5 plágios descarados da saga Star Wars
Caso você não esteja familiarizado com o termo, rip-offs são aquelas produções realizadas para faturar em cima do sucesso de outra, copiando algo da fórmula e seus elementos mais reconhecíveis. Exemplo: Tubarão (1975) “inspirou” produtores a investir no terror que vem do mar, então dá-lhe Orca – A Baleia Assassina (1977), sem contar a monstruosa quantidade de outros filmes posteriores com tubarões mesmo. Você pode entender melhor o conceito através desta postagem no Shortlist, mas o que nos interessa aqui são casos envolvendo um dos maiores sucessos do cinema. Aproveitando a estreia de Rogue One, o primeiro spin-off da saga, vamos falar de alguns famigerados rip-offs da saga Star Wars.
Já advertimos logo de cara. O que vem por aí são produções absolutamente oportunistas e capengas, com uma cara-de-pau que acaba tornando alguns momentos divertidos. Trash é um termo que talvez soe como eufemismo para alguns dos nossos exemplares a seguir. Enfim, vamos às nossas quatro pérolas da tranqueira espacial (pois uma é medieval), da melhor (menos ruim?) à pior (meio difícil nivelar essa ruindade, mas vamos tentar…), apontando alguns detalhes que os tornam legítimos rip-offs vagabundos.
Confira!
5- Mercenários das Galáxias (Battle Beyond The Stars, 1980)
A direção é de um tal de Jimmy T. Murakami, cujo melhor momento foi dirigir um segmento da clássica animação Heavy Metal, no ano seguinte. Embora não creditado, Roger Corman foi co-diretor, além de produtor executivo (ele tinha que aparecer em uma lista como essa, não?). Pois bem, todos sabemos da influência de Kurosawa – mais precisamente, de A Fortaleza Escondida – no filme de George Lucas. Os caras fizeram gambiarra até com isso, já que um jovem fazendeiro de um planeta pacífico parte para recrutar mercenários que possam proteger seu povo de um vilão conquistador, refazendo a trama de Os Sete Samurais, obviamente. John Saxon, o ator mais B do mundo, faz o malvado Sador, que avisa que voltará para saquear o planeta Akir, cujos habitantes se chamam… akiras! Ah, Sador tem um “conversor estelar”, a arma mais poderosa do universo.
Mercenários das Galáxias procura imitar – sem sucesso – não só a dinâmica das batalhas presentes em toda saga Star Wars, mas passa mais vergonha quando chupa as transições de cena em slide, bastante reconhecíveis em todos os filmes da série. Entre outras besteiras desta bagunça, o grupo dos mercenários tem um cowboy e uma valquíria (sim, da mitologia nórdica)! Destaque para a nave senciente do jovem herói, que parece um tubarão-martelo cabeçudo com seios, dependendo do ângulo. Bem, creditado ou não, é Corman…
Curiosidades: trilha sonora de James Horner e contou com James Cameron na Direção de Arte, o que talvez tenha sido significativo para colocar essa obra como a menos ruim da seleção.
4- Starcrash (idem, 1978)
Se Corman era aposta certa dando as caras aqui, algum italiano também teria que aparecer. Luigi Cozzi, do medonho Hércules 87, com Lou Ferrigno, usa seu pseudônimo de Lewis Coates no comando desta bomba. Já começa copiando o enquadramento de Uma Nova Esperança, quando a nave passa pela câmera, mas força mais a amizade quando vemos “Murray Leinster” impresso no casco da nave. Simplesmente, o nome de um dos grandes escritores da Era de Ouro da ficção científica, mas a coisa não termina aí. Dentro da nave, ouvimos o chamado para um tal de Major Bradbury (!), como se essas referências trouxessem algum respaldo sci-fi para a produção. Esses dois detalhes estão lá à toa e não tem qualquer serventia posterior.
Aqui também temos um Império, mas esse é do bem, com seu imperador vivido por Christopher Plummer (!!), que recruta a beldade Stella Star – Caroline Munro, Bond Girl no ano anterior – e seu companheiro alienígena Akton, contrabandistas condenados, para acabarem com a arma secreta do maligno Conde Zarth Arn. No caminho, ainda precisam resgatar o filho galã do imperador, papel de ninguém menos que David “Super Máquina” Hasselhoff.
