu em filmes de personagens mais recentes da franquia; mas estas participações não são canônicas, tratando-se mais de uma homenagem aos antigos Riders. Apesar do impacto gerado e da sua diferenciação dos personagens anteriores e posteriores, não é de se estranhar a baixa receptividade. Tendo como alvo o público adulto, essa produção teve como propósito comemorar os 20 anos da franquia, com o seu décimo personagem; contudo, mesmo para os padrões da época, há diversos efeitos precários (muitos deles, próximo de um filme de terror B) e pouca exploração de certos personagens que poderiam contribuir mais para a trama, como o Dr. Onizuka, que, a princípio, se entende ser o antagonista, vindo a falecer logo após descobrirmos que ele também possuía a mesma mutação de Shin.

Para piorar,tem um roteiro um tanto quanto arrastado em boa parte da história, e a motivação fraca do protagonista, que simplesmente abre mão de uma carreira promissora no motociclismo para servir de experimento em um projeto pra lá de suspeito. Todavia, há pontos que valem ser exaltados e seus devidos méritos. Um em particular – um momento em específico à lá David Cronenberg, retratando uma metamorfose de maneira bem competente para a proposta da narrativa, nos presenteando com um verdadeiro amálgama entre homem e inseto.

Cena da transformação!

Destaca-se também a atmosfera pessimista da trama; praticamente, não há alívio cômico. Tanto que podemos enquadrar Shin como um “anti-herói”, alguém atormentado e perdido pelo que foi feito a ele; seu senso de “justiça” é bem delimitado ao assassinar de forma cruel o líder do Sindicato, Gen Himuro. Uma curiosidade presente no filme está em seu elenco: o próprio autor da franquia, Shotaro Ishinomori, faz uma pequena participação, acompanhado com o time de cientistas que estão assistindo uma sessão do experimento. Neste momento da história, ele atua como um suposto espião. Também temos algumas figuras conhecidas em séries que já haviam passado no Brasil, como o ator Akira Ishihama, pai do protagonista, que também foi o Dr. Tokimura na série Flashman, e a atriz, Kiyomi Tsukada, que faz a agente Sarah, conhecida por aqui por interpretar a androide Anri, assistente do Jaspion.

No final das contas, apesar de todas as limitações que o filme possui, vale a pena conferir um trabalho que, em tese, seria a verdadeira natureza do motoqueiro mascarado que faz tanto sucesso em terras orientais, sob um ponto de vista totalmente diferente.

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