Alice no País do Quantum não é tão acessível quanto parece
Você sempre quis entender a Física Quântica, mas achava muito complicado? Estava à procura de um livro que explicasse esses conceitos de uma forma simplificada, de um jeito que todo mundo pudesse entender? Alice no País do Quantum – A Física Quântica Ao Alcance De Todos (Alice in Quantumland: An Allegory of Quantum Physics) pode ser o que você procura. Deixando claro que isso é apenas uma possibilidade, já que o subtítulo da edição brasileira da Zahar não é exatamente a expressão da verdade. Acredito que seria mais honesto algo do tipo “A Física Quântica Ao Alcance De Todos Que Já Possuam – Pelo Menos – Alguma Base Deste Assunto”. Desanimou? Mais um pouco de paciência e leia esta resenha até o fim.
(Confira também as resenhas de Buracos Negros e Sapiens-Uma Breve História da Humanidade)
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Escrito por Robert Gilmore, do Departamento de Física da Drexel University, o livro tem sua proposta evidente já no título. Em cerca de 200 páginas, conduzir o leitor pelo mundo quântico emulando Alice No País Das Maravilhas, explicando os conceitos em um cenário onde Alice vai solucionando suas dúvidas – as mesmas de alguém leigo no assunto – sobre o ambiente das partículas subatômicas. Elétrons, fótons, prótons e quarks, entre muitos outros tópicos, são itens que Gilmore tenta explicar com uma linguagem simples e algumas ilustrações.
Nem cabe falar sobre como ou por qual motivo Alice acaba passando por esse mundo, ou saindo dele, já que o que conta aqui não é avaliar uma narrativa tradicional. O que importa realmente é o valor didático deste texto. Como já ficou claro no primeiro parágrafo, não é algo tão simples de entender, mas façamos uma pequena reflexão antes. Dificilmente alguém que não saiba ou nunca tenha ouvido/lido NADA sobre Física Quântica vai acordar um dia subitamente pensando: “Nossa, preciso urgentemente saber mais sobre esse ramo científico!”. Sendo assim, acredito que o leitor potencial de Alice no País do Quantum seja aquela pessoa que já tenha tido algum contato com isso, que já curta obras de divulgação científica.
Mesmo quem ficou apenas na leitura de artigos relacionados, cuja motivação pode até ter vindo de algum filme, HQ (como DPF, da Vertigo) ou livro de ficção científica, já teve uma espécie de iniciação breve que torna familiares, de alguma forma, alguns dos conceitos expostos por Gilmore. Sendo assim, se este é o seu caso, espere encontrar por ali o Gato de Schrödinger em uma divertida representação que explica a superposição de estados. Personagens como o Mecânico Clássico e o Mecânico Quântico também são alegorias eficientes e leves para descrever as diferenças entre as duas vertentes da Física.
Estabelecido que Alice no País do Quantum é um livro que interessa a curiosos sobre ciência, que trarão alguma bagagem consigo na leitura, a obra é, de fato, útil no aumento da compreensão do assunto? Claro que só posso responder baseado na minha experiência. A verdade é que, apesar da leitura agradável graças ao seu formato criativo, o autor não é totalmente bem sucedido nesta tarefa.
Complica bastante na segunda metade
Na primeira metade ele se sai melhor. Além do famoso gato já citado, os próprios elétrons trazem as proposições fundamentais da Física Quântica para Alice, como o Princípio da Incerteza de Heisenberg, que diz respeito à interferência que o observador exerce em sua pesquisa, e o Princípio da Exclusão de Pauli, postulando que dois férmions idênticos não podem ocupar o mesmo estado quântico simultaneamente. Neste ponto, ele é esclarecedor e tira muitas dúvidas. Mesmo que alguém se perca em termos mal explicados ou perceba lacunas no texto, uma boa ideia é anotar algumas coisas enquanto o texto avança, pesquisando depois por conta própria.
Já na segunda metade, quando caímos em tópicos de troca de energia entre elétrons, gerando muitos desdobramentos do mesmo assunto, fica muito difícil acompanhar. Isso no caso de quem não é da área, condição da esmagadora maioria que procuraria ler esse livro. Neste ponto, é possível que a pessoa perca o interesse pela frustração de continuar avançando sem elucidar as dúvidas pelo caminho. Realmente uma pena, mas o esforço de Robert Gilmore deve ser reconhecido, pois ele tentou mesmo simplificar a Física Quântica para um público amplo, algo que – convenhamos – não é fácil.
No entanto, Alice no País do Quantum merece uma olhada e vai de cada um julgar se vale a pena ir até o fim ou não. Ainda que falhe como conjunto, existe muita coisa para o leitor descobrir ali, até mesmo os que tiverem interesse em criar histórias a partir da compreensão desta área da ciência. Basta não esperar tornar-se um especialista no assunto só com esta leitura.