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Godzilla II: O Rei dos Monstros – Kaiju para quem gosta de Kaiju!!!

Godzilla II: Rei dos Monstros é um filme feito com carinho para os fãs. Mas só para eles

Seguido das divididas opiniões do filme Godzilla, de 2014, um reboot do monstrão no cinema estadunidense e o chute inicial em mais um universo compartilhado – a praga do cinema contemporâneo – Godzilla II: Rei dos Monstros (Godzilla: King of the Monsters), de Michael Dougherty, tem a ingrata missão de manter viva essa ideia, que ainda permanece elusiva depois que os dois primeiros filmes da franquia – mencionando Kong: A Ilha da Caveira – não foram exatamente os sucessos estrondosos que se esperavam. E a resposta para essa dúvida é tão elusiva quanto. Afinal, depende muito de quem está assistindo.

Crítica de Godzilla 2 Rei dos Monstros

 

No geral, Godzilla e Kong, apesar de pertencerem ao mesmo universo, tiveram tons de apresentação bastante distintos. Enquanto o primeiro tentava recuperar a aura de ameaça que exalava o original de 1954, emanando uma certa pretensão narrativa com resultados de público e crítica divididos, o segundo abraçou abertamente a galhofa que a ideia de monstros gigantes transmitem para o público contemporâneo, sendo um filme sem grandes pretensões e, por isso, mais bem quisto no geral. Onde Godzilla II se posiciona nesse meio de campo?

Numa espécie de meio termo indeciso. O filme mantém aquela aura de ameaça constante, e a pretensão como metáfora ecológica é mantida; até por isso, a única grande figura que resta do primeiro filme é justamente Ken Watanabe, que permanece ali para dar a boa e velha legitimidade japonesa para uma produção americana de algo nipônico. Há o acréscimo – que não deixa de ser natural – da ideia de esses monstros serem militarizados e usados como armas, trazendo ao menos uma inquestionável contribuição para o filme: a presença da mais alta estirpe de Charles Dance como o ecoterrorista Alan Jonah.

De resto, não há muito o que se dizer. Existe um banal arco dramático relacionado à família Russell, composta por Vera Farmiga, Kyle Chandler e Millie Bobby Brown, e a constante martelada de que tudo relacionado aos monstros é culpa nossa. Completa o desperdiçado bom elenco a sempre interessante Zhang Ziyi, mas que aqui só emula o personagem de Watanabe numa versão feminina mais jovem – nos lembrar de que o problema com os bichões é de todo mundo. Nesse sentido, a trama é facilmente resolvida: Dra. Russell (Farmiga) desenvolveu um jeito de se comunicar com os monstros. Jonah (Dance) quer usar a técnica para libertar todos os monstros do mundo e acabar com a humanidade. Eles liberam Ghidorah, que se descobre impossível de conter e ainda liberta mais uma cacetada de outros monstros. Godzilla sai da água e senta a lenha com a ajuda dos humanos. Fim.

Crítica de Godzilla 2 Rei dos Monstros

Todos os monstros estão aqui

Quando dissemos que é um meio termo entre o primeiro filme e Kong, é nesse ponto que queríamos chegar. Porque o filme adota a boa e velha tática do “mais é melhor” – e aí cabe ao amigo leitor determinar se isso é suficiente ou não. Uma das maiores reclamações em relação ao primeiro filme é que pouco se via o monstro-título. Bem, em Godzilla II, não bastasse a presença dele desde a primeira cena, ainda temos uma overdose de fan-service para os fãs da Toho na forma de alguns favoritos da galera – Rodan, Mothra e claro, King Ghidorah. Os monstros são realmente um problema, e tocam o terror do começo ao fim, com direito a batalhas monumentais entre eles e – pasme – até uma espécie de “mini arco-dramático” entre eles.

O que não é nem remotamente importante porque quem vai assistir um filme desses, no fundo, só tem uma coisa em mente: desgraça sem no meio de monstros saindo no braço. Nesse sentido, Godzilla II é brutalmente fiel aos seus exemplares japoneses. Apesar da pretensão narrativa, um pouco da galhofa de Kong se apresenta aqui. O absurdo que esses monstros representam é assimilado com uma naturalidade maior do que no primeiro filme; coerente, afinal, agora se sabe da existência dos bichos e se lida com isso. Mas, para além disso, a ideia de se criar uma mitologia para eles – aí incluindo uma cena impagável com Watanabe que não dá para dizer se é para rir ou chorar – deixa claro que a ideia de ecologia aqui é realmente apenas um subtexto, um subterfúgio para não ter apenas duas horas de boxe de gigantes.

Dessa forma, com alguma ousadia, arriscamos dizer que é exatamente com esse espírito que o amigo leitor deve ver o filme: Godzilla II é apenas um daqueles bons e velhos Godzillas-borrachões da Toho, mas com um orçamento brutalmente maior. De fato, mesmo o recente Shin Godzilla é mais consistente em termos de existência, pois sua metáfora em relação à Fukushima e os constantes desastres naturais do Japão faz muito sentido para esse povo. Para o resto do mundo, a graça que nos resta é ver a pancadaria em escala planetária.

A direção de Dougherty nem sempre facilita isso: os custos de realizar essa escala são acobertados por alguns velhos “migués” – como realizar as batalhas entre os monstros durante a noite – e alguns novos – Ghidorah agora “cria” tempestades e chuva ao seu redor, o que convenientemente esconde suas formas e a de seus adversários boa parte do tempo. Não obstante, o diretor busca emular alguns planos de câmera de Gareth Edwards, o que pode ou pode não ser interessante para o espectador. Em contrapartida, a magnífica trilha sonora de Bear McCreary dá uma espécie de legitimidade épica e dramática que nem sabemos se o filme realmente merece, mas certamente precisa. É um deleite a parte ouvir os temas de velhos personagens executados dessa forma.

Se você é um velho fã do personagem, ou se simplesmente vai de boa vontade sem imensas expectativas, o provável é que a versão “2.0” de Zilla vs. Dorah deixe a sua criança nerdinha interior muito feliz. Diríamos até que é impossível não ficar completamente atento e satisfeito toda vez que os bichos entram em cena – mesmo com os migués. Porque Godzilla é sempre Godzilla, sem tirar nem pôr: é um disaster movie com lagartos gigantes disparando raios pela boca.

Não fica melhor do que isso. Para bem ou para mal.

PS: Tem cena pós-crédito.

PS 2: Zilla vs. Kong vem aí. Claro.

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