O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos é uma produção sem vida
Era uma vez um estúdio de cinema. Ele era um dos mais poderosos do mundo e sua especialidade era fazer filmes para crianças. Um belo dia, um dos seus empregados – um louco chamado Tim Burton – decidiu fazer uma versão “diferentona” de Alice no País das Maravilhas. Sem se importar com a qualidade da obra, mas apenas com a bilheteria bilionária, o tal estúdio, que tem como mascote um rato, achou interessante dar sequência à essa ideia de trazer uma outra visão de obras clássicas e lança O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos (The Nutcracker and the Four Realms) visando a criação de uma franquia!. Este humilde crítico que vos escreve, então, se questionou: “Como raios alguém aprovou esse projeto?”.
A protagonista desta nova versão é Clara (Mackenzie Foy, de Interestelar), uma adolescente criativa que está de luto por conta da morte da mãe. Cada vez mais distante de seu pai (Matthew Macfayden), a garota recebe um presente misterioso na véspera de Natal: uma caixinha em formato de ovo, que só pode ser aberta com uma chave específica, deixada por sua mãe. Ela busca os conselhos de seu padrinho Dosselmeyer (Morgan Freeman, de Despedida em Grande Estilo) e acaba caindo no reino da peça O Quebra-Nozes e descobrrindo que sua mãe era uma rainha e está enfrentando uma guerra com o Quarto Reino, liderado por Mãe Ginger (Helen Mirren, de A Maldição da Casa Winchester).
A sinopse não é das melhores. Mas antes de adentrarmos no “roteiro” do longa, é bom falar que ele tem um design de produção muito rico. Os cenários são grandiosos e ajudam a criar o clima mágico dos reinos. Essa é a melhor parte do filme, já que a fotografia de Linus Sandgreen é bonita apenas em alguns momentos, mas narrativamente incompetente. Isto se deve ao fato de que a luz é a mesma para todas as cenas do filme, sempre contrastando entre o dourado quente e o azul gelado. Isso é uma ideia, no mínimo, besta, já que temos um filme que se passa em dois mundos diferentes. Mas isso não é pior do filme.
Roteiro de criança, direção de velho
O roteiro, assinado por Ashleigh Powell, erra em praticamente tudo que se propõe. A história nunca consegue ser interessante por conta do excessos de clichês, personagens mal construídos e, principalmente, por conta dos diálogos, todos expositivos ou bregas. Do tipo: “Sua mãe era uma inventora incrível. Mas a sua melhor invenção foi você”. A impressão dada é que houve um concurso para ver quem emulava melhor uma criança de dez anos ao escrever um roteiro e a vencedora foi Powell.
A direção de Lasse Hallstrom e Joe Johnston não ajuda muito. Explicando: Hallström foi demitido durante as filmagens e Johnston foi contratado para terminar o filme. Dá para perceber essa mudança, já que Johnston tenta salvar um material que já era muito ruim, mas que nem Stanley Kubrick conseguiria salvar. A impressão é a de que Hallström fez o filme porque precisava pagar suas dividas,
E o que dizer das atuações? Simples: todo o elenco está no piloto automático. A exceção fica por conta da jovem Mackenzie Foy, que mostra uma presença forte na tela, apesar de ser sabotada por diálogos horríveis e close ups em seus olhos. E Keira Knitghley? Passar uma hora e quarenta assistindo uma atuação afetada da moça, aliada com uma voz insuportável, faz questionar o seu talento como atriz. É um trabalho digno de Framboesa de Ouro. Já os veteranos Helen Mirren e Morgan Freeman estão completamente desconfortáveis em seus papéis.
O Quebra-Nozes e os Quatro Reinos é mais um subproduto bobo que acha que criança é imbecil. O filme não devia terminar com “E viveram felizes para sempre”. Melhor seria “Tim Burton, a culpa é sua!”.