James Cameron dita a conclusão da franquia com Exterminador do Futuro: Destino Sombrio
Em 1984, James Cameron lançou um filme de baixo orçamento que se tornaria um clássico da ação e da ficção científica e catapultaria Arnold Schwarzenegger para o estrelato, garantido uma sequência com orçamento bem maior e que se tornaria um marco no cinema e na cultura pop. O Exterminador do futuro 2 foi lançado em 1991, com inovações tecnológicas nunca vistas e cenas de ação memoráveis. Os direitos da franquia então saíram das mãos de Cameron e foram para os produtores, que lançaram sequências em que faltavam a alma dos originais. O Exterminador do futuro: Destino Sombrio é o sexto, mas novo terceiro filme da franquia, realizado graças à volta dos direitos para James Cameron, que assina como co-produtor e co-escritor da história.
O filme conta com seis roteiristas e duzentas vezes o orçamento da primeira produção, e a direção de Tim Miller (de Deadpool). Em Hollywood,se usam os termos “Soft reboot” e “Hard reboot”. Um “hard reboot” é quando o passado de uma franquia que será refeita é ignorado, como foi feito com o Robocop de 2014. Um “soft reboot” mantém o cânone do que aconteceu, mas cria maneiras de se distanciar o suficiente do material original para vender como um produto novo.
Star Trek (2009),fez o “soft” ao estabelecer uma linha temporal nova, que preservava o cânone de tudo que havia acontecido, mas dava total liberdade de fazer o que queria com os personagens e eventos. Star Wars: o Despertar da Força fez isso mantendo alguns personagens originais da franquia mas criando tudo novo: o Império virou a Nova Ordem, o Darth Vader virou o Kylo Ren e assim por diante. Tudo parece familiar, mas é novo e atualizado com personagens para uma geração nova.
Dane-se o destino
O Exterminador do futuro: Destino sombrio é uma mistura de dois tipos de Soft Reboot: ele cria uma nova linha temporal e também passa o bastão de uma geração para a próxima, respeitando os fãs mas buscando cativar um público novo. O futuro que gerou o T-800 e o T-1000 já não existe mais, por conta das ações do segundo filme. Existe outro futuro, que por acaso é bem parecido com aquele. Os exterminadores “série T” da Cyberdine Systems viraram os Rev 6 e Rev 9, a Skynet agora se chama Legion. Kyle Reese agora é uma loira alta,turbinada com implantes chamada Grace e John Connor se tornou uma mexicana baixinha chamada Dani Reyes.
O filme abre com um prólogo,que ocorre logo após o final do segundo filme, usando a melhor tecnologia de rejuvenescimento digital que já vi. É tão realista que parece até uma cena deletada do segundo filme. Em seguida, o início da história se passa no México, na fronteira com o Texas, onde conhecemos Dani Ramos (Natalia Reyes) e sua vida familiar, saindo para ir trabalhar em uma fábrica de automóveis. A relação de interdependência de homem e máquina dos dois primeiros filmes continua a ser explorada nesse, com a Dani e seu irmão correndo risco de perderem os empregos pela automação da fábrica.
Chega do futuro a Grace (Mackenzie Davis), uma soldada com implantes cibernéticos, para proteger a Dani. Pouco depois aparece o REV-9 (Gabriel Luna), um exterminador bem parecido com a proposta de Exterminador do futuro 3: A Rebelião das Máquinas, o primeiro terceiro filme. Aparentemente, na linha temporal do novo futuro, a tecnologia de viagem no tempo continua a mesma, tem que viajar pelado e só pode mandar uma pessoa ou máquina coberta por pele/metal líquido por vez. Não que o filme aborde isso, mas o espectador tem que saber um pouco dos outros filmes e não fazer muitas perguntas. Interessante notar que nesse novo futuro perderam o ajuste fino da calibração da altura na máquina do tempo, ambos os viajantes do tempo despencam de alturas consideráveis nessa versão.
Linda, como sentimos sua falta!
Exterminadores sendo explodidos e se regenerando, cenas de perseguição, lutas, tiroteios e mortes depois, finalmente chegamos no que destaca essa obra das três últimas tentativas: o retorno de Linda Hamilton como Sarah Connor, dessa vez 30 anos mais velha, mais amarga e treinada. Sarah se tornou um exterminador de exterminadores, com a ajuda de mensagens misteriosas de texto com localizações de onde haverá um deslocamento temporal, ou seja, de onde aparecerá um robô homicida do futuro.
Quando Sarah Connor finalmente aparece,é épico (aquela cena do trailer mesmo) e traz o gás para a história não ficar tão repetitiva, já que a personagem é a única com a qual temos alguma conexão ainda nessa franquia. Grace, apesar de ciborgue, não é invencível, ela sobreaquece e precisa de remédios para se manter funcional, trazendo uma dinâmica interessante para as outras personagens. O T-800 dessa versão mora numa casa no meio do nada e se chama Carl. Não dá pra falar mais sem spoilers.
De alguma forma,os personagens parecem ter menos a perder. A premissa é a mesma, mas não nos interessamos o suficiente pelas novas caras para torcer que sobrevivam, a linha temporal é outra e a Sarah é uma sombra da pessoa que já foi. A esperança e sensação de urgência dos outros filmes não tem o mesmo efeito depois do evento do prólogo. Se o holocausto é inevitável, pra que se importar.
A estrutura do roteiro continua a fórmula testada e aprovada: sempre em movimento, tentando ficar vivo e antecipando o inimigo. É um filme dinâmico, mas infelizmente tem muita computação gráfica e ação difícil de acompanhar. Um momento lembra o filme Esquadrão classe A, e tem uma cena inteira que se passa embaixo da água, durante a noite, e só vemos o que acontece por conta das luzes do farol de um carro.
Sarah Connor foi uma das influências mais importantes de mulheres fortes no cinema moderno. O filme sabe disso e parece se dar um tapinha nas costas, querendo se mostrar com empatia em relação à agenda politicamente correta e isso prejudica o filme. Isso e as propagandas da Cerveja Corona. Tanto que o roteiro precisa se defender ao explicar porque tem tantas armas no filme, ou que uma mulher trabalhando como carcereira de imigrantes só está fazendo seu trabalho.
O novo John Connor pode ser uma mulher mexicana, mas Dani não é uma personagem complexa ou bem escrita, só é uma mulher latina bonita que é importante para o futuro. Grace usa roupas masculinas e cabelo curto por ser soldada, mas sua visão de mundo como soldada não é usada de uma forma mais interessante. Qualquer tentativa de ser mais que um blockbuster de ação tentando ganhar dinheiro é puramente cosmético.
Por John, que termine aqui
Exterminador do Fututo: Destino Sombrio é um final razoável para a trilogia criada por Cameron. O filme tem a melhor trilha dos últimos filmes, contando com uma versão em violão do tema principal e influências de dubstep para as cenas de ação. Não há nada de novo, mas também nada ruim ou decepcionante. É talvez o melhor terceiro filme que poderia ter sido feito. Mas isso só demonstra que a franquia acabou, não existe mais o que fazer sem cair na repetição.
A versão original de Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final terminava com John e Sarah Connor, 30 anos no futuro. Sarah,já velhinha,sentada em um banco,assistindo sua neta brincar com John em um parquinho. Ela diz que cada dia é um presente, e que há esperança no futuro, porque se uma máquina pode aprender o valor da vida humana, talvez nós também podemos. A cena foi cortada porque a maquiagem de envelhecimento não ficou boa. Agora o futuro de John Connor morreu. Ele não voltará.