Nikki (Annette Bening) é uma mulher de meia idade e mãe de uma filha já adulta, tentando se refazer de uma grande tragédia ocorrida numa viagem ao México, onde seu marido Garett (Ed Harris) afogou-se em uma das praias locais, quando completariam 30 anos de casados. Tentando retomar o que restou de sua vida, Nikki visita -anos depois – um dos lugares preferidos do marido, o Museu de Artes de Los Angeles, onde encontra um desconhecido, Tom, incrivelmente parecido com o falecido. A partir do episódio, ela passa a frequentar o museu todos os dias em busca deste sósia misterioso.
Curioso ver como o diretor Arie Posin (Más Companhias) presenteia – em um momento anterior – os cinéfilos mais ferrenhos e atentos aos detalhes, dando pistas sobre os próximos passos desta narrativa. Nossa protagonista trabalha decorando casas à venda, criando um ambiente para os visitantes do imóvel, emulando uma presença com objetos aconchegantes. Podemos ver em uma sala de jantar, dois objetos significativos – um quadro do filme Nostalghia (Nostalgia) do diretor Andrei Tarkovsky, e outro de Vertigo (Um Corpo que Cai) de Alfred Hitchcock.
A escolha desses elementos, representando o estado emocional da personagem, é brilhante. O título do filme de Tarkovsky já explica tudo, evidenciando a saudade e a busca pelo que não mais existe, e Vertigo é uma história de um amor doentio que envolve sósias.
Annette Bening – de Minha Mães e Meu Pai (2010) – está sensacional como Nikki, conseguindo passar a dor do luto e a frustração de enfrentar diariamente a realidade de uma perda irreparável de um amor que parecia para toda vida. Vivendo intensamente a ilusão das “troca de identidade” entre Garett e Tom, Nikki em alguns momentos parece vacilar entre a insanidade e o desespero. Vale observar as cores das roupas dela durante o luto. Após conhecer Tom, os trajes saem dos tons escuros para outros mais alegres, trazendo um pouco de sol em meio à escuridão da depressão.
Como curiosidade, temos Robin Williams, falecido em 11 de agosto deste ano, em um papel secundário, interpretando Roger. Também viúvo, ele acredita na possibilidade de conquistar o coração enlutado de Nikki.
Ao fim deste filme, veio-me a frase de um livro que li há muitos anos, mas nunca esqueci : “A felicidade é ideia de repetição” de A Insustentável Leveza do Ser do escritor Milan Kundera. Também é real o conceito do amor na psicologia, sobre nunca amarmos verdadeiramente o outro, mas a ideia que fazemos acerca dele.
Enfim, um filme tocante e reflexivo, embora modesto, o que neste caso, casou perfeitamente com o enredo.
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