Desde 1986, diversos e cada vez melhores filmes de Guerra surgiram. O RESGATE DO SOLDADO RYAN, ALÉM DA LINHA VERMELHA, A CONQUISTA DA HONRA entre muitos outros trouxeram novas cores a um dos mais clássicos gêneros do cinema.
Mas por que citei 1986? Porque mesmo com o avanço da tecnologia e renovação narrativa ao longo dos anos, em minha opinião, PLATOON, lançado em 1986, ainda persiste como o melhor filme de Guerra que vi em toda minha vida. Um verdadeiro triunfo do diretor e roteirista Oliver Stone, ele próprio um veterano em dois regimentos do Exército Americano na Guerra do Vietnã, conflito que ele escancara sem meias verdades na produção, que chegou a ser banida no Vietnã, devido à maneira com que o filme retrata a força militar e a população local.
Vencedor de 4 Oscars na cerimônia de 1987, incluindo Melhor Diretor e Melhor Filme, PLATOON é uma das obras mais corajosas e duras da história do cinema. Ao acompanhar a chegada do recruta Chris (Charlie Sheen) ao Vietnã, e mostrar como os horrores e a dualidade do homem modificam o soldado para sempre, PLATOON coloca como cúmplice o público, que desembarca do helicóptero junto do protagonista do filme.Cineasta prolífico e politizado, Stone escreveu o roteiro de PLATOON em 1971, e teve a bravura de contar sua história com muita franqueza, retratando que as tropas americanas (e principalmente elas) sujaram suas mãos em um conflito que já estava perdido antes mesmo de começar.
No entanto, a verdadeira guerra travada em PLATOON não é o conflito entre os americanos e a força Vietnamita. A verdadeira batalha acontece dentro do próprio pelotão que dá nome ao filme, mais precisamente nas figuras dos dois Sargentos da Companhia, Barnes (um arrepiante Tom Berenger) e Elias (o sempre ótimo Willem Dafoe). A simbologia do conflito entre estes dois combatentes é a própria analogia do que acontecia nos Estados Unidos na época: um barril de pólvora onde as forças da repressão e da violência (Barnes) e um engasgado grito da população em se libertar do conflito inútil e abraçar a paz (Elias), chocaram-se de frente, colocando Chris e seu pelotão (todo um país) em meio ao banho de sangue.
É claro que o sonho de paz é esmagado implacavelmente, como bem ilustra a antológica cena da morte do Sargento Elias, ao som da canção clássica “Adagio For Strings“, composta por Georges Delerue. Utilizando uma inacreditável câmera lenta e acompanhado da referida obra musical, Stone criou uma sequência tão emocionalmente demolidora, que até hoje permanece insuperável. É como se a morte de Elias simbolizasse a perda da inocência por parte do protagonista, do público, e que antecedeu a perda da inocência de toda uma nação.
PLATOON também foi responsável por lançar diversos nomes hoje de peso no cinema mundial. O próprio Sheen, o ganhador do Oscar Forest Whitaker e o mega-astro Johnny Depp mostraram suas caras na produção, que teve papéis oferecidos para atores como Emilio Estevez (irmão de Sheen na vida real), Kevin Costner, Mickey Rourke, Nick Nolte, James Woods e Denzel Washington. Como tentava viabilizar a produção desde o início da década de 1970, até o vocalista do The Doors, Jim Morrison, recebeu um convite para interpretar o protagonista. Morrison estava com uma cópia do roteiro em mãos, quando foi encontrado morto em Paris. Posteriormente, Stone dirigiu a cinebiografia do artista, THE DOORS, em 1991, com Val Kilmer no papel principal.
Um retrato esmagador das atrocidades da guerra, PLATOON também se mantém como uma obra definitiva sobre o conflito do Vietnã pela veracidade de sua produção, que conta com momentos inspirados em eventos que o próprio Oliver Stone vivenciou em sua passagem pelo conflito.Todos os atores enfrentaram um período de 14 dias em um campo de treinamento militar nas Filipinas, antes de começarem as filmagens. Também tiveram seus cabelos raspados, só se alimentavam das rações do exército, não podiam tomar banho e dormiam na selva, inclusive em turnos de vigilância.
O filme foi todo rodado em inacreditáveis 54 dias! E de maneira sequencial, ou seja, à medida que os personagens morriam no filme, os atores que os interpretavam voltavam para casa. A emoção que Charlie Sheen demonstra no helicóptero na destruidora sequência final do filme era real, já que era hora do próprio Sheen voltar para casa.
Curiosamente, PLATOON conta com a narração em off do personagem de Charlie Sheen, ecoando a narração de seu pai Martin Sheen em outro clássico sobre a Guerra do Vietnã, APOCALIPSE NOW, dirigido por Francis Ford Coppola em 1979.
Stone voltou a falar do Vietnã e dos desenlaces do terrível conflito mais duas vezes na carreira. Nos dramas NASCIDO EM 4 DE JULHO (1989) com Tom Cruise, e ENTRE O CÉU E A TERRA (1993), com Tommy Lee Jones. Mas nenhuma das duas obras continha a implacável pegada desta que, até hoje, considero a melhor obra do diretor.
Quase nunca se pode levar a sério as frases escritas nos posters dos filmes, mas o filme também teve mais um acerto neste quesito:
“A primeira e verdadeira perda em uma guerra é a da inocência. O primeiro e mais verdadeiro filme sobre a Guerra do Vietnã, é PLATOON”.