Neil deGrasse Tyson nos leva ao espaço em Astrofísica Para Apressados
Sabe qual é uma das melhores coisas que o século XXI nos trouxe? Você pode ter pensado em muitas inovações, na verdade, mas – pelo assunto deste texto – já deve ter intuído que é a mudança de paradigma em determinadas áreas. Neste caso específico, a Ciência, que, poucas décadas atrás, era um assunto hermético fora de círculos acadêmicos. A cara da divulgação científica mudou e a prova disso é a popularidade de Neil deGrasse Tyson, que marcou mais um ponto importante contra o obscurantismo com seu Astrofísica Para Apressados (Astrophysics for People in a Hurry).
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Lançado no Brasil pela Editora Planeta, o livro de cerca de 200 páginas procura expor as complexidades do cosmos de forma objetiva e leve. Tyson honra o legado de Carl Sagan, que pavimentou esse caminho muito antes, tornando o assunto acessível a qualquer pessoa que não seja da área. São vários tópicos esclarecidos para leigos, com uma linguagem ágil e dinâmica, permitindo-se comentários descontraídos durante o texto. Mesmo assim, a postura em relação ao assunto é inspiradora, nos lembrando como é importante conhecer os fundamentos das leis que regem o Universo.
Astrofísica Para Apressados é uma excelente oportunidade para pessoas que desejam saber o que significam certos termos que, volta e meia, aparecem em headlines na Internet. Por exemplo, Matéria Escura, algo que se torna mais complicado quando a Energia Escura entra no meio. Você gostaria de uma explicação sobre a diferença entre elas e como esses conceitos são importantes para o entendimento cosmológico? Já sabe onde procurar.
O poder de síntese de Neil deGrasse Tyson é notável. Em um espaço tão curto, ele consegue falar da transição da ciência Astronomia para Astrofísica, Relatividade Geral de Einstein e Constante Cosmológica, gravidade e sua ação na formação esférica de corpos celestes, a luz e seus espectros visíveis e invisíveis, telescópios, emissões de radiação e muito mais. Tudo abordado a partir das primeiras descobertas de cada tópico, elaborando a partir daí a explicação científica.
Descomplicar é a regra para atingir mais pessoas
Ressaltando mais uma vez, Astrofísica Para Apressados não vai frustrar o leigo que buscar informação ali. Não é incomum encontrarmos livros que se propõe a uma divulgação científica para todos, mas que acaba muito complicado em seu miolo, comprometendo a experiência dos leitores. Um caso, aliás, comentado na resenha de Alice No País do Quantum.
Convenhamos que a tarefa de qualquer autor que tenha essa ambição é dura. Diferente de livros como E Se?, cuja estrutura permite uma leitura não linear, aqui é preciso puxar as ideias em uma ordem que faça sentido e não confunda os curiosos que passeiem pelas páginas. Felizmente, Tyson se sai muito bem no trabalho de simplificar essa carga teórica para o público em geral, de uma forma que faz alguns de nós amaldiçoarem professores que cruzaram nosso caminho durante a infância e adolescência.
Obviamente, todo esse trabalho envolve comentar também o que a Ciência ainda não consegue explicar, admitindo as limitações atuais como algo natural neste percurso da humanidade. Essa consciência é exatamente o que separa um trabalho de pesquisa sério de pseudociência e charlatanismo.
Se podemos medir o valor de certas obras pela pluralidade de público que atingem, o livro ainda ganha mais pontos. Astrofísica Para Apressados pode ser lido e assimilado por todo tipo pessoa, de adolescentes a adultos, fora da pesquisa científica, com um mínimo de interesse no assunto, por qualquer motivo que seja.
Chegando ao final, mesmo já tendo encantado quem se aventurou pelo livro até ali, o cientista faz sua defesa apaixonada pela disseminação do conhecimento científico. Sem comprometer o ritmo da leitura ou alongar-se demais em redundâncias, comprovando sua sensibilidade como escritor. Essa é mais uma das inúmeras qualidades de um texto que é, sem sombra de dúvidas, indispensável em um tempo de negação e ignorância.
Astrofísica Para Apressados é um título que se justifica pelo tempo dispensado à leitura. Na via inversa, o fascínio que ele cria pelo Universo onde se localiza nosso pálido ponto azul é bem mais duradouro. No fim das contas, é isso mesmo o que importa de verdade…
