Máfia japonesa, uma herdeira, uma Katana e muito mais em Samurai Shirô
Toda pessoa com mais ou menos proximidade com cinema de aventura, máfia ou policial, que se dispõe a se aventurar em filmografias fora de Hollywood, tem certos gostos em comum. Por exemplo, se este é o seu caso, é bem provável que você curta tramas que envolvam a cultura asiática de uma forma ou de outra, algo que ficou mais popular no ocidente graças a Quentin Tarantino. Que tal algo assim, regado a generosas doses de ação e ambientado em São Paulo? Se esta breve introdução conseguiu sua atenção, Samurai Shirô é a sua cara!
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A HQ, lançada pela DarkSide Books* (Fragmentos do Horror, Black Dog), tem roteiro e arte de Danilo Beyruth (Astronauta, da Graphic MSP). A comparação com cinema no primeiro parágrafo não fica apenas na parte conceitual, pois as reviravoltas do texto e o fluxo das sequências de ação nos dão a sensação de estar acompanhando um filme. Um dinamismo que tem tudo a ver com o tipo de história contada, assumindo sem nenhum medo seu verniz de aventura B, mas sem sacrificar o envolvimento do leitor com a seriedade da situação.
*(Confira também as resenhas dos livros da editora: O Demonologista, O Homem Que Caiu Na Terra e Coração Satânico)
Akemi é uma jovem comum que mora no bairro da Liberdade, em São Paulo. Mantendo as tradições japonesas, ela vive sozinha após a morte de seu avô. Único parente conhecido, ele foi responsável por ela enquanto vivo e faz muita falta. O caminho de Akemi é cruzado por um homem ocidental desmemoriado, atrás de respostas e tendo como única pista uma autêntica Katana em seu poder. Fechando esse triângulo, a Yakuza também está interessada na garota, que, por acaso, não é exatamente uma mocinha indefesa.
Apresentadas as situações que colocam os personagens principais frente a frente, a busca pela verdade puxa as inevitáveis perseguições frenéticas e lutas. Saindo do centro da metrópole para o interior, o verdadeiro passado do avô será revelado, assim como o papel e a importância de Akemi neste cenário todo. É claro que, na melhor tradição dos amnésicos da ficção, o recém-batizado Shirô descobrirá perto do final as circunstâncias que o colocaram ali.
Esse é um ponto importante para quem se sentir animado a adquirir Samurai Shirô. É um roteiro que não deixa pontas soltas, porém, abrindo possibilidades para futuras continuações. Não é preciso se preocupar com incompletude da história, que nos deixa com vontade de continuar acompanhando os protagonistas carismáticos. A sensação é similar ao final de uma boa primeira temporada de um seriado divertido.
Traço e construção narrativa mantém a fluidez
Em um roteiro de ação como esse, a decupagem é onde muitos desenhistas se enrolam. Aqui o perigo ainda era maior, já que são quase duzentas páginas que, além de tudo, trazem muita informação aos leitores. Danilo Beyruth mostra segurança neste quesito, obviamente beneficiado pelo fato de ser também o roteirista.
Com uma narrativa visual mais próxima do clássico, ele se sai bem na escolha da diagramação das sequências de ação. O grid das páginas nestes trechos é bem diferenciado das passagens mais calmas, alternando a sensação de aceleração com a de lentidão, quando necessário. O ritmo bem pensado, detalhe importante ao contar qualquer história, é mais um ponto positivo de Samurai Shirô.
Com traços econômicos, característicos do seu estilo já conhecido, o artista sabe quando é necessário um peso maior no preto. Na utilização dos recursos gráficos conhecidos da HQ’s, Danilo evitou onomatopeias gritantes, mas soltou-se no uso de linhas de movimento, bem comuns nos mangás, o que tem tudo a ver com esta temática. A profusão de linhas também é empregada, com sucesso, em momentos que antecedem a ação e enfatizam a ameaça que os protagonistas enfrentarão.
Sem muita pretensão, mas executado com carinho por alguém que sabe o que faz, Samurai Shirô é aquele tipo de obra que arranca sorrisos a cada cena de ação, valendo-se de um sem-número de clichês que não perdem o charme. Garante um bom par de horas divertidas e fica em nossa memória como se fosse uma animação, graças à fluidez narrativa. Compensação suficiente pelo valor pago, não acha?
Aliás, falando em animação, espero que alguém do ramo já tenha pensado nisso…