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Rocketman – O céu é o limite para Elton John!

Divertido, Rocketman traz a alma de Elton John para as telas

Um dos traços mais entediantes da produção hollywoodiana recente é a repetição dos temas. Adaptações de livros, quadrinhos, games, “vida real”… Sempre dentro da mesma embalagem cuidadosamente asséptica – entenda-se “provocativa apenas na medida certa”. No caso das cinebiografias, é constrangedor perceber a utilização das mesmas fórmulas, todas mirando a atenção da preguiçosa “academia” – com “a” minúsculo mesmo – de artes cinematográficas estadunidense. Isso, e o fato de o diretor Dexter Fletcher ter estado diretamente relacionado a Bohemian Rhapsody, fizeram todos acreditar que Rocketman seria tão somente uma cópia do primeiro – cujo impacto se diluiu alarmantemente rápido. Mas, vez por outra, a gente paga a língua. E a cinebiografia de Elton John é muito mais divertida do que se poderia imaginar.

Crítica de Rocketman, cinebiografia de Elton John

E é divertida justamente porque abraça as duas maiores qualidades do homenageado: a extravagância e a tragédia pessoal que a acompanha. Porque veja, amigo leitor, as vidas dos rockstars – e isso não deixa de ser uma ironia do destino – eram interessantes apenas enquanto seus excessos eram novidade. Hoje, o padrão dessas vidas hiperbólicas sempre diminui o holofote sobre o vizinho; nos tempos líquidos, uma história de superação é apenas mais um produto a ser consumido e descartado. Talvez por isso, a supracitada peça sobre o Queen tenha se desgastado tão rápido: sua apresentação artificial e seu drama insosso não sobrevivem nem com todo o carisma dos protagonistas.

No caso de Rocketman, é diferente. A escolha, acertadíssima, por um filme pontualmente abstrato faz com que ,o filme seja a fábula fantástica de uma pessoa becketiana contada pelo seu próprio ponto de vista. A tragédia, a tristeza e os excessos estão todos lá. Mas, mais do que um agregado aleatório, mais do que um recorte específico da vida de um artista tentando nos provocar comoção na marra, o trajetória de transformação de Reginald Dwilght no titular “rocketman” é apresentada de maneira tão envolvente e orgânica, que temos pouco tempo para nos comovermos com sua tristeza.

Boa trama, efeitos nem tanto

Paradoxalmente, entretanto, temos muito tempo para entendê-lo, já que Fletcher consegue fazer parecer que, durante toda a vida, por meio de sua música, John e seu inseparável companheiro Bernie (o fantástico Jamie Bell) estavam nos preparando suas biografias na forma de sucessos indeléveis da música pop. De fato, o filme engana, e quase se faz parecer que não é um musical. O que não deixa de ser um mérito.

Muito disso se deve a magnífica interpretação do protagonista Taron Egerton, inconspicuamente egresso de um sucesso diametralmente oposto em tema e execução: Kingsman e sua continuação. Com fluidez, ele transita entre o atabalhoado, por vezes cômico, processo de auto-aceitação de John, a tristeza que carrega por ser um indivíduo único, tanto por escolhas próprias quanto por qualidades inatas, e a hipérbole da sua persona de palco. Não é que Rocketman seja uma grande exceção à regra no conjunto das cinebiografias recentes. Está tudo ali – a infância difícil, o fiel companheiro, os amores perdidos, os amigos esquecidos, a parábola de ascensão e descenso, até finalmente o eterno momento da encruzilhada do Pagliacci e a subsequente redenção particular. A fórmula é seguida à risca. Mas, tal qual Elton John, com algo a mais.

Crítica de Rocketman, cinebiografia de Elton John

Algumas coisas, entretanto, incomodam. É um fato que esse tipo de cinebiografia, como já dissemos, é feito com o objetivo de atirar para todos os lados na cerimônia do Oscar e ver o que acerta. Por isso, existe obviamente um extremo cuidado na direção de atores e na reconstituição de trejeitos e figurinos. Entretanto, quando se trata da escala do filme, a artificialidade dos efeitos digitais é palpável; não obstante, risível. Se existe qualquer ser humano que acredita em qualquer cena dos shows em estádios e com multidões, essa pessoa é mais míope do que o próprio Elton John. Um exemplo dessas dificuldades técnicas fica explícita na maquiagem de Bryce Dallas Howard, intérprete da mãe de John, Sheila. Se fosse uma atriz de menor envergadura, seria difícil levar sua interpretação a sério, já que as próteses da sua versão envelhecida parecem algo emprestado de um alienígena de Star Wars.

De toda forma, a extrapolada vida de Elton John e sua carismática adaptação transcendem essas minúcias técnicas. No fundo, é praticamente impossível para o espectador casual tirar os olhos da energética performance do frontman inglês. Ao que parece, é com prazer que finalmente podemos apontar uma cinebiografia que vale a pena o dinheiro do espectador sem maiores ressalvas.

Mas, afinal, estamos falando de Elton John. Nada deveria nos surpreender.

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