A lembrança do mestre do suspense Alfred Hitchcock em As Duas Faces de Janeiro, dirigido pelo iraniano Hossein Amini, pode ser notada quase de ponta a ponta. Não à toa, o longa é baseado em um romance de Patricia Highsmith, autora de duas ou mais conhecidas adaptações ao cinema. Uma delas é O Talentoso Ripley , longa de relativo sucesso comercial que tinha Matt Damon e Jude Law no elenco, e outra teve a direção de Hitchcock em 1951, Pacto Sinistro (Strangers on a Train). Olha o mestre aí!
Hossein Amini é na verdade pouco conhecido e um debutante na direção, mas é um roteirista que pode ser levado a sério. Tem um currículo interessante e uma excelente referência… o argumento de Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn. Assim, como acontece com boa parte dos roteiristas, o momento de Amini assumir o posto na direção de um longa, e ficar mais em evidência, chegou. Só resta saber se deu certo.
Na história, Chester Macfarland (Viggo Mortensen) é um consultor de investimentos e Colette (Kirsten Dunst) sua jovem esposa. Os dois formam um casal americano em típica visita às ruínas históricas de Atenas. Em uma das andanças turísticas da dupla, encontram um guia (Oscar Isaac) misterioso que conquista o casal com seu charme e bom gosto. Começam a ficar mais íntimos, porém a coisa muda de figura quando Chester tem suas férias comprometidas ao vir à tona um de seus esquemas de investimento ilícito, através de um representante de algumas das empresas que ficaram no prejuízo. Tudo piora quando este representante é morto acidentalmente por ele e Rydal se torna cúmplice. Aí a trama se desenrola…
A narrativa é linear e easy going (termo mais descolado!) fazendo com que a história seja um suspense leve e sua duração de uma hora e meia passe rápido. Percebe-se nos caminhos da trama um misto da linha sedutora dos personagens de O Talentoso Ripley com o suspense intrigante de Pacto Sinistro. Ao que parece, a linha de trabalho da escritora está sendo preservada no filme de Amini, comparando com as narrativas destes dois outros citados.
O clima noir que perambula pela duração do longa é competente (Mortensen tem um “quê” de Humphrey Bogart interessante) e a atmosfera anos 50/60 é bem representada pela bela direção de arte. Viggo Mortensen e Kirsten Dunst vão bem nos seus papéis (nada excepcional), mas quem faz valer mais a pena acompanhar o desenvolvimentos dos personagens é Oscar Isaac (Drive e Inside Llewyn Davis). Ele imprime um ritmo misterioso e sedutor ao seu Rydal e rouba as cenas em que aparece. Uma delas é quando encontra Chester mais ao final da trama e, sem diálogo, trocam olhares raivosos em aproximadamente 2 minutos de silencio, sentados à mesa de jantar.
O que incomoda e faz o filme possivelmente não ser daqueles mais discutidos após os créditos finais é uma certa falta de ambição do diretor. A trama até que se desenvolve bem, mas não surpreende como poderia e não convence plenamente. Tem um final apenas razoável, quando o espectador já está naquela expectativa inconsciente de um twist típico de filmes noir, ou pelo menos uma saída à altura da tensão bem desenvolvida, sem medo de expor a influência Hitchcockiana. O cuidado visual e as boas atuações careciam de algo mais substancial e marcante. Porém, devemos ser justos. Como primeira investida na direção, Amini esteve bem melhor do que muita gente e isso tem que ser valorizado.
Há mais pontos positivos do que negativos, sem dúvida, e a experiência nos cinemas pode agradar, mas não vai passar de um simples bom filme. Mesmo assim, se estiver procurando um bom passatempo nos cinemas, melhor do que a média pelo menos, você vai encontrar em As Duas Faces de Janeiro. Só não espere mais do que isso…
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