Argonautas: a volta das sagas e o horror cósmico no movimento fantástico do sul
Continuemos nossas elocubrações sobre o movimento fantástico sulista, iniciado aqui.
O legado deixado por H. P. Lovecraft foi explorado, aproveitado e disseminado ao redor do nosso planeta nos últimos 70 anos. Não só o dele, mas Allan Poe e Robert E. Howard se fazem presentes em quase tudo o que apreciamos no gênero de fantasia nos dias de hoje. Seguindo nessa mesma linha de pensamento, os gaúchos Cesar Alcazar e Duda Falcão criaram a editora Argonautas.
A proposta apresentada pela editora é a de resgatar as antigas narrativas de terror e suspense de antigamente, apresentando diversas sagas, que vão desde “espada e feitiçaria” até o mais puro horror cósmico. Focada principalmente em sagas literárias, onde reúnem diversos autores das mais variadas regiões do Brasil, a Argonautas já tem em seu currículo cinco sagas, com temas que vão desde a vastidão do espaço sideral até as mais obscuras aventuras no faroeste, com passeios nos tempos imemoráveis da espada e feitiçaria, e também nas aventuras de bruxas e feitiçeiras.
Um dos grandes destaques, na opinião desse que vos escreve, é o ciclo Lovecraftiano, assim como o último lançamento da editora, Crimes Fantásticos. No ciclo Lovecraftiano, somos presentados com histórias que fazem parte dos Mythos de Cthulhu; até aqui nenhuma novidade. Porém, o grande diferencial por parte da editora é resgatar o legado de Lovecraft, com uma ambientação brasileira.
Sim, isso mesmo, o conceito é bem esse: fazer dos Mythos algo universal, que não se prende apenas a vilarejos de pescadores e cidades fictícias, desertos infinitos e cidades ciclópicas. Somos apresentados a cenários urbanos, contemporâneos, com ruas estreitas, investigações, praias do litoral gaúcho, e a querida e amada Porto Alegre. O primeiro livro, chamado Ascensão de Cthulhu, reúne autores já conhecidos, como o próprio Duda Falcão, e conta com o prefácio de Guilherme Da Silva Braga, bastante conhecido por traduzir diversas obras de Lovecraft e outros autores.
O segundo livro do ciclo, Herdeiros de Dagon, reúne um time diferente: Duda Falcão une forças cósmicas com Andrio Santos, Guilherme Braga (mesmo do livro anterior, porém agora participando com um conto), Gustavo Melo Czekster, Ariana Portella, S. Franskowiak, José Francisco Botelho, Carlos Ferreira e Carlos Silva. Dessa vez, o prefácio fica por conta de Daniel Dutra, que já avisa: leia se tiver coragem incauto leitor.
Explorando temas fantásticos
Não se prendendo apenas ao modelo de sagas, os autores e proprietários Duda e Cesar lançam suas próprias histórias. Bazar Pulp reúne contos de Cesar Alcázar, que foram expandidos para outras mídias, como é o caso de O Cão Negro e A Música do Quarto ao Lado, que foram adaptadas para HQ. Em breve, falaremos sobre a vinda do Cão Negro.
Já Duda, que foi chamado de “o herdeiro de Lovecraft no Brasil”, lança sua coletânea de contos intitulada Mausoléu, reunindo contos já publicados anteriormente e outros que recém viram a luz do dia. O mais atual lançamento da editora, Crimes Fantásticos, reúne um time ainda mais brilhante e escritores. Com nomes como Christopher Kastensmidt, R. F. Lucchetti e Nikelen Witter, a proposta do livro é reunir crimes – não ao melhor estilo CSI, mas sim com elementos de fantasia que vão da loucura até o mais bem elaborado roubo; tudo isso com o elemento do fantástico. Dessa vez os cenários são os mais variados – vamos desde a terra do uísque até a mais alta sociedade.
A parte dois termina por aqui caro leitor, mas peço paciência, pois o gran finale irá trazer surpresas que nem todos sabem sobre os segredos literários gaúchos.
Confira a Parte 3 do artigo!