O Quarto dos Esquecidos evidencia a inépcia de seu diretor
Se podemos aprender algo de positivo por meio de O Quarto dos Esquecidos (The Disappointments Room), é a capacidade de alguém abandonar qualquer pudor convencional ao constatar que não sabe o que está fazendo, a partir do momento em que tudo estava ao seu controle. O diretor D. J. Caruso (de xXx: Reativado, o que já diz muito…) deveria deixar a direção de cinema de lado e se dedicar a palestras motivacionais, cujo tema seria a resignação, pois colaboraria muito com os seus ouvintes e evitaria que espectadores atrás de um bom filme de terror saíssem das salas de cinemas deprimidos.
(Falando em depressão, isso já é meio frequente, conforme você pode conferir na crítica de A Maldição da Floresta, além de outros exemplares recentes, como Quando As Luzes Se Apagam)
Com uma combinação inteligente de seus elementos no primeiro ato: uma família jovem a ir morar numa casa de campo, uma mulher com um grande trauma a ser superado, um marido dedicado, um filho lindo e inocente e uma casa mal-assombrada, somando-se a uma câmera ora subjetiva, observando os passos da personagem Dana (Kate Beckinsale), ora em movimento, a fim de pontuar o ritmo dinâmico da narrativa, belas sacadas como espelhos dispostos um diante de outro e o filho conversando com um fantasma, com o clichê se desfazendo com o que ele demonstra ter no colo, tudo nos leva a crer que estamos diante de um bom filme.
De nada basta ter um bom argumento se há a evidente demonstração de que a produção da narrativa só se preocupa em instigar a curiosidade do espectador sem que o desenvolvimento se dê num ritmo crescente, de sugerir fatos, mesmo que não os demonstre, e criando soluções viáveis para o que se coloca como conflito. Há uma indecisão no desenvolvimento de Dana que percorre todo o filme: não se sabe se ela é uma mulher decidida, firme em suas colocações diante do machismo explícito do marido, ou se é confusa, atribulada pela perda da filha de três meses.
E aqui poderia se revelar como uma jogada de ambiguidade a fazer o espectador pensar se Dana está a ver as coisas ou é ilusão a partir de seus conflitos internos, porém tal ambiguidade se desfaz por meio da inabilidade do diretor de concretizar a nós o que poderia ser loucura da personagem. Mas, ao enquadrar um fantasma fora do campo de visão de Dana, se desfaz no espectador qualquer chance de aceitar a ambiguidade. Só que o filme persiste naquilo que já demonstra ser fracasso.
A história paralela da família que trancava uma filha deficiente no quarto poderia se conectar perfeitamente à trama de Dana, entretanto tudo soa forçado e injustificável. É inadmissível que haja apenas um susto eficiente no filme a partir de um animal que em nada se justifica sua presença, seja em qualquer contexto. O diretor força a mão, por isso não convence em nada.
A persistência em focar por cima uma escada em espiral soa mais como metáfora da perdição de D. J. Caruso do que a confusão de Dana. E é uma pena que se veja em tal enredo inoperante momentos estéticos tão poéticos, como a sonoplastia das goteiras dentro de casa a criar um ritmo de tensão e o uso de chaves em uma mesma porta a lembrar um ti-tac tenso.
Poderia se salvar, mas…
Se o filme não se demonstrasse tão prepotente em se achar complexo demais, a opção pela simplicidade, mesmo dentro dos clichês do gênero, poderia salvá-lo e colocá-lo na galeria de finais atordoantes. Bastava uma boa dose de jump scares, aqueles momentos em que pulamos da cadeira, explicitar o trauma de Dana, aprofundar a relação dela com a história da casa, estabelecer seu conflito mental e ter a coragem de executar o ato final sangrento.
No entanto, seria esperar demais de um diretor joga uma luz de neon em plena casa de campo num jantar injustificável entre amigos. O ato final querendo amarrar várias pontas de uma vez e desejando surpreender através através de um clímax ilógico se revela como desespero para terminar o filme, ao mesmo tempo que explicita a covardia de não ter ido além da convenção, como se o espectador fosse um sensível mimado que não aguentaria ver algo massacrante.
Com um péssimo roteiro, uma montagem confusa, atuações de dar vergonha (Kate Beckinsale está abaixo do regular que sempre foi) e um desfecho deprimente, o trabalho de D. J. Caruso em O Quarto dos Esquecidos entra no rol de filmes com boas ideias mal executadas, que, depois de assistidos, acabam no cômodo que dá o título nacional à obra.