Após imensas expectativas, Switch surpreende – mas ainda deixa grandes lacunas
Desde sua revelação durante a E3 2016, ainda sob o nome de NX, até o seu lançamento oficial no dia 3 de março de 2017, o novo videogame da Nintendo, o Nintendo Switch – cujo lançamento nós cobrimos os principais pontos – se tornou um dos assuntos mais abordados pela mídia especializada. Sempre envolto por especulações, mistérios, vazamentos e muito hype tanto por parte dos fãs mais fies quanto daqueles que esperavam que a empresa voltasse ao mercado com um console mais competitivo, finalmente é o momento do aparelho mostrar a que veio.
E não está sendo uma estréia discreta, pois, no momento que esse texto é escrito já foram batidos recordes de venda em diversos países da Europa, Ásia e Oceania. Não apenas esse é o lançamento mais bem sucedido da história da Nintendo, como alcançou o status de video game mais cobiçado em seu day one em alguns países, como a Espanha.
Nosso objetivo aqui é desvendar as funcionalidades do aparelho, separando os resultados do marketing primoroso da Nintendo – capaz de gerar tanta empolgação num publico que já dava a empresa como fora de combate no mundo dos games – da verdadeira capacidade da máquina.
Vendido atualmente à um preço oficial de 300 dólares americanos, o hardware, que se concentra inteiramente num tablet de aproximadamente 6 polegadas com resolução de 720p, vem acompanhado de uma dock, cabo HDMI, fonte de energia, grip sem carregamento e um par dos famosos joycons, que tem tido sua versatilidade, bem como a função HD rumble, vastamente exploradas durante o marketing do console.
Pequenos e destacáveis, esses controles tanto podem ser usados acoplados tanto ao tablet, quanto ao grip, para jogar como console de mesa. Ainda como terceira e mais inovadora opção, é possivel separa-los de forma que duas pessoas joguem com apenas um par em ambos os modos, inclusive destacados da telinha no modo portátil. Para isso a Nintendo pensou até num suporte que a transforma numa mini TV e permite que a diversão seja levada a qualquer ambiente.
De fato as possibilidades são muitas e o produto bastante anatômico, porém se formos levar em conta a forma como a própria empresa decidiu anunciar o Switch, um console essencialmente de mesa que tem o on the go apenas como um adicional, são necessárias poucas horas de jogatina para perceber que eles não cumprem a função de joystick tradicional que deveria acompanhar um console caseiro.
Bastante delicado e leve, cada joycon precisa ter os botões essências para funcionar de forma independente, o que levou a decisão de eliminar o dpad, perda que afetará jogadores de vários estilos, como luta e plataforma 2D. Outra perda relevante em função do design é a dos botões de ombro. Eles até existem, porém é preciso um verdadeiro malabarismo para manusear ambos ao mesmo tempo devido ao seu tamanho pequeno e espaço minusculo entre os dois.
Nesse caso, são os jogos que exigem mira precisa, especialmente os shooters, que saem penalizados. Além disso, a própria leveza e tamanho reduzido, vantagens do ponto de vista mobile, se tornam um desconforto para aqueles que jogam em casa durante longas horas seguidas, pois o produto não passa a sensação de durabilidade e solidez que esse publico necessita.
Já o carregamento de energia, tanto dos joycons quanto do tablet, só pode ser feito através da dock a menos que se comprem acessórios adicionais. Essa recarga completa dura aproximadamente 3 horas e se a intenção for sair de casa sem a dock e aproveitar o Switch por períodos mais longos, é necessario adquirir separadamente um grip que carrega os joycons, um battery pack ou ambos caso o usuário deseje estar sempre seguro de não ver seu aparelho entrar em modo de descanso quando menos esperar.
O preço da versatilidade do Switch é essa atenção constante, pois o tempo de duração da bateria é bastante curto. Temos ainda poucos softwares disponíveis para teste, e nenhum aplicativo de video, mas entre Zelda (2 horas e meia), Bomberman ( 3 horas e meia em partidas com wi fi) e um resultado de mais de 4 horas em Snipperclips e Shovel Night por serem games 2D simples e que consomem menos da máquina, fica claro o que podemos esperar dos futuros lançamentos.
Quanto ao wi fi, assim como no Wii U, seu antecessor, o Switch não se conecta a internet diretamente por cabo, tendo o wireless como única forma de navegar na e-shop, baixar conteúdos e jogar on line. Só que mesmo com uma velocidade de dados acima da média, o usuário se verá enfrentando problemas de instabilidade e desconexão em diversos momentos. Esse problema é de conhecimento da Nintendo, e inclusive já foi mencionado no site oficial do videogame, porém sem previsão de solução até o momento.
Ainda falando de interferências, o sistema bluetooth dos joycons também sofre com elas. O controle não chega a dessincronizar, porém perde a capacidade de comunicação com a tela, caso seja manuseado de forma que as mãos do usuário se fechem completamente em torno dele.
E devido ao seu tamanho reduzido, é quase impossível impedir que isso aconteça. É preciso ter atenção e cuidado na hora de jogar ou então investir num grip kit especifico, chamado Joycon Thumb, que torna sua pegada mais firme e protege o controle do contato direto com as mãos.
Em relação à transição para o modo TV, é algo bastante rápido e orgânico. Assim que acoplado a dock, o console é reconhecido, e basta um clique para se recomeçar a jogatina de onde paramos, sem qualquer dificuldade. Porém – novamente – é importante comentar sobre a qualidade física do produto, agora em relação a dock e a própria tela do tablet.
