Atuado por jovens artistas de Garulhos, “Circuito Interno” explora o desamor numa sociedade padronizada – e bem real
Somos engrenagens que movimentam o sistema. E dentro da lógica do consumo, de produção excessiva e massificada, não há espaço para o amor. Mas, o que acontece se duas engrenagens se desconectam da máquina e passam a operar numa espécie de autonomia? Se individualizam e reconhecem, se conectando de forma mais permanente e para além da liquidez das relações nesses tempos obtusos. Aletheia é obcecada por eficiência e competência. Ela compreende que, com quanto mais afinco executar seu ofício, mais rápido poderá desfrutar de momentos felizes. No box ao lado, Lethos mal vê os dias passarem tão obstinado que está em formular a NoSensus, uma droga que vai aumentar a capacidade produtiva daqueles que trabalham no Instituto. Se enxergando pela primeira vez através do que vê no outro (tal como na sartriana Huis clos) a dupla logo cria um laço de afeto não-permitido, ejetado pela cultura do medo propagada pela política proibicionista da Organização.
Esse é o mote de Circuito Fechado, espetáculo teatral (que já foi tema de um FormigaLive) que reestreia dia 23 de novembro e segue em temporada em São Paulo até primeiro de dezembro. O projeto, que se norteia a partir de romances como 1984, de George Orwell e Admirável Mundo Novo , de Aldous Huxley, ainda se referencia tematicamente em escritos do filósofo Zygmunt Bauman. Surgido em 2016 e alimentado por muitos experimentos práticos, laboratórios e debates, Circuito Fechado já foi apresentado em duas bem-sucedidas temporadas em parceria com a Prefeitura de Guarulhos no Teatro Nelson Rodrigues.
Dirigido por Cris Urbinatti e tendo Danielle Bordino e Alexandre Galves como Lethos e Aletheia, traz ainda desdobramentos na contemporaneidade de mídias outras que se conectam na interface do espetáculo. “Pensamos numa forma de não só retratar a crise humana moderna como humor, mas numa montagem romântico-política que contém desdobramentos pedagógicos objetivando formar público, como os debates pós as apresentações com especialistas em cinema, literatura e arte sequencial”, pontua Galves.
Temporada de “Circuito Fechado” com Alexandre Galves e Danielle Bordin. Direção de Cris Urbinatti. No Teatro Commune (Rua da consolação, 1218).
Dias 23, 24, 30 de novembro e 01 de dezembro. Sábados às 21h e Domingos às 20h. Ingressos: 40 inteira/ 20 meia entrada.