Estamos agora em meados de abril, e posso afirmar sem medo e surpreso: Não Olhe Para trás (Danny Collins) é até agora, um dos melhores filmes do ano. Há menos de um mês, acompanhei outra produção estrelada pelo monstro sagrado Al Pacino, o irregular O Último Ato, que trazia o astro em um papel triste e melancólico, longe do tipo de personagem que Pacino sempre se saiu melhor em sua carreira, os tipos falastrões, impulsivos e altamente energéticos. Em Não Olhe Para Trás, baseado em uma história mais ou menos verídica (conforme o próprio filme anuncia), Pacino interpreta Danny Collins, um astro do Rock que há mais de quatro décadas continua colhendo ou louros da fama.
No entanto, Danny está entregue à bebiba e às drogas, e vive frustrado por não compor uma música inédita há décadas, e sobreviver de canções que ele não aguenta mais cantar em suas apresentações. Em seu aniversário, Frank (o veterano Christopher Plummer), seu agente e melhor amigo, presenteia Danny com uma carta que teria sido enviada por John Lennon para o próprio Danny, mais de 40 anos trás, mas que nunca chegou às mãos do cantor. Agora, abalado e ao mesmo tempo motivado pela carta e seu significado, Danny procura uma tardia oportunidade de finalmente encontrar a paz, e entrar em contato com o filho que nunca conheceu.
Escrito e dirigido com enorme simpatia por Dan Fogelman (roteirista de Amor a Toda Prova e Última Viagem a Vegas, e que aqui faz sua estréia como diretor), Não Olhe Para Trás transborda o carisma de Pacino, graças à sua história comovente, que apesar de clichê, transmite suas mensagens com honestidade. O protagonista, apesar de embarcar em uma jornada de redenção, não passa por transformações improváveis apenas para arredondar o roteiro do filme. Fogelman trabalha seu personagem central com veracidade e delicadeza, e ainda o entrosa de maneira fantástica com seu elenco de apoio, que ainda conta com Annette Bening, Jennifer Garner e Bobby Cannavale (Chef), ótimo como o filho do protagonista. As sequências de interação entre Pacino e Cannavale rendem os momentos mais emocionantes do filme, que é todo pontuado por diálogos inspiradíssimos. Vale ressaltar também a trilha sonora simplesmente matadora do filme, toda permeada por hits do mito John Lennon.
Não Olhe Para Trás me surpreendeu. Trata-se de uma obra verdadeiramente comovente e inspiradora, que cativa o espectador sem ser pedante ou artificial. É claro que ter Al Pacino e John Lennon como protagonistas sempre ajuda.