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Big Baby – O Terror pela ótica infantil!

Charles Burns criou um pequeno alter ego em Big Baby

Se você está lendo esse texto, é quase certo que seja um fã do Fantástico e do Terror. Neste caso, também é provável que já tenha demonstrado essa inclinação ainda na infância, o que, talvez, tenha criado um rótulo de esquisitice na visão de outras pessoas. Isso descreve muito do pequeno Tony Delmondo, protagonista de Big Baby, o que já o torna um personagem simpático para muitos de nós. Aliás, também nos diz algo sobre o próprio autor da HQ, Charles Burns, conforme ele mesmo nos explica no fim da edição.

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Lançado no Brasil pela DarkSide, o álbum de pouco mais de 100 páginas traz quatro histórias e um epílogo, sem relações diretas entre as narrativas. Publicados originalmente na RAW, de Art Spiegelman (Maus) e posteriormente encadernados pela Fantagraphics, os pequenos contos têm um sabor especial. Apesar de produzidos entre os anos de 1980 e 90, ambientam-se por volta de três décadas antes. Exatamente naqueles bem familiares cenários estadunidenses, com seus subúrbios bem organizados e famílias de porta-retrato – isso na superfície, claro.

Burns, nome reconhecido na cena independente*, capricha na carga de ironia crítica, aproveitando a inocência de Tony para levar as histórias adiante. O menino, viciado em Quadrinhos e filmes de Terror e Ficção Científica, interpreta o mundo à sua volta com esses referenciais. Mas, apesar de parecerem loucuras de uma mente infantil impressionável, seus devaneios não são tão incompatíveis com os fatos que compõem essas tramas.

*(Confira também a resenha de Paciência, de Daniel Clowes)

Com uma face que o destaca do resto dos personagens, ele é apresentado em duas páginas que dão a informação necessária sobre o tipo de criança que ele é. Em seguida, A Maldição dos Toupeiras mostra uma aventura que se desenrola abaixo do quintal do vizinho, com a construção de uma piscina. O autor incluiu um típico horror da vida real neste segmento, mas foi sutil, evitando um tom de denúncia que acabaria por fugir da proposta geral de Big Baby.

Peste Juvenil lida com um tema que Charles Burns reaproveitaria em Black Hole, também do catálogo da DarkSide. O problema sério de uma típica babá adolescente, envolvendo seu namorado e uma estranha moléstia, ganha contornos mais fantásticos por conta de uma HQ lida por Tony. Em Clube de Sangue, o garoto é tirado de sua rotina para passar um tempo em um acampamento, um cenário perfeito para uma história de fantasmas, em meio a uma difícil socialização para ele e seu melhor amigo.

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Conceito e visual em harmonia

A arte de Charles Burns tem uma qualidade rara. Se pensarmos em seu trabalho como crítica ao American Way of Life, fica clara que sua representação dos personagens “normais” é deliberadamente artificial, como se fossem manequins desfilando em um cenário de alto contraste. Essa reflexão também nos leva a perceber que Tony, nosso Big Baby, com sua face dissonante, e as monstruosidades que cruzam seu caminho têm muito mais personalidade do que o resto.

Quem já conhece o trabalho do autor, sabe que pode esperar muitas áreas chapadas de preto. Gostos à parte, isso funciona bem em suas ilustrações por conta de um traço limpo, perfeitamente em sintonia com o clima pretendido. As hachuras suaves, porém firmes e precisas, também se tornaram uma característica estilística muito própria e reconhecível. É evidente sua influência no álbum Erzsébet, do quadrinhista português Nunsky.

A narrativa visual segue o tradicional, sem maiores ambições gráficas. Também é um acerto, já que ele quase emula uma produção B de Terror feita antigamente. Isso aproxima o Quadrinho de uma fotografia típica daqueles filmes, aumentando a relação que já estava perceptível no absurdo proposital dos roteiros.

Pesando tudo, Big Baby pode não ser uma avassaladora obra-prima da arte sequencial, mas é um trabalho consistente e denota a segurança do criador. É aquele tipo de HQ que nos lembra de inúmeras coisas que já vimos ao longo das nossas vidas como leitores/espectadores, mas essa jogada nostálgica também faz parte da brincadeira. Quem já teve que esconder gibis na escola ou dos pais, ou mesmo implorar para assistir aquele filme estranho na TV, vai se identificar muito com o personagem principal.

Tony pode ter cara de bebê e um comportamento meio estranho, mas uma porção de gente vai se reconhecer nele, um pouco que seja. E isso, pelo contrário, não é nem um pouco ruim. Complementando, as bizarrices em volta só melhoram o passeio.

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