Los Territorios e as viagens pela História contemporânea
Los Territorios (idem), co-produção entre Brasil e Argentina, guia-nos pelas viagens do cineasta Iván Granovsky ao redor do mundo, atuando como correspondente de guerra em regiões problemáticas. Além do registro, existe a análise dos conflitos geopolíticos que presencia.
Acompanhamos o protagonista autor (o que será completamente justificado logo adiante) a passar por eventos e momentos importantíssimos de cada país. Como por exemplo, no Brasil, durante o processo de manifestações pró e contra Impeachment de Dilma Rousseff, pelos conflitos de independência que envolvem o País Basco, a visita à França após o atentado ao jornal Charlie Hebdo, aos conflitos na Síria e Palestina (para mim, o arco mais interessante e belo da trama), entre tantas outras experiências e histórias.
(Confira também a resenha do livro Documentário Brasileiro: 100 Filmes Essenciais)
Mesmo não se aprofundando nos eventos de todos os países que visita, percebemos como o ofício é importante para Granovsky. Por mais que a paixão pelo cinema seja imensa, é evidente o interesse pelos conflitos mundiais. Desde muito cedo, Granovsky aprendeu sobre capitais e aeroportos decorando cada um dos nomes com a ajuda do pai, um renomado jornalista argentino, como é visto logo no começo da filme. A vontade de descobrir e conhecer melhor o mundo fica cada vez mais perceptível, principalmente quando descobre que o pai nunca presenciou uma guerra diretamente no front, mas apenas em relações diplomáticas.
Um documentário com gosto de ficção
E é esse o gostinho especial deixado pelo longa Los Territorios. O protagonista, Iván Granovsky, é também o próprio realizador do filme. Sim, caro leitor, estamos falando exatamente de um documentário. Entretanto, é interessante notar como Granovsky cria situações que nos levam a questionar, em muitos momentos, a realidade que presenciamos. Cria-se a dúvida sobre a veracidade dos fatos, como também a relação com uma narrativa ficcional. No começo do filme, por exemplo, o cineasta revela um dos seus fracassos como diretor, mostrando um Curdistão Iraquiano que, mapeado o território natural, logo se revela Mendoza, uma província Argentina. Ou seja, a partir disso, tudo pode ser questionado.
Você deve pensar que a ambivalência ou incerteza na consistência da verdade contada pelos personagens/atores (a aparição de Lula, Evo Morales e tantas outras figuras históricas atestam isso) são elementos que prejudicam a credibilidade. No entanto, é claramente esse questionamento narrativo que nos permite desfrutar e atestar a verossimilhança daquilo que nos é apresentado. Essa jogada do longa de Granovsky, em muitos momentos, remete a Z (1969), de Costa-Gavras.
Com uma narração mergulhada em primeira pessoa, o protagonista também procura e adentra aspectos pessoais de sua vida. As viagens com propósito político acabam também por transgredir e auxiliar uma jornada por autoconhecimento. O documentário apresenta, além de uma estrutura narrativa com nuances e conteúdos ficcionais, uma estética também ficcional, onde a câmera raramente é enunciada. A presença constante de elementos pessoais da vida de Granovsky, inclusive, articula elementos narrativos para fazer o espectador refletir sobre como é fazer um filme de forma independente e todos os problemas e soluções que derivam de uma situação similar.
As conexões entre os países e os arcos políticos apresentandos durante todas as viagens do diretor são elegantes e esteticamente eficazes. Contudo, a armadilha está no ritmo do filme. Uma incerta lentidão acaba por atrapalhar as transições entre uma viagem e outra, como também o excessivo uso de inserções de imagens da tela do celular (em diálogos com a mãe e pai), o que torna a experiência completamente entediante.
Assim, Los Territorios é uma viagem geopolítica interessante por países conhecidos e desconhecidos, por situações próximas e distantes, mas com o espírito de busca pelo conhecimento pessoal e profissional do realizador Iván Granovsky e de seus espectadores.