Pequeno Segredo ganhou notoriedade ao ser escolhido como o representante brasileiro para concorrer à indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, desbancando filmes com A Despedida, Mais Forte que o Mundo e o grande favorito: Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Todos esperavam que a escolha do longa de David Schurmann (Desaparecidos) seria pela qualidade e não pela briga nas esfera política, mas, infelizmente, provou-se que a opção foi feita mesmo pela polêmica envolvendo o o outro filme. No fim, o que encontramos aqui é um melodrama fraco, apelando para o choro fácil e infeliz no seu resultado final.
O longa conta a história da própria família Schurman, mais especificamente da pequena Kat (Mariana Goulard), a filha adotiva de Heloísa (Júlia Lemmertz) e Vilfredo (Marcello Antony), além do tal “pequeno segredo” que envolve a família. Fora esse núcleo, temos um romance envolvendo o médico neozelandês Robert (Errol Shand) e a brasileira Jeanne (Maria Flor), essa que sofre preconceito por parte da complicada mãe do médico, Barbara (Fionulla Flanagan).
O primeiro grande defeito do longa está no roteiro, assinado pelo próprio diretor, mais Marcos Bernstein e Victor Atherino. Além de diálogos pavorosos, proferidos por personagens desinteressantes e clichês, a estrutura narrativa do longa é uma bagunça. O trio decidiu colocar multiplots (vários núcleos dentro da mesma história) que começam a criar coesão entre si. O problema é que fica claro que o filme não precisava dessa estrutura e deixa a sensação que essa narrativa poderia ser desenvolvida de maneira clássica e direta, sem a necessidade de ir e voltar no tempo, algo que mais atrapalha o entendimento do que adiciona alguma coisa. Além desse problema de estrutura, outro erro do roteiro está na revelação do “pequeno segredo”, que está na sinopse. Sim, a própria campanha de divulgação do longa diz qual é a surpresa e o problema está no fato do filme tratar essa revelação como o grande ponto de virada da história. Assim como a escolha da estrutura é equivocada, essa consegue ser mais ainda, pois não há justificativa narrativa para essa escolha.
Se Schurmann erra no roteiro, não consegue se salvar em meio a uma direção que beira ao amadorismo. Como no próprio texto ele prefere arriscar no mais difícil, o mesmo pode se dizer no restante. Além de uma fraca direção de atores, o cineasta parece não ter noção alguma sobre o que filmar, ou como fazê-lo. Exemplo: temos dois personagens no mesmo ambiente e ao invés do diretor cortar para um plano mais aberto, para vermos a relação espacial entre estes e o cenário, ele escolhe fazer um movimento de câmera ridículo sem a menor serventia narrativa. Na verdade, poucas escolhas feitas pelo diretor fazem algum sentido.
A parte técnica de Pequeno Segredo é eficiente, principalmente a fotografia e a trilha sonora. Porém, a direção de arte tem um grave problema: o filme se passa em três lugares diferentes e em tempos diferentes, mas não dá para diferenciar espaço e tempo. Principalmente, entre Florianópolis e Nova Zelândia não há diferença alguma, mas a fotografia tenta consertar esse erro utilizando filtros que mudam a paleta de cores, mas não consegue disfarçar que os cenários são idênticos, nem passar a ideia que a diferença entre um momento e outro é de 10 anos.
O elenco do filme tenta fazer o que dá, mas, por conta da direção e do roteiro, apenas Errol Shand e Fionulla Flanagan conseguem se destacar. O primeiro por ser um ator muito expressivo, conseguindo passar com o olhar sentimentos como amor e carinho, e a segunda por dar mais dimensões à sua personagem, não a deixando apenas com uma vilã caricata, fazendo o público compreender suas intenções. Infelizmente o resto do elenco não consegue a mesma eficiência. A ótima Júlia Lemmertz fica o tempo todo com o mesmo semblante de choro, Marcello Antony entra mudo e sai calado, Maria Flor fica presa a uma personagem muito sem graça e a jovem Mariana Goulard se mostra muito limitada.
Enfim, Pequeno Segredo tem suas boas intenções, por conta de ser uma história muito particular de David Schurmann. Mas é impossível não reparar em seus erros de roteiro e direção, transformando o longa em um melodrama burocrático. Na próxima vez, que escolham um filme por suas qualidades técnicas e narrativas, algo que não foi o caso aqui.