Se você gosta de filmes de terror, provavelmente terá aquela desconfiança inquieta ao entrar em um cinema para ver algo novo. Quem acompanha e se interessa por este que é um dos gêneros mais explorados do cinema, sabe que há quase zero de inovação e o que aparece em grande quantidade é aquele típico “mais do mesmo”. Até porque hoje em dia o público quer mais é levar sustos e se divertir sem se aprofundar. Por isso, grande parte dos espectadores nas salas é predominantemente jovem, o que torna a experiência no cinema um desafio de paciência ao ouvir os gritos exagerados que ecoam pelas salas, seguido de gargalhadas desmedidas. Triste para este tipo de cinema que existe desde os primórdios da sétima arte e tem tantos exemplos artisticamente exuberantes.
Independente se há exemplos atuais bons ou ruins, o gênero mantém seu espaço e continua firme e forte movimentando bem os cofres das produtoras. Assim sendo, novos filmes de terror são lançados com frequência. Aí, chegamos a este O Espelho (Oculus), dirigido por um diretor chamado Mike Flanagan que já vem se especializando na área. Fez recentemente em 2011 Absentia, filme que participou de alguns festivais e teve até interessante repercussão crítica. Com uma credencial sendo moldada e evidente predileção pelo horror, Flanagan investe em O Espelho pela busca de maturidade e, quem sabe, sonhar em ser uma referencia no futuro.
Antes de jogar comentários positivos ou negativos sobre o filme, vamos avançar sobre a história. Tim e Kaylie são dois irmãos traumatizados pela morte sem explicação dos pais, ocorrida quando eram bem jovens. Esta tragédia tem grande influencia em Tim que, após 11 anos internado em um hospital psiquiátrico, é recepcionado por sua irmã Kaylie que tem um plano para provar que o espelho antigo, que eles possuíam em casa, é o responsável pelo assassinato dos pais e vem sendo há séculos determinante por outras mortes também. Assim, resta para os irmãos enfrentar o espelho no estilo “mano a mano” e comprovar através de filmagens que o objeto é sobrenatural.
Aí você pergunta: mais uma história de terror que envolve um objeto que esconde forças ocultas ou demoníacas? É isso? A resposta é sim. Os espelhos já devem hoje dividir presença com gatos pretos em participação nos filmes do gênero. As cenas em que um personagem se olha no espelho e vê o reflexo de algo que não está lá, já deve ter atingido 90% dos filmes com temática sobrenatural. Portanto, fica difícil dar um crédito inicial para O Espelho, ou encará-lo com seriedade, mas tenha calma que o resultado pode ser melhor do que você possa imaginar.
Tentando seguir a linha do recente Invocação do Mal, um terror acima da média atual dirigido por James Wan (Jogos Mortais), que é mais preocupado com a tensão e menos com os sustos previsíveis, O Espelho começa mal e traz uma sensação inicial de que tudo irá descambar para a arapuca dos clichês básicos. O diretor tem a pressa de um coelho e corre contra o tempo despejando freneticamente diálogos e informações na tentativa de ambientar o espectador com a motivação da dupla principal, que até tem um certo carisma. Em contrapartida os personagens secundários entregam o amadorismo da produção em atuações discutíveis. Ignorando o erro do diretor de querer explicar demais em pouco tempo, surpreendentemente a trama acha um equilíbrio entre tensão e sustos, após seus 30 minutos iniciais e, felizmente, a tensão toma corpo e melhora o nível, apesar do desfecho esperado e o resultado final insuficiente.
Desconsiderando algumas falhas de roteiro também, a produção em geral é modesta e Flanagan tem na montagem o seu acerto maior. A trama segue intercalando entre passado e presente, em um mesmo ambiente, e às vezes os períodos se confundem, o que é real pode não ser. A mistura de épocas é até ousada e bem regulada, tornando-se o mais atraente trunfo do diretor no filme, mas como disse antes, para o resultado final é pouco.
Concluindo, O Espelho tem alguns lampejos curiosos, mas está longe ser algo memorável ou inovador. Se você é fã do gênero e decidir encará-lo nos cinemas, o conselho é ir com expectativa baixa e assim, quem sabe, seu programa possa render bons momentos.
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