Se Carrie Fisher precisou esconder qualquer atributo físico mais evidente, Caroline Munro não teve esse problema em Starcrash. Seu figurino deixa clara a disposição que os realizadores tinham de explorar o apelo de um corpo feminino, talvez para distrair o público da precariedade dos efeitos especiais, que, em vários momentos, se resume a uma muito pouco convincente sobreposição de imagens. Sobre outras “semelhanças” com Star Wars, temos também um robô emotivo, sabre de luz e alguém com poderes semelhantes aos da Força, cujo corpo some após a morte. Mais constrangimentos no final, quando o principezinho e a ex-contrabandista se apaixonam, cada um dizendo o nome do outro umas três vezes, além de um monólogo pacifista de Christopher Plummer quebrando a quarta parede. É demais!
Curiosidades: trilha sonora de John Barry, presente em vários filmes de James Bond. Roger Corman acabou associado a essa tranqueira também, já que foi lançada em DVD nos EUA dentro da coleção Roger Corman Cult Classics.
3- O Falcão Justiceiro (Hawk The Slayer, 1980)
Um exemplar da Inglaterra diversificando a lista. Pode parecer estranho classificar como rip-off um filme que não é uma aventura espacial, mas uma fantasia no estilo “espada & feitiçaria”, porém, esse estilo de narrativa foi também uma influência para George Lucas. Na via inversa e na cara-dura, o diretor e co-roteirista Terry Marcel usou elementos de Star Wars para sua epopéia medieval.
A roupa do herói – John Terry, pai de Jack em Lost – tem algo perceptível de Han Solo. Jack Palance paga mico como o vilão Voltan (esse nome também tem algo de familiar) e usa um capacete que lembra o de Darth Vader. O malvadão também é uma espécie de agente de um mal superior, com uma grande ironia tentando dar ares de tragédia grega a isso tudo. Os dois são irmãos, apesar da gritante diferença de idade entre os atores – trinta e um anos, para ser mais exato.
O pacote se completa com poderes mentais e um inevitável duelo de espadas no final. Descontando as chupinhações da saga Star Wars, O Falcão Justiceiro não tem muito a oferecer, a não ser que o barato seja juntar a galera e rachar o bico. Isso fica claro nas trucagens toscas de edição que tentam simular velocidade, algo que você pode conferir no trailer abaixo. O engraçado é que lembra Willow – Na Terra da Magia (1988), o que aumenta um pouquinho – de uma forma torta – essa relação bizarra com as criações de George Lucas.
2- Star Odissey (Sette Uomini D’oro Nello Spazio,1979)
Já passamos por um caso onde um italiano dirigiu uma produção dos EUA. Aqui temos um produto 100% italiano, com um título original muito interessante: Sete Homens de Ouro no Espaço! Esta picaretagem nunca foi lançada por aqui e ganhou o nome pomposo de Star Odissey na terra do Tio Sam, afinal, é sempre bom colocar um “Star(s)” no título de um filme como esse. O responsável por esse petardo é Alfonso Brescia, assinando como Al Bradley.
A terra é atacada por um vilão intergalático que conta com um exército de robôs. O sujeito usa roupas pretas e sua pele lembra a de um réptil. Poderes mentais ao estilo da Força? Sim! Sabres de luz? Aos montes e com efeitos especiais práticos. Sim, pois os caras usaram madeira pintada! Essa atrocidade barata ainda conta com uma estranha luta de boxe entre um humano e um robô (lembrei de Gigantes de Aço, com Hugh Jackman…), com menos realismo do que qualquer telecatch que você já tenha visto. A trilha sonora só ajuda no clima.
Depois de tudo que já falamos, é assustador perceber o quanto as coisas sempre podem piorar. Star Odissey é algo do nível de Ed Wood, sob qualquer aspecto. Mesmo algo simples, como a postura dos atores, parece forçar o ridículo de propósito. Tem até o descarado reaproveitamento de cenas de destruição de outros filmes.
Curiosidade: bem, o filme inteiro é uma curiosidade, mas encontrei uma referência a ele como “Star Wars Italiano”, o que dá a deixa para o próximo e derradeiro item da lista.
Um adendo antes de partirmos para o glorioso primeiro lugar na lista. Se você já conhecia algo sobre esse assunto de cópias baratas de blockbusters, pode ser que esteja esperando agora que o magnífico Star Wars Turco seja coroado nesta relação. Na verdade, esse é tão especial que mereceu um artigo dedicado somente a ele, já publicado há bastante tempo por aqui. Caso ainda não tenha visto, só acessar o link acima e viajar na tosquice estelar. Aliás, ele também virou notícia há pouco tempo…
Neste caso, quem ocupa o alto do pódio aqui? Nada menos que o Star Wars Brasileiro!
1- Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (AKA Brazilian Star Wars, 1978)
Parece injusto classificar uma sátira como rip-off, certo? Mais ou menos, já que esse tipo de iniciativa também visa faturar em cima do sucesso de outra, algo comum na filmografia dos Trapalhões (falando neles, assista também a este Formiga na Tela), além de quê, o título alternativo de Brazilian Star Wars consta no IMDb, onde o quarteto é chamado “The Dabblers”. Caso algum dia isso mude, segue um print da página:
Fora o que já foi dito, é uma experiênca única assistí-lo, no mau sentido, é claro. Marcando a mudança de trio para quarteto, com a entrada de Zacarias (aqui ainda creditado como Mauro Gonçalves), também era o momento em que eles se mudavam para a Globo, que deixa evidente sua influência no formato. Não foi filmado em película, mas em VT, que é bem mais rápido, porém deixou o “filme” com cara de especial de TV. No entanto, o maior pecado do nosso Star Wars é fácil de perceber… é uma comédia que não tem a menor graça, arrancando um ou outro riso involuntário quando pensamos em como tiveram coragem de lançar aquilo.
Adriano Stuart, figura conhecida na Boca do Lixo, dirige (discutível…) o “roteiro” de Renato Aragão. Aliás, Stuart também foi responsável por Bacalhau (1975), sátira de Tubarão. Como se trata de algo feito às pressas para aproveitar uma onda, afinal, o primeiro exemplar da saga Star Wars havia estreado no ano anterior, ainda tentamos dar um desconto, já que o cineasta foi obrigado a esticar muito algumas situações para chegar a uma duração de longa metragem.
Abrindo com uma exaustiva perseguição automobilística aos Trapalhões, eles acabam passando a noite em uma praia. Depois, uma nave aterrissa e o príncipe Flick – Pedro Aguinaga, vestido como Luke Skywalker – aparece pedindo ajuda ao grupo. Sua noiva foi capturada pelo vilão Zucco (um Darth Vader mal feito que, pasmem, tenta ser levado a sério como ameaça), que quer que ele entregue a outra metade do computador Cérebro… já entendeu, não?
Deveria ser uma comédia paródica, já que Flick tem um ajudante muito alto com cara de cachorro, chamado Bonzo, mas Aguinaga tenta ser heroico e dramático o tempo todo. O ritmo da produção é tão lesado que na primeira meia hora só há três cenas esticadas ao máximo. A perseguição, a chegada da nave e uma sequência de pancadaria com câmera lenta e acelerada à la Terence Hill e Bud Spencer, em um cenário que imita o planeta Tatooine. Em matéria de efeitos especiais, o chroma-key é outro motivo de riso involuntário, já que qualquer episódio de Chapolin, especialmente o dos aerolitos, é bem melhor.
Curiosamente, o final é triste no estilo de O Último Americano Virgem (se não sabe do que falo, neste vídeo comentamos o filme), com o pobre Didi perdendo sua amada para o príncipe de uma hora para outra, pois o mesmo descobriu que sua noiva já estava morta. Pobre do público também, sofrendo com essa confusão temática em algo que deveria ser simples.
Para que ninguém me acuse de injustiça, está aí COMPLETO abaixo, para quem quiser julgar por si mesmo:
E assim acaba a lista dos rip-offs da saga Star Wars. Poderia ser bem maior, incluindo até outra iniciativas diferentes de aproveitar a onda espacial, como 007 Contra o Foguete da Morte (1979), mas sanidade mental tem limite e é melhor não abusar. Oportunamente, mais postagens surtadas vão aparecer aqui na seção Mundo Bizarro. Só preciso de tempo para me recuperar.
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