A crise criativa no cinema norte-americano parece se aprofundar a cada novo blockbuster. A expectativa pela surpresa, ou por histórias cativantes, não dura muito e acabamos recebendo mais produções com assuntos muito mais do que batidos. O simples anúncio na estreia da semana já entrega uma repetição nauseante. O Último Caçador de Bruxas (The Last Witch Hunter, 2015, EUA) traz o astro de filmes de ação, Vin Diesel, em uma perseguição sobrenatural contra seres malignos que se escondem entre nós, indefesos mortais. Sim, mais um exemplar para o subgênero que mistura ícones do gótico com a celeridade dos filmes de ação e aventura, mirando a turma adolescente.
Na metade da década passada, filmes como a franquia Anjos da Noite (Underworld, 2003) atraíram a atenção das jovens plateias ao utilizar referências dos mitos do terror não para gerar medo ou desconforto, mas propor aventuras baseadas nos primeiros inimigos que uma pessoa conhece quando começa a mergulhar no universo da fantasia quando criança: demônios, vampiros, zumbis, lobisomens, bruxas, entre tantos outros. O mal é – ao mesmo tempo – palpável e fantástico, nítido e obscuro, criando uma suposta nova roupagem para o tradicional embate maniqueísta. O interesse foi natural, levando a uma torrente de produções que se divide em sub-subgêneros ou sequencias sem fim na tola tentativa de surpreender. Astros dos filmes ação? Importantes figuras histórias? Personagens dos contos de fadas? Jogos de video-games badalados? Tudo vale para chamar a atenção na luta contra os monstros do universo gótico.
Blade-O Caçador de Vampiros, Residente Evil, Van Helsing, Frankenstein: Entre Anjos e Demônios, Abraham Lincoln-Caçador de Vampiros, João e Maria: Caçadores de Bruxas…. a lista é longa. A repetição das mesmas palavras em vários dos títulos em português já demonstra a falta de interesse na inovação. A qualidade desses filmes tão básicos acaba ficando nos arranjos técnicos, como direção de arte, fotografia, interpretações, etc. O mais novo membro desse clube, O Último Caçador de Bruxas, tenta se sustentar em atores respeitados para construir alguma credibilidade, infelizmente, sem muito sucesso.
O enredo: na idade-média, o guerreiro Kaulder (Vin Diesel) trava uma terrível batalha contra a rainha das bruxas que infernizam a vida dos humanos com pragas, maldições e assassinatos. Antes de, aparentemente, destrui-la, o protagonista acaba amaldiçoado pela inimiga a viver eternamente. Kaulder, então, decide dedicar sua existência a impedir que as feiticeiras tentem usar sua magia contra os seres humanos. Sua obstinação chega até a Nova York de nossos dias, onde as bruxas vivem pacificamente entre os cidadãos comuns, porém sem poder revelar seus poderes. O personagem segue como um aliado da Igreja Católica, na batalha para que tudo permaneça como está, mas uma conspiração de bruxos malignos parece querer reviver a líder suprema, assim lançando o mundo em nova onda de caos.
O elenco conta com nomes importantes como Michael Caine (Interestelar, trilogia O Cavaleiro das Trevas) e Elijah Wood (trilogia Senhor dos Anéis), nos papéis dos padres que auxiliam Kaulder em sua missão, por meio de uma sociedade secreta dentro da estrutura da Igreja. Ambos, no entanto, apresentam interpretações tímidas, arrastadas, sem nada agregar a eventual necessidade dramática que seus papeis exigem, sobretudo no caso de Wood. A grata surpresa fica por conta da atriz britânica Rose Leslie, mais famosa na televisão pela presença em séries como Downton Abbey e Game of Thrones. Leslie entrega muita simpatia para a bruxa Chloe, uma manipuladora de sonhos por quem Kaulder é obrigado a se aliar na sua missão. Atenção também para Ólafur Darri Ólafsson, cujo personagem não recebe a atenção que merece ao longo do filme. O eternamente lembrado por Velozes e Furiosos, Vin Diesel, que também co-produz o longa, não cai na tentação de construir um machão egocêntrico, como seria de se esperar para personagens do tipo, e faz um Kaulder por vezes até carismático dentro do contexto da história.
A direção é de Breck Eisner, mais lembrado pelo retumbante fracasso do megalomaníaco Sahara (2005), do que pelo relativo sucesso de A Epidemia (2010), seus dois trabalhos mais referenciais. O diretor usa e abusa dos efeitos especiais para dar a credibilidade necessária para um filme sobre magia, ambientado em plena Nova York atual. Prefere usar os apetrechos visuais para desviar a atenção dos muitos tropeços do roteiro e a narrativa fraca, que tira muito da força que os filmes que tratam de religião e sobrenatural poderiam possuir.
O Último Caçador de Bruxas é filme grandiloquente, com orçamento na casa dos US$ 80 milhões de dólares, mas que não vem correspondendo ao esperado nas bilheterias norte-americanas. O apelo juvenil parece não estar surtindo efeito e o mesmo deve acontecer no Brasil, cujos apreciadores devem se restringir aos muitos fãs de Diesel. Esperamos que o baixo resultados de produções como essa possam servir de estímulo para uma renovação criativa no grande cinema americano. O gancho para uma sequencia no final desta obra, no entanto, parece indicar que esta realidade não é pouco mais que um sonho para cinéfilos entediados.