Em toda história dos seus videogames, essa é a primeira vez que a Nintendo lança um produto com visual mais adulto, visivelmente apelando ao público que a tinha deixado de lado, por conta do aspecto de brinquedo da maioria dos seus equipamentos, como o Wii Remote e o Gamepad.
Porém é preciso lembrar que o preço final não permite a sofisticação de um iPad ou smartphone top de linha, impressão que o design escolhido pela empresa acaba transmitindo aos consumidores mais desavisados.
Aqui tudo é feito de um plástico bastante leve, tanto a dock, os joycons e seu grip, e até mesmo a tela. De fato, é preciso ajustar as expectativas a um custo realista – o problema é que isso resulta num produto final um tanto delicado, ainda mais se pensarmos que toda a proposta gira em torno da mobilidade, inclusive da própria dock.
Essa peça em especial é muito leve, e não possui um encaixe próprio para o tablet, é como se ele simplesmente ficasse encostado ali. O famoso som de “click” que consagrou o marketing do Switch é de fato muito satisfatório, mas só acontece quando acoplamos ou retiramos os joycons.
Ao contrário disso, a inserção na dock é instável e, aliada à falta de um peso de base nessa peça, passa a sensação de que o videogame está sujeito a cair ao menor esbarrão – ocasionado por situações que fazem parte do cotidiano de todos, como movimentação de crianças, animais de estimação, ou mesmo a limpeza do ambiente.
E como a tela também é plástica, o cuidado precisa ser redobrado, para que ela não arranhe nesse manuseio mal planejado das transições, já que a parte inferior da dock de fato entra em atrito constante com ela. A aquisição de uma película, preferencialmente de vidro, se faz prioridade.
Outro ponto a ser levado em conta em relação ao modo TV são os fones de ouvido. A entrada para eles fica no portátil, que obrigatoriamente deve estar acoplado a dock enquanto se joga. E, ao contrário dos demais consoles, o Switch até essa data não é compatível fones bluetooth.
Isso resulta num verdadeiro malabarismo para aqueles que já se acostumaram a qualidade de áudio proporcionada por fones de alta qualidade, pois a única maneira de usá-los é ficando muito perto da dock enquanto joga – ou possuindo fones com um fio bastante longo, que cubra a distancia do rack ao sofá. Caso seja esse o seu caso, torça para que nenhum familiar incauto passe na frente, especialmente animais e crianças, ou todo equipamento poderá ir pelos ares.
Claro que nem tudo no aparelho são pontos negativos. A introdução da tecnologia HD Rumble nos controles, por exemplo, merece destaque pela forma como conseguiu inovar a percepção e interação com o ambiente do jogo.
Se trata de algo bastante difícil de explicar num texto, mas impressiona a forma como a Nintendo conseguiu reproduzir de forma fiel as sensações de líquido, sólido, força e resistência em um equipamento minúsculo como o joycon. Durante os testes com o único jogo que até agora aproveita totalmente a funcionalidade, o 1, 2 Switch, fica claro o potencial de imersão desse recurso, quando for plenamente aproveitado em títulos de mais valor.
E sim, o on the go, ainda que com pontos a serem aprimorados, é um diferencial relevante. A experiência de poder, por exemplo, ir à casa de um amigo e jogar Bomberman ou Snipperclips sem precisar carregar o peso de um console tradicional, ou se preocupar em improvisar um setup para seus, cabos pode ser considerada libertadora para os saudosistas do “multiplayer de sofá”.
Talvez o problema esteja na forma como a Nintendo vende o produto, pois é enquanto console de mesa que o Switch encontra seus maiores desafios. Até mesmo a perda gráfica em Zelda quando se passa do modo portátil para a TV é severa, e dá uma amostra do que podemos esperar pro futuro em termos de games mais realistas.
Para aqueles que tinham a expectativa de jogar os grandes thirds AAA no formato mobile, fica claro que existe aqui um desafio de desenvolvimento, que precisará de muito esforço para ser transposto – e talvez jamais aconteça. O mais provável é que as empresas terceiras apostem em jogos independentes e de médio orçamento, onde as limitações fiquem menos evidentes.
Enquanto custo-benefício, ainda é impossível recomendar o lançamento da Nintendo para qualquer pessoa que não seja fã entusiasta da marca, pois o único grande jogo que há para se aproveitar é o novo Zelda. Por mais compensador que seja esse titulo (e é), ainda é preciso levar em conta que o valor de 300 dólares está longe de ser o custo real do Switch.
Enquanto na concorrência, videogames de resolução equivalente custam menos que isso já acompanhados de serviço de assinatura e jogos, sendo seus periféricos meramente opcionais, aqui boa parte deles é mandatória desde o primeiro momento de jogatina.
Levando em conta película de boa qualidade, case para o portátil, Pro Controller, grip e battery pack para carregamento, e um cartão SD de pelo menos 128 GB ( já que a memória interna do console é de apenas inacreditáveis 32BG) e claro, pelo menos um jogo, é impossível sair da loja deixando menos de 500 dólares.
Há muito que a Nintendo pode fazer para tornar o Switch mais vantajoso aos olhos da parcela mais crítica do público, que não se deixa levar levar pelo hype e aguarda para conferir o real valor dos produtos que adquire. Muita coisa pode ser aprimorada por atualizações de software, outras por revisões de hardware e cortes de preço que com toda certeza virão no futuro, mas sem duvida a grande razão para aquisição desse aparelho será o valor único que os exclusivos Nintendo agregam a qualquer peça de hardware.
E nesse ponto, o Switch, apesar de marketing cuidadosamente planejado para fazer os consumidores pensarem o contrário, se distancia muito pouco dos produtos anteriores da empresa.