Kingsman: Serviço Secreto também foi comentado no Formiga na Cabine!
Desde Cassino Royale (2006) e a Trilogia Bourne (iniciada em 2002), é comum ouvir queixas sobre como os filmes de espionagem de hoje são menos divertidos, buscando uma verossimilhança mais crua e sombria. Isso, é claro, usando como parâmetro os exemplares do estouro do segmento, com James Bond, no começo da década de 1960. Pura questão de gosto, afinal, o que vale é a narrativa começar e terminar de forma coerente com sua proposta, definida em seus primeiros minutos. Um lance muito bacana em Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman: Secret Service) é brincar um pouco com esse sentimento de algumas pessoas, criando um filme que se por um lado é leve e ingênuo, homenageando e citando diretamente as aventuras de espionagem clássicas, não deixa de ter sequencias mais violentas e um humor mais adulto.
A trama mostra o agente Galahad da Kingsman, agência secreta britânica que não responde ao governo, vivido por um Colin Firth se divertindo bastante na pele de um super-espião, que se sente culpado pelo sacrifício de outro agente que estava sob sua tutela. Anos depois, ele tem a chance de se redimir, recrutando e treinando o filho problemático do colega morto (Taron Egerton). Claro que há um choque entre o cara crescido nas ruas e o cavalheirismo britânico, aparece uma missão que definirá o destino do mundo e o vilão é um tipo propositalmente caricato e, seguindo a tendência atual, nerd até a medula. Samuel L. Jackson também faz a festa encarnando esse papel.
Criado a partir da HQ de Mark Millar e Dave Gibbons, The Secret Service –inédita no Brasil – cuja ideia foi elaborada em co-autoria com o diretor do filme, Matthew Vaughn, em ambos os casos o objetivo foi aquele tipo de paródia respeitosa a esse subgênero da aventura. O fã de HQ, hoje em dia, reconhece o roteirista Mark Millar como alguém que cria histórias em quadrinhos apenas como material para ser adaptado ao cinema, e quem tiver a oportunidade de conhecer o material original, vai perceber que aqui também foi o caso. Comparando o roteiro do gibi com o do filme, escrito por Jane Goldman, parceira habitual de Vaughn, o primeiro traz algumas boas sacadas que inexplicavelmente ficaram de fora no filme, como as citações e aparições de várias personalidades reais do mundo do cinema. Por exemplo; Mark Hammil. No filme, a ironia se perde com a participação de Hammil não como ele mesmo, mas no papel de um cientista.
Se o roteiro do filme assume esse lado de fazer graça com vários clichês da espionagem, infelizmente , quando o comparamos com sua fonte, percebemos que ele pega leve em outras referências do próprio mundo nerd/pop. Seria medo de ofender e/ou de não ser compreendido? Além disso, a direção de Matthew Vaughn é irregular, entregando um filme que não sustenta seu ritmo pelos seus 129 minutos, alternando entre as piadas, sequencias de ação – uma delas muito legal graças ao exagero a lá Millar – e um recheio sem inspiração entre os dois primeiros. Outro problema é a utilização exagerada de CGI lá pelo seu terceiro ato, evitando uma violência mais gráfica em uma obra não precisava disso, afinal, sua classificação é R, o que o restringe a maiores de 17 anos.
Kingsman: O Serviço Secreto tem problemas, é verdade, mas tem seus momentos legais que valem uma espiada. Qualquer um, familiarizado com espiões da ficção, vai se divertir com os diálogos entre Samuel L. Jackson e Colin Firth, as referências diretas a esse universo – o guarda-chuva dos agentes da Kingsman, por exemplo – entre uma piada aqui e uma sequencia de ação ali. Isso pode não atrair alguns, mas se basta para você, veja, relaxe e aproveite! É bem mais do que muitos blockbusters – de orçamento bem maior do que esse – nos entregam ano após ano.
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