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Guerra à Ruína – Fantasia à brasileira!

Romance independente de Jonas S. Martins, Guerra à Ruína traz uma busca fantástica pelo poder em um mundo politicamente frágil

Guerreiros, viajantes aventureiros, magos, vampiros, fantasmas, gigantes, ogros e toda sorte de criaturas fantásticas são figuras mandatórias em algumas das mais amadas obras da literatura de fantasia através dos tempos. O Brasil não é exatamente um pólo tradicional de produção desse nicho literário, mas por aqui se encontram fãs entusiasmados e prontos para devorar seus textos favoritos, achincalhar as (muitas) bobagens que porventura se destaquem nas grandes editoras e, por que não, colocar no papel o próprio universo maravilhoso. Pois uma obra discreta e que chegou despercebida pode se destacar entre os mais ávidos leitores do gênero e, melhor ainda, com assinatura nacional: Guerra à Ruína. 

Para comprar o e-book, clique na imagem!Resenha Guerra à Ruína

Escrito por Jonas de Souza Martins, é um romance independente lançado, por enquanto, apenas em e-book e sem o selo de nenhum grupo editorial. Trata-se de uma iniciativa individual de um verdadeiro apaixonado pelo estilo, que aqui parece tentar prestar uma homenagem ao gênero que admira reunindo o maior número possível de arquétipos do universo fantástico. Porém, o livro não se resume a uma conversa de fã para fã: Guerra à Ruína surpreende pela qualidade do enredo e pelo talento narrativo do autor que, seguindo nessa toada, pode ter uma promissora carreira literária pela frente.

Trama: haja fôlego

No planeta de Asatna, depois de muito tempo, um grupo de exploradores formados por humanos e seres fantásticos, consegue finalmente chegar ao polo norte, o chamado Continente Sem Nome, após uma viagem longa e cheia de perigos que tirou a vida de muitos deles. No local, que deveria ser apenas um deserto de gelo, surpreendem-se ao encontrar o que chamaram, não aleatoriamente, de Ruína, uma fonte de energia mágica que poderia trazer grande poder para quem a controlasse. O problema, é que Asatna é formado por diversos países que por muito tempo não apenas travaram guerras entre si, mas construíram sua própria história e identidade em cima desses conflitos, mas que vinham mantendo uma tênue paz nos últimos anos. Com a repercussão da notícia da descoberta do valioso recurso, que transformaria a vida do país que a dominasse, e fracassadas as tentativas de compartilhamento, uma nova guerra entre os países se inicia pelo controle da Ruína.

A história gira em torno de Otávio, Alex e Azai, três personagens que seguem suas próprias jornadas no mundo em conflito. Otávio é um vampiro ambicioso, com interesses políticos e que convive em meio a gestão do país de Nova Crasíria. Alex é um fantasma/mago do mesmo país que deseja ser um herói para o seu povo assim como os grandes ícones da história. Azai, é um guerreiro corajoso, líder do exercito de Namória, que com muita inteligência e astúcia se projeta como grande símbolo militar de sua terra. Os três seguem caminhadas individuais em meio ao conflito que transformará suas vidas para sempre, cada um por seu motivo e com objetivos particulares e nem sempre nobres

Como se pode perceber, o primeiro ponto a chamar a atenção em Guerra à Ruína é a complexidade da história. Realmente, não se trata de uma construção simplista, apresentando um enredo cheio de detalhes, acontecimentos paralelos e panos de fundo que não devem ser ignorados para o bom aproveitamento do contexto total. Na verdade, essa missão torna-se até um tanto árdua para o leitor visto o bombardeio de informações, detalhes e referências fantásticas a que está sujeito a cada página. Mas, devido ao esmero com que Jonas constrói sua narrativa, o que poderia ser um problema torna-se um charme a mais para o resultado final. Narrado sempre em terceira pessoa, cada personagem transmite uma visão individual dos acontecimentos para que o leitor construa a própria visão do todo.

Política e sociedade

Outra característica fundamental em Guerra à Ruína é a elaboração dos personagens. Cada um dos três protagonistas possui personalidades distintas e características morais muito bem desenhadas. Em diferentes níveis, não são exemplos de boa vontade, mas também não totalmente maus. Não são heróis nem vilões e não passarão impunes por acontecimentos que impactarão de forma permanente as formas como veem a vida e seus objetivos. Embora não fuja totalmente de alguns pilares do gênero, algo até necessário para o processo de criação de vínculos entre leitor e obra, o enredo é muito criativo e refuga muitos clichês como as tradicionais tramas românticas de outras obras do ramo.

Guerra à Ruína tem, como pano de fundo, uma série de referências políticas e sociais, visto que a guerra que move o livro é um conflito essencialmente político. É interessante ver como as relações de poder entre os países são apresentadas, mostrando que, independentemente das quão fabulosas podem ser as criaturas, o poder torna a todos muito humanos. Cada personagem tem uma condição social diferente, o que impacta na forma como se relacionam com o mundo e que o leitor provavelmente se identificará em algum momento.

A narrativa fluida, o empenho em individualizar os personagens e a meticulosa ambientação da história puxam o leitor para dentro do livro. Em poucas páginas, já estamos totalmente envolvidos na trama e empáticos com os protagonistas, talento que muitos escritores mais experientes ainda não desenvolveram totalmente. Tais características tornam a leitura mais saborosa, dinâmica e os desdobramentos dos fatos mais significativos.

Nem tudo é fantástico    

A obra, no entanto, apesar das evidentes qualidades para uma produção de um estreante, tem alguns problemas significativos. Os mais incômodos deles são técnicos, com palavras repetidas e erros gramaticais que poderiam ser evitados com uma revisão profissional mais acurada. No geral, a história segue um ritmo acelerado e com um excesso de informações que podem tornar o entendimento um pouco confuso, mas, como dito antes, ao nos familiarizarmos com estilo, o transtorno é minimizado. Porém, alternando com este padrão, há momentos de divagações vazias, com descrições desnecessárias e conteúdo que nada acrescentam a história. Felizmente, essa situação é exceção e não a regra.

Outro ponto negativo, embora este esteja mais ligado ao gosto pessoal do leitor e fuja à responsabilidade total do autor, é formato em que ele foi lançado. A leitura de Guerra à Ruína seria muito mais agradável em versão impressa, se possível com algumas ilustrações, o que impulsionaria a imersão em uma aventura fantástica, com paisagens maravilhosas, personagens mágicos e fantásticos. A experiência sensorial poderia alterar para melhor a relação entre leitor e leitura.

Guerra à Ruína é um livro juvenil, porém mais maduro do que se poderia esperar. Os fãs do tema, independentemente da idade, irão encontrar uma história divertida e envolvente do começo ao fim. Trata-se de um livro acima da média e serve para demolir qualquer preconceito. Se você curte o gênero fantasia terá a oportunidade de encontrar uma grata surpresa. Se não é fã, pode ter aqui um bom primeiro contato. Jonas de Martins é um bom exemplo da nova geração de escritores brasileiros que chega para revigorar o universo literário de nosso país. Tomara que venham muitos outros. E tomara também que, Jonas e seus pares, tenham a chance de receber o apoio de editoras e outras empresas que levem seus trabalhos para além dos círculos digitais e cheguem às prateleiras de quem talvez ainda esteja longe dos tablets e smartphones, mas que precisa descobrir o poder da leitura de qualidade, uma força muito maior do que a perseguida por vampiros, fantasmas e guerreiros.